Cultura

O Papai Noel do Natal e a barriga: querida e eterna, por OTTO FREITAS

Arrogante e poderosa, ela chega sempre antes, em qualquer lugar, abrindo caminho.
Otto Freitas , Salvador | 13/12/2015 às 18:18
O alemão Siegfried Meciejewski, de 68 anos, é o Papai Noel do Salvador Shopping
Foto: A TARDE
Aquela gordura que se acumula na região abdominal, também conhecida como barriga - ou circunferência abdominal, como dizem os médicos - já foi assunto de debate e seu tamanho controlado por lei, na Europa do século XVIII. Naquele tempo, filósofos e ensaistas chegavam a discutir sobre o significado filosófico da barriga, enquanto o poder público estabelecia limites para a obesidade e cobrava multas do gordo barrigudo que excedesse as medidas. A velha pança (alô, alô, seu Chacrinha!) representava luxo, riqueza e ociosidade. 

Hoje em dia a barriga é praticamente uma entidade, um inimigo terrível a combater. Nasce e cresce sem pedir licença ou dar qualquer aviso - e quando vem é para ficar. Como o povo sempre diz, a barriga chega antes em qualquer lugar, abrindo caminho. Tem vida e identidade próprias e a cada dia se enche mais de direitos e de razão. 

Arrogante, ostenta força e poder, que se ampliam na proporção do seu tamanho e volume. E tem mais: aquele que se atreve a um combate frontal pela sua extinção padece no inferno de exaustivos exercícios físicos diários e rigorosa dieta seca, à base de alimentos esdrúxulos, sem sabor e sem prazer.

Quem tem barriga, seja qual for a origem ou formato, nutre a maior vergonha da maldita, tenta disfarçar, e não ousa, jamais, se exibir na praia sem uma salvadora camiseta bem folgada. Geralmente tratada carinhosamente no diminutivo, para minimizar o desgosto, a barriguinha é sempre erotizada pelos machões, com apelidos como mataborrão, amortecedor e calo sexual, tudo para engabelar o eleitorado. 

Homens e mulheres ralam nas academias, encarando espelhos desfavoráveis para conquistar a saudável circunferência abdominal (mulheres até 88cm e homens até 102cm). É um sonho alcançar aquela barriguinha esteticamente impecável de muitos sobrenomes: seca, lisa, sarada, negativa, definida, tanquinho, chapada e etc. Há, inclusive, dietas e exercícios específicos para que os candidatos a deuses gregos da beleza conquistem essa posição no Olimpo.

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Mas o fato que a poucos é dado esse privilégio. A realidade é barriguda, em formatos variados ostentados por homens e mulheres, gordos e magros. Não há nada mais comum do que um sujeito magrelo que parece carregar uma bola de basquete no abdomen, a chamada barriga de chope ou cerveja.  

Há vários outros tipos: barriga de pneus, fruto de uma vida sedentária, com absoluta ausência de exercícios físicos; barriga de estresse, tipica de gente agoniada, que frequenta muito fast food, pula refeições e bebe café demais; barriga inchada, formada ao longo do dia, por gases e indigestão, mastigação inadequada e intolerência alimentar. 

Finalmente, tem a barriga de grávida, comum na mulher que, após o parto, não se cuida, não faz dieta nem exercícios para voltar ao peso original  - e assim vê-se obrigada a ouvir toda hora aquela perguntinha indiscreta e desagradável: “Você está grávida?”.
 
Barriga bonita, aconchegante, querida e eterna só mesmo a do Papai Noel. O bom velhinho pode até não ser gordão, como é o ideal, mas a barriga enorme é obrigatória. Papai Noel sem aquele barrigão não é Papai Noel. Rou! Rou! Rou!