Cultura

LOUVOR A SANTA BÁRBARA: A festa que tem a cara da cidade do Salvador

Uma festa que mais se aproxima da fé religiosa e despreza os pagodes e os sambões
Tasso Franco , da redação em Salvador | 04/12/2015 às 16:52
Baianas homenageiam a santa e vão à festa com fé e respeito
Foto: BJÁ
   A festa em louvor a Santa Bárbara, a Iansã no sincretismo religioso do candomblé, é uma das poucas populares de Salvador autêntica, com a religiosidade acima do folclore, sem trios, sem pagode, sem politicos, sem o axé babão baiano, e isso é muito saudável para a cultura local.

   Diria, hoje, que é a festa que tem a cara de Salvador, do povo de santo, da mestiçagem baiana com matrilínea afro baiana, mais Bahia do que África, porque aqui incorporou ritos e personagens que são próprios da cidade do Salvador. Não há baianas na África como são as baianas de Salvador.

   O louvor a Santa Bárbara difere da folclória lavagem do Bonfim, da decadente festa a Nossa Senhora da Conceição, da homenagem a Santa Luzia, a Iemanjá no 2 de fevereiro no Rio Vermelho e da praieira festa de Itapuã. Santa Báraba tem pé no chão, Pelourinho, sentimento de ancestralidade e cultura, há um respeito durante todo o evento desde a alvorada até o final da procissão, não se vê bebedeira nem charangas, e a fé se sobrepõe a qualquer outra coisa.

   Bom que seja assim e que os políticos fiquem bem longe dela senão vão colocar balões de propaganda no cortejo e leques do ativismo, bloquinhos de samba, camisetas de apoio, como acontece em Itapuã e no cortejo ao Bonfim.

   Nesta festa que tem a cara de Salvador as baianas e os baianos, católicos e integrantes do povo de santo, estes em sua maioria, se vestem a rigor para louvar sua orixá - vide foto - com adereços, com seriedade nas faces, com respeito, rubras nas cores, vermelho na indumentária, no batom da vaidade, na beleza dos trancelins, na formosura das pessoas, homens e mulheres.

   Não se vê um tumulto, uma correria. Só orações, fé, preces. Para conduzir os andores dos santos que compõem o cortejo existe uma disputa imensa, sobretudo em relação ao andor de Santa Bárbara. Todos querem tocar no andor, nas rosas que emolduram o afeto, na imagem da santa, na madeira do andor. 

   Seguem a frente da rainha dos raios e dos trovões os andores com as imagens de São Cosme e São Damião, São Jorge, São Sebastião, São Miguel, São Lázaro, São Jerônimo todos adornados e conduzidos por fiéis de suas ordens. Todos cantam hinos e orações até que a banda do Corpo de Bombeiros se incorpora com nvos cânticos.

   São poucos os turistas que acompanham a festa. Estrangeiros, rarissimos. Não são de todo ruins, desde que só olhem e não querem interferir, criar modismos. 

   Há um ponto alto quando a imagem chega no QG do Corpo de Bombeiros na Ladeira da Praça, as filhas de iansã são ariscas, são quentes, serpentes, e muitas delas dão santo. É um momento belíssimo do cortejo, daí seguindo-se para abençoar São Miguel, em seu mercado, e depois no seu repouso na Baixa dos Sapateiros.

   Foi nessa baixa que Ari Barroso encontrou a morena mais frajola da Bahia. E na festa de Santa Bárbara o que não faltam são as mais bonitas baianas da Bahia. 

   Eparê Iansã!
   (TF)