Cultura

TRANCOSO: FOTOGRAFIAS de JOÃO FARKAS na PAULO DARZÉ GALERIA , 14


A relação de João Farkas com a Bahia vem de longas datas.
CP , Salvador | 11/04/2016 às 12:40
João Farkas
Foto:
A relação de João Farkas com Trancoso vem de longas datas e isto pode ser visto nas 27 fotografias (sendo 4 impressas em alumínio de alta permanência, e as restantes em jato de tinta sobre papel de algodão, com qualidade museográfica,  nas dimensões de 60 x 90 cm), a partir do dia 14 de abril, até 14 de maio, na Paulo Darzé Galeria de Arte, ao nos defrontarmos em suas imagens com a construção de casinhas de barro, a subsistência pela pesca, o lazer por meio da natureza, e um cenário da vida de um local pacato, através de seu povo, da sua paisagem e do seu cotidiano em imagens da vila de Trancoso e arredores entre 1977 e 1993.  

Quando da abertura da mostra estará sendo lançado nacionalmente o livro “Trancoso”, pela Editora Cobogó, com 128 páginas, projeto gráfico de Kiko Farkas, textos de Walter Firmo e Antônio Risério, e que contou com o apoio editorial
da Paulo Darzé Galeria de Arte. 

Textos

Antonio Risério, em longo texto no livro, onde analisa antropologicamente e historicamente a região, inicia
dizendo: “As fotos de João Farkas me tocam assim, simultaneamente, em três planos: o estético (lembrando-me uma observação de Victor Hugo em Os Trabalhadores do Mar: à beleza basta ser bela para fazer bem), o histórico e o antropológico, sem nunca eclipsar o presente. Deixo a leitura do plano estético para filósofos, artistas e críticos do fazer artístico. E me concentro no Brasil profundo da zona cabralina de nossa fachada atlântica, hoje tantas vezes
transformado e desfigurado. Não para analisá-lo, obviamente, que isto aqui não é um estudo ou ensaio. Mas para tocar em alguns pontos memoriais e presenciais que as belas fotos de Farkas avivam”.

Já Walter Firmo, um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, também com um texto no livro “Trancoso”, escreve: “O brilho de Farkas é puro estado sólido do espírito lírico, direito clássico na maneira de olhar o valor das coisas dimensionando o simples e transformando o quase nada em tudo, isto porque o toque mágico da lira do povo - preciso e paulatino - mostra o afago da necessidade de se ver nenhum momento supérfluo, porém, intimista e revelador”.


João
Farkas 


A relação de João Farkas com a Bahia vem de longas datas. “Tem aí uma história boa também, um parentesco indireto com Jorge Amado, porque meu tio Joelson, muito próximo a nós (casado com a irmã de minha mãe,
Fanny) era irmão de Jorge e James. E a Bahia sempre foi uma coisa muito presente em nossa família. Meu pai, Thomas Farkas, tinha um fascínio brutal pela Bahia. Perguntado certa vez quem ele gostaria de ser se não fosse o Thomaz, respondeu: Batatinha. Vim muitas vezes a Salvador com ele e me hospedei algumas vezes na casa do Rio Vermelho, tendo sempre a riqueza cultural baiana muito presente”.


“Com Trancoso a coisa aconteceu na época da contracultura, após a ressaca da militância política. Foi uma
descoberta do paraíso. E minha ligação foi imediata. Pensei em morar lá, comprei terreno, fiz casa e inúmeros amigos. Mas percebi que se morasse lá não faria o registro daquilo tudo que me parecia tão frágil e tão preciso. Aquele equilíbrio de séculos entre o homem e seu ambiente que nós mesmos os forasteiros acabaríamos alterando. Os fotógrafos que estavam por lá tinham as lentes mofadas e os filmes derretidos pelo calor. Era impossível trabalhar morando lá. Então eu virei um cigano que vinha sempre que possível e fotografava sistematicamente tudo: o trabalho, as festas, as casas, as pessoas. Fui aceito como uma pessoa local. Fotografava livremente”. 


“Então quando começaram a sugerir que eu fizesse exposição deste material e livro eu pensei que os primeiros que
deveriam ver este material e poder usufruir dele seria a própria comunidade. Daí nasceu o projeto de um Memorial do Povo, da Cultura e da Paisagem de Trancoso. Um pequeno museu que inauguramos agora em março de 2016. Foram 30 obras doadas que estão expostas provisoriamente no espaço da comunidade, no centro de Trancoso. Esta foi minha doação a eles. Doei também o uso de minhas imagens da vila para usos culturais. Uma das sensações mais gratificantes de minha vida foi ver o pessoal de Trancoso curtindo a exposição, reconhecendo amigos e parentes, discutindo as fotografias e a forma de vida de então. Maravilhoso”.

“Trazer isto a Salvador é outra missão, que o Paulo Darzé me ajuda a cumprir. A gente tem a sensação que a Bahia tem tantas coisas maravilhosas: a chapada, Itacaré, a costa do coco, do dendê, o recôncavo, a Baía de Camamu, é tanta coisa, tanta riqueza, que a região de Trancoso é mais usufruída pelos ‘sudestinos’ como diz Risério ou pelos franceses, italianos, holandeses e americanos do que pelos próprios baianos. É preciso incluir
Trancoso na geografia dos soteropolitanos”.


A Paulo Darzé Galeria de Arte se localiza na Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória Salvador Bahia
Tel.(71) 3267.0930 (71) 9918.6205 – www.paulodarzegaleria.com.br – paulodarze@terra.com.br), e a exposição
está aberta ao público e segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábado das 9 às
13 horas.