Cultura

MULHER DO RASTA se prepara para o MasterChef mas teme a Papuda do DF

Badu, o intelectual de bigode, diz que vai arranjar um lobista em Brasília pra Céu montar um restaurante mas ela tema ser fisgada na Lava Jato.
Rasta do Pelô , Salvador | 08/09/2015 às 10:17
Mulher do Rasta do Pelô está se preparando para disputar o MasterChef
Foto: BAND
   Depois de mais um dia de trabalho no Pelô vendendo minhas toucas rasta e pintando paisagens da cidade em tacos chego em casa cansado, cabeça quente porque o movimento de turistas está mixórdio, parece até que fecharam as portas da cidade para os estrangeiros, encontro Celeste Conceição Santos, minha senhôra, que vocês conhecem como Dona Céu, vestida num avental branco, chapéu de gourmet, cross branca nos pés, luvas, preparando uma moqueca de arraia com pimenta e molho lambão.

   Tomei aquele susto inicial, pois, a mulher nunca usa esse indumentária a carater para preparar nossas moquecas e também estranhei o dia, uma vez que moqueca aqui em casa é servida aos domingos e estávamos numa noite de terça feira.

   - Que diabo é isso mulher? - perguntei admirado com a elegância de Céu, maqueada, esqueci de dizer isso, a essa altura já deconfiado de alguma arte.

   - Estou treinando para increver-me no MasterChef daí que comprei essa indumentária para, se escolhida for, fazer bonita com Ana Paula Padrão naquele program da Band.

   - Tu não tá vendo mulher que isso não vai dar certo. Mal sabes fazer moqueca de arraia e queres ir para um programa onde tem comidas sofisticadas, pratos à francesa e à italiana.

   - Qué que tem! Lá teve, recentemente, o baiano Luciano, de Porto Seguro, que só sabia fazer cachorro quente e se deu bem. Quase ganha. Ficou em quarto lugar. E eu sou muito mais caprichosa do que ele e do que aquela asiática toda enrolada que está na semi-final,  aquiesceu.

   - Acontece que essa gente tem estudo, sabe abrir uma lagosta, sabe fazer um spaghetti a frutos do mar e tu só é boa na moqueca mal distingue uma moqueca baiana de uma capixaba, então acho melhor se aquetar e parar com essa patacoada, argui.

   - Não tem patacoda alguma - respondeu Céu com ar de indignação mostrando que já tinha pedido a sua personal style, Zais Pinharada, marcações no avental em ponto cruz e mostrava um deles na minha fuça onde se lia: "Céu, a rainha da moqueca" bordado à altura do seio.

   Só não dei risada da cara da mulher porque poderia ficar sem a moqueca que estava no fogo com cheiros que chegavam à sala onde eu encontrava-me sentado no sofá vendo TV e passando os olhos na piada do Zé Mané, do Massa, meu jornal favorito.

   Aí, pensei: é melhor incentivar a mulher, elogiar sua iniciatva e assim o fiz desejando-lhe sucesso: - Estou aqui para lhe apoiar no que for necessário em sua nova missão, ponderei.

   - Em sendo assim vê se consegue com seu amigo, aquele tal de Nogueira da Band do Gantois, me encaixar no MasterChef - firmou.

    - Tu tá parecendo deputado! querendo entrar pela janela - adiantei rindo.

   - Ô todo mundo faz assim de inicio. Precisa de empurrãozinho e depois é que a pessoa mostra seu valor.

   - Não tenho cara pra fazer um pedido desses.

    - Então fala com seus amigos pra pedir, com Sêo Bina, com o conselheiro Marconi, que bebe com ele lá no Barbaroca, se vira, me ajuda. De repente, ganho esse MasterChef e a gente pode botar um restaurante. 

   - Primeiro digo que tu não vai ganhar nada. Segundo que não temos dinheiro para colocar gasolina na Brasília, o que só tô conseguindo uma vez ao mês para ir a Buraquinho, quanto mais colocar um restaurante aqui na Caixa D'Água, local dos emergentes. O que mais tu pode abrir por aqui é uma birosca? pilherei.

   - E quem disse que, vencedora do MasterChef ou finaliasta que seja, já famosa, conhecida em todo Brasil vou colocar restaurante aqui nesse bairro de pobres. Vou colocar é no Pelourinho, ou perto daquele hotel do Fasano que estão fazendo na Castro Alves, quiçá na Tancredo Neves ou no Itaigara - respondeu.

   - Só rindo. Não vá fazer seus tererês no Pelô e vender seus abafas-bancas não fique aí com essa conversa utópica.

   - Se eu tenho a missão de ganhar o MasterChef e vou fazer tudo para isso, você ficará com a missão de conseguir com seus amigos ricos e influentes os recursos para montar o nosso restaurante. É só falar com o conselheiro Souza, com o desportista Mendes Jr, com doutor Zéu, com Sêo Sampaio, esses caixas altas que v conhece e o assunto estará resolvido, recomendou com autoridade.

   - Cê tá brincando Céu...imagina se vou tomar dinheiro emprestado a esse pessoal. 

   - Então procure aquele senador que o filho dirige a Desenbanhia pra gente conseguir um empréstimo por lá, um financiamento a longo prazo, pediu.

   - Pior ainda! Imagina se vou ter acesso a senador! Tenho amizade é com pé-miudo, com o ex-vereador Lima, o feirante; com o finado Zé Raimundo, com Palhinha, com Malassombrado. Senador só ouço falar pelo rádio - ponderei.

   - Peça a seu amigo Borega, aquele violeiro, que ele é assessor do senador - insistiu.

   - Amanhã decidimos essa parada - disse terminando de ler o Massa e fui dormir. 

   No outro dia, logo cedo me orientei com Badu, o intelectual de bigode, e ele disse, pelo telefone, lá do DF, que Céu tinha razão, que se ela fosse escolhida a MasterChef número 1 nós, com certeza sairiamos da condição de Emergente C, e até sugeriu que, o ideal era abrir o restuarante em Brasilia.

   - Vou lher dizer, se vocês abrirem aqui um restaurante desses, e sugiro o nome Dona Céu da Bahia, a rainha das moquecas vocês vão ficar ricos.

   - Com que dinheiro a gente vai abrir um restaurante aí Sêo Badu - ponderei.

   - É o de menos. Consigo um lobista para vocês e aí o dinheiro vai aparecer numa boa. Pode confiar - garantiu.

   Desliguei o telefonei, fui vender minhas toucas no Pelô com aquela ideia na cabeça, achando que, de fato, iriamos nos dar bem e quando cheguei em casa, à noite, todo animado comentei o assunto com Céu:

   - Tá resolvido. Se você ganhar o MasterChef nós vamos abrir um restaurante é em Brasília e Badu já colocou o nome e vai providenciar o financiamento.

   - Como assim, com essa faciliddae, inquiriu Céu.

   - Tem um lobista doleiro por lá que arrumará tudo - disse.

   - Vou dizer uma coisa a vocês dois cabeças de vento que prefiro ficar aqui na minha Bahia, na minha Salvador cansada de guerra, do que me meter nessa Lava Jato e ir com minha indumentária gourmet para a Penitenciária da Papuda.