Cultura

Gordo gostoso foge de moto para escapar de ninfomaníaca, OTTO FREITAS

Para se comunicação copm o autor otto.freitas@terra.com.br
Otto Freitas , Salvador | 19/07/2015 às 20:16
Gordinho fugindo na sua motoca
Foto: DIV
   Mesmo sendo tempos de paz, amor e rock and roll, quando era motociclista Jeffinho não andava só,   principalmente na estrada. Também não gostava de pilotar aos bandos; acompanhava-se, no máximo, de dois ou três amigos de cada vez, com suas respectivas máquinas: Mané Gostoso, Don Franquito, Marreco, Tampinha e o Italiano, um pioneiro que já andava de moto desde os primórdios idos e ainda não abandonou as duas rodas.

   Todos eram obesos ou estavam acima do peso. Barrigudo de bunda batida, meio calvo, Mané Gostoso sempre trazia uma mulher diferente na sua garupa. Ele se considerava o gordinho gostoso (daí o apelido); era tirado a mulherengo pegador; achava-se irresistível. Até que um dia se bateu com uma ninfomaníaca, daquelas que trepava com a mão na cabeça para não perder o juízo. Morena dos cabelos longos e cacheados, Anita não era bonita, conforme os padrões europeus, mas tinha belas pernas grossas; sabia aplicar eficientes chaves de coxa e inesquecíveis chupetas de periquita. Mané Gostoso ficava enlouquecido. 

   Ostentando sua Kawasaki 750cc, preta, toda reluzente, ele começou a cercar, mas a moça o tratava com desdém. Até que um dia, depois da farra, Mané Gostoso e Anita passaram a noite juntos, na casa dela. Foi o início de um romance tórrido e intenso. Mané Gostoso vivia com aquele sorriso largo de quem está feliz e satisfeito, de barriga cheia. Gabava-se de dar três por dia, pois a criatura era uma tarada insaciável. 

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   Mané Gostoso nunca foi um típico romântico; jamais mandou flores para uma namorada e achava Roberto Carlos um chato. Só que Anita era a mulher brava mais sonhadora que conhecera. Gostava de música e poesia, chorava por qualquer coisa, mas era capaz de atirar um vaso de barro na cabeça de quem a contrariasse. Enfim, o gordo fudião tinha diante de si a contradição em pessoa.

   “Como não há mal que tanto dure, nem bem que seja eterno”, com o tempo a paixão foi minguando – como toda paixão, aliás, que raramente resiste a mais de ano. Mané Gostoso foi ficando mais enjoado a cada encontro, começou a caçar novas presas e a dar migué em Anita. Mas a danada não era boba nem nada e ficou com a pulga atrás da orelha. 

   Em um domingo de sol, Anita o convidou para pegar uma praia. Mané Gostoso queria ir, mas sem ela - e tentou aplicar um zignal. Anita deu plantão na porta do prédio dele e o bloqueou com o carro, na saída da garagem. Ele manobrou a moto e partiu em velocidade, iniciando-se a perseguição e uma fuga espetacular. A moto lhe deu vantagem e logo se livrou da maluca, no meio do engarrafamento. 

    Quando alcançou a orla marítima, escondeu a moto em um estacionamento e foi para uma barraca diferente da que frequentavam. Mais de hora depois, o susto: vislumbrou, ao longe, Anita caminhando entre os banhistas, olhando atentamente à sua volta, como quem procura por alguém.
 
   Obviamente, não demorou muito para ela achar Mané Gostoso, na sombra da barraca. Com um sorriso cínico e vitorioso no rosto, sentou-se ao seu lado, sem pedir licença. Não disse nada, ficou em silêncio. Vencido, ele retribuiu o sorriso e se entregou ao inevitável.

   No fim da tarde, foram tomar a saideira em Juvená, sobre as areias brancas de Itapuã. Viram Fialuna tocar o seu enorme timbau e cantar em dialetos jêje-nagô. Mané Gostoso e Anita ficaram lá, entre linguinhas e dedinhos, até a lua chegar por entre as folhas do imenso cajueiro.