Detalhes ainda inéditos do autor Adonias Filho estão na biografia escrita pela jornalista Ludmila Bertié que será lançada no dia 11 de março, às 19h, na Livraria Cultura do Salvador Shopping. Ludmila, que é sobrinha-neta do biografado, escreveu a obra com base em pesquisas, histórias contadas pela família, relatos de amigos e colegas de Adonias, levantando um amplo material sobre a obra e a vida desse escritor sul baiano.

Editado pela Solisluna, o livro chega em comemoração ao centenário de nascimento do escritor. Autor de mais de 15 livros, membro da Academia Brasileira de Letras, Adonias imortalizou o chão de cacau do sul da Bahia em romances como “Memórias de Lázaro” e “Corpo Vivo”.  

Na biografia, Ludmila apresenta de forma detalhada o percurso feito por Adonias Filho desde o seu nascimento, na fazenda São João, município de Itajuípe, passando pela difícil decisão de ser escritor, a estreia na literatura, o estilo literário introspectivo que lhe é tão característico, a influência que teve na vida política nacional, ocupando cargos importantes na área cultural do país e ajudando, inclusive, muitos amigos e colegas a se livrarem dos efeitos da ditadura. Ludmila aborda também a intimidade do escritor, porém sem excessos. Trata com sutileza e elegância de relações amorosas do biografado e do alcoolismo enfrentado pelo seu filho caçula. Definitivamente, não é um livro para os que estão atrás de fofocas pitorescas. 

Adonias Filho sempre foi reservado. Não era chegado a entrevistas nem a eventos. Gostava mesmo era de reunir os amigos em seu apartamento, no Rio de Janeiro.  Outras características do escritor eram a determinação e o perfeccionismo. Nascido numa fazenda de cacau, em 1915, época dos grandes coronéis, o menino Adonias cresceu ouvindo as narrativas da saga cacaueira, a ambição, a luta pelo poder, pela posse de terras. Desde aí, ele já demonstra sua vocação. Mas para que a vocação se concretizasse foi preciso, antes, enfrentar o pai, o coronel Adonias Aguiar. Dono de 12 fazendas, o coronel queria que seu filho fosse médico ou advogado. E o filho pela primeira vez enfrentou o pai, saiu de casa e sozinho foi morar no Rio de Janeiro, centro cultural do país.

No Rio, o determinado Adonias se preparou para ser escritor. Leu centenas de livros dos mais variados autores. E assim, escreveu seu primeiro romance, o qual após escrito e aprovado pelos amigos, foi rasgado pelo autor. Perfeccionista que era, ele não ficou satisfeito com o resultado. Passou então dez anos para então publicar “Corpo Vivo”, o livro que fora rasgado e escrito novamente. 

Sua escrita está arraigada à sua terra de origem, o sul da Bahia. Daí justifica-se o título da biografia. Porém o interesse de Adonias Filho não era propriamente contar histórias sobre o sul da Bahia, como bem fazia seu conterrâneo e amigo Jorge Amado. O autor tinha como foco o ser humano na sua busca pelo sentido da vida.  Um tanto contraditório é a dualidade entre essa sua escrita profunda, com mundos violentos e trágicos, e o temperamento do escritor, calmo e sereno. Muitos questionavam como de um autor tão tranquilo seria possível extrair universos tão violentos…

Adonias Filho era conhecido pela sua ética. Homem sério, correto, recusava a dar carona à nora no carro do governo que ia buscá-lo todos os dias para levá-lo ao Conselho Federal de Cultura, do qual era presidente. Dizia ele: “meu nome é que não vai sair nos jornais porque minha família estava usando carro oficial. Vá de táxi!”.

Anti-comunista por formação e princípios (ele nunca acreditou que o comunismo funcionasse na prática), Adonias Filho apoiou o golpe de 1964, que segundo muitos, teria sido na verdade um contra-golpe frente a articulação dos comunistas ao poder. Mas Adonias Filho não imaginava que o regime militar culminaria em censuras e torturas. Nessa época, aproveitou-se do seu prestígio com os “homens de farda” para tirar muita gente da cadeia. Assim aconteceu com Dias Gomes, James Amado e o próprio Jorge Amado, entre outros. 

Segundo Ludmila Bertié, “Adonias Filho: a força da terra” é um importante passo para que a literatura de Adonias não seja esquecida nos círculos literários. “É uma pena que um escritor que já teve a obra comparada com a de grandes nomes mundiais, como William Faulkner e Dostóievski, seja tão pouco conhecido por aqui. Espero que essa biografia ajude a trazer de volta o nome do escritor Adonias Filho”, explica Ludmila.   

Sobre a autora:

Jornalista baiana, sobrinha-neta de Adonias Filho, Ludmila Bertié cresceu ouvindo histórias sobre o escritor, mas só foi conhecer, de fato, os seus livros quando cursava faculdade de jornalismo. A paixão pela obra adoniana resultou num trabalho de conclusão de curso universitário, o qual, anos mais tarde, transformou-se em biografia. 

A escritora trabalhou em projetos de Comunicação do governo de Angola, morando dois anos em Luanda. No Brasil, foi apresentadora, editora-chefe, chefe de reportagem e repórter nas Redes Bandeirantes e Record de Televisão. Com quase vinte anos de jornalismo, Ludmila voltou recentemente de Londres, onde fez curso de moda no London College Fashion da University of the Arts London. Atualmente, se divide entre o virgulina.com.br, um site voltado para mulheres de 40 anos, e a Bem Dita, empresa de comunicação que inova no mercado baiano trazendo uma abordagem personalizada do cliente e oferecendo, entre outros serviços, treinamentos para falar em TV, Rádio, mídia impressa, redes sociais e público em geral. Na Bem Dita, Ludmila conta com a parceria de duas experientes jornalistas, Renata Vidal e Christina Miranda. Já o site Virgulina é um trabalho feito em conjunto com a jornalista carioca Mônica Bernardes. 

Serviço​: 

Lançamento da Biografia: Adonias Filho: a força da terra 

Período: 11 de março de 2016

Local: Livraria Cultura Salvador Shopping

Horário: 19h