Cultura

Musical sobre Chico Buarque cancelado após ator protestar contra Dilma

Houve reação da plateia gritando "não vai ter golpe"
GLOBO , BH | 20/03/2016 às 15:24
Tumulto na apresentação do musical em BH
Foto: DIV
RIO - A sessão do musical "Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos" na noite de sábado, em Belo Horizonte, terminou em confusão. O público que lotava o teatro Sesc Palladium, no centro da capital mineira, não gostou de um improviso feito pelo ator e diretor Cláudio Botelho (que divide a direção com Charles Möeller) em cena, e o espetáculo foi interrompido e cancelado.

De acordo com a reportagem do jornal "Estado de Minas", aproximadamente na metade do espetáculo, o personagem de Botelho diz "era a noite do último capítulo da novela das oito", como parte do roteiro. E acrescentou, como um "caco": "Era também a noite em que um ex-presidente ladrão foi preso". Botelho citou ainda "uma presidente ladra".

Parte do público reagiu com vaias e gritos de "não vai ter golpe!" e "Viva, Chico!". Chico Buarque, inspirador do musical, como se sabe, é apoiador do governo do PT. Botelho, nascido em Minas Gerais, então teria respondido: “Ah, não vai ter golpe, então vamos continuar o espetáculo e depois vamos ver se vai ou não ter golpe”.


Em áudio do ator nos bastidores do Sesc Palladium, Claudio Botelho disse: "O artista no palco é um rei! Não pode ser peitado. Não pode ser interrompido por um 'nego', por um filho da puta!". Ainda no áudio, em discussão com a atriz Soraya Ravenle, o ator compararia o episódio da noite deste sábado com a Ditadura Militar. "Em 68, os militares pararam 'Roda viva'. Hoje, os petistas pararam 'Roda viva'!".

Ainda de acordo com o jornal "Estado de Minas", a polícia foi chamada pela produção do espetáculo, sob a justificativa de que o protagonista se sentia "coagido em seu camarim" e temia ser "agredido fisicamente" caso tentasse deixá-lo. Foram deslocadas três viaturas para a porta do teatro, às 22h30m.

Segundo porta-vozes de Chico Buarque, Botelho ligou para o empresário do compositor e explicou que já havia feito o que chamou de "brincadeira" em outra cidades, e que foi a primeira vez que teve essa reação. Ainda segundo seus porta-vozes, Chico Buarque reagiu com "espanto e desagrado" à postura de Botelho.

Parte do público tentou pedir reembolso do valor pago nos ingressos, que custavam entre R$ 25 e R$ 100. A direção do Sesc confirmou que o valor será restituído a todos que compareceram ao espetáculo. Havia uma nova sessão prevista para o Sesc Palladium neste domingo, mas ela também foi cancelada.

Pelo Facebook, a direção do Sesc Palladium se manifestou sobre o ocorrido:

"Esclarecemos que o Sesc em Minas, a Pólobh e demais instituições envolvidas são apartidárias. Compreendendo o momento pelo qual o país passa atualmente e primando pela segurança de todos, a sessão prevista para este domingo (20/03) está cancelada. Os valores pagos pelos ingressos serão integralmente devolvidos".

Procurado pelo GLOBO, Claudio Botelho não foi localizado. Após a confusão, o ator e diretor apagou seu perfil no Facebok.

SOBRE O MUSICAL

O musical apresenta mais de 50 canções de Chico Buarque. Após assinarem versões para clássicos como “Suburbano coração” (2002) e a própria “Ópera do malandro” (2003), Möeller e Botelho imaginaram uma saga diferente, guiada por uma trupe mambembe que circula pelo país e se vale das canções do compositor para narrar histórias de relacionamentos afetivos e artísticos entre seus integrantes. Um deles, por exemplo, é o diretor da companhia, vivido por Botelho.

SOBRE CLAUDIO BOTELHO

É impossível contar a história dos musicais no Brasil sem ter no elenco principal o duo de realizadores Charles Möeller e Claudio Botelho, responsável pelas versões nacionais de grandes sucessos da Broadway e por criações originais. A dupla conseguiu se transformar numa grife: quem vai a um de seus espetáculos já espera um alto grau de sofisticação. A primeira produção em que os dois trabalharam foi “Hello, Gershwin”, há 25 anos, com direção de Marco Nanini.

O duo Möeller & Botelho tomaria forma alguns anos depois, em “As malvadas”, com o primeiro cuidando de texto e direção, e o segundo, da direção musical. Desde então fizeram 37 musicais e colecionaram prêmios e sucessos de público, como “7 — O musical”, “Avenida Q”, “A noviça rebelde”, “Todas as canções de Chico Buarque em 90 minutos” e “Beatles num céu de diamantes”. Em 2015, chegaram a ter quatro espetáculos em cartaz simultaneamente.