Cultura

GORDO curte a Chapada, mas não pode ir a todos lugares, p/OTTO FREITAS

Para ver tudo é preciso fôlego, preparo físico e não ter medo de altura.
Otto Freitas , Salvador | 03/08/2015 às 10:52
Serra do Sincorá em Ibicoara
Foto: Flavio Marçal
   Todo meado de ano é tempo de cheias na Chapada Diamantina; seus rios seguem fartos o seu curso; as cachoeiras ficam mais exuberantes; córregos e lagoas atingem a sua plenitude. O verde das florestas é mais verde, as flores são mais flores. Aqui é onde Deus fez sua morada e na temporada das águas Ele revela ainda mais a sua grandeza. Também é chegada a alta temporada do turismo. 

   Jeffinho é um apaixonado pela Chapada e sente a mesma emoção toda vez que chega lá e se vê diante de magnífica riqueza natural ainda preservada, apesar da depredação e das queimadas de verão. Ultimamente a saudade bate forte quando se lembra das suas viagens pela região, pelo menos quatro ou cinco ao ano. Ituaçu, na entrada sul da Chapada, era sua base, sob a proteção e cuidados de dona Tereza e sua família. 

   Ausente do seu lugar do coração, nos últimos anos Jeffinho tem matado a saudade com as emocionantes reportagens do seu velho amigo Zé Raimundo, repórter da Rede Globo. Sertanejo de Riachão do Jacuipe, Zé conhece a Chapada Diamantina como ninguém, voando de helicóptero; a pé, rompendo trilhas, subindo e descendo serras; de bote, canoa e até nadando. 

   Esotérica, mágica e cultural, a Chapada é tão bela quanto perigosa. Para conhecê-la verdadeiramente é preciso fôlego, preparo físico e não ter medo de altura. Por isso, desse ponto de vista, este é um lugar onde gordo precisa ter bom senso, ser criterioso, saber escolher direito para onde vai e respeitar as próprias limitações. Jeffinho aprendeu com o tempo e se tornou íntimo daqueles vales, morros e cachoeiras, mesmo que os tenha alcançado só de longe. É que para se chegar a qualquer lugar é preciso andar - e andar muito! -, geralmente em subidas e descidas muito arriscadas.

    A cachoeira do Buracão, em Ibicoara, por exemplo, é considerada um dos locais mais belos da Chapada: partindo de Mucugê, são duas horas de carro, em asfalto e barro, e mais uma a pé.

  Desse modo, Jeffinho só vai aonde o carro pode chegar e só anda por caminhos seguros e quase planos, por no máximo 15 minutos. Além do mais, só entra em cavernas e grutas se o ambiente não for muito apertado. Então, desenvolveu uma relação espiritual e contemplativa com a região. Se não pode ir, ele se perde no tempo e no olhar distante, levando sua alma entre orquídeas e pedras. Se for possível, come e bebe enquanto assiste a vida correr rio abaixo. 

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    Na Chapada Diamantina se bebe e se come muito bem, inclusive algumas preciosidades da culinária regional, como o cortadinho de palma e o godó de banana da prata verde, um rango consistente que se encontra em várias localidades, como Igatu, onde se pode provar também um afrodisíaco caldo de Molé, um peixe miúdo. 

   Refeição boa, caseira e farta é Dona Nena quem serve, na varanda do quintal do casarão arejado onde mora, em Mucugê, cidade tão pequena e tão linda, com seu casario tão bem cuidado que até parece um cenário.

    A comida da Chapada é muito bem acompanhada pela boa cachaça de rolha e sem rótulo que é produzida na região, onde há muitos alambiques. Entre as engarrafadas e registradas destacam-se a Abaíra, de Abaíra, a Cabeceira do Rio, de Utinga, e a orgânica Serra das Almas, de Rio de Contas.

   O templo da farra e da comilança é Lençóis, a cidade mais famosa e a que oferece melhor infraestrutura de serviços. Além de hotéis e pousadas, há ótimos bares, restaurantes e pizzarias. Na Chapada, aliás, tem uma pizza vegetariana acompanhada por um molho de pimenta com mel. A pizza é finíssima, crocante, praticamente um biscoito. Não há outra igual, só existe lá, no Vale do Capão, em Palmeiras. 

   É inesquecível.