Cultura

Cidade chinesa mantém festival de carnes de cachorro o kilo a R$35,00

A cidade de Yulin tem 7 milhões de habitantes
Gazeta do povo , China | 14/07/2015 às 19:50
Cachorros à venda no mercado de Yulin. A carne custa cerca de 10 dólares o quilo
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Era a noite anterior ao solstício de verão e as mesas da barraca estavam preparadas para o banquete anual: abóbora no vapor, vegetais cozidos no vapor, purê de pepino e macarrão de arroz. No centro de cada mesa havia dois pratos tradicionais essenciais para as comemorações na cidade: lichia frescas e potes fumegantes de cachorro cozido, temperados com gengibre, alho, cascas secas de laranja, folhas de louro e erva-doce.

Esse último prato tornou Yulin famosa no mundo todo, graças ao festival anual da carne de cachorro, e os habitantes da região já não aguentam mais falar sobre isso.

“Por que todo mundo pega no pé de Yulin?” perguntou Tang Chengfei, um universitário recém-graduado de 24 anos. “Você nunca viu os japoneses comendo sashimi de sapo vivo?”

Na verdade, é a hipocrisia dos críticos que mais irrita os habitantes dessa cidade agitada de sete milhões de habitantes no região de Guangxi, no sul da China.

“Muitas pessoas têm um apego especial com os cachorros”, afirmou Tang. “Mas nós crescemos rodeados de carne de cachorro. Para nós é normal”.

Yulin se tornou alvo de uma intensa campanha em defesa dos direitos dos animais, o que deixou as pessoas da região irritadas e na defensiva.

Liderados por ativistas chineses e de outros países, os defensores dos animais exigem que as autoridades do governo local e o público chinês deem fim ao consumo de carne de cachorro e às práticas terríveis que muitas vezes acompanham o comércio de carne menos regulamentado do país. Acredita-se que mais de 10.000 cachorros sejam servidos durante as comemorações do solstício de verão em Yulin todos os anos.

Celebridades como o ator Ricky Gervais e a modelo Gisele Bündchen fizeram campanha nas mídias sociais com a hashtag #StopYulin2015, ao passo que uma petição online destinada ao governador de Guangxi e ao ministro da agricultura da China reuniu mais de quatro milhões de assinaturas.

Na China, onde o debate em torno do direito dos animais tem mais espaço do que outras causas, as pessoas que se opõem ao festival resolveram se manifestar.

Nas semanas anteriores ao festival, milhões de mensagens condenando essa tradição culinária encheram as mídias sociais chinesas. Protestos e vigílias organizados por defensores dos direitos dos animais foram realizados em todo o país, durante o feriado de três dias que marca as festividades.

Muitos afirmam que a hipocrisia moral em torno do consumo de animais é óbvia. O que dizer a respeito do consumo de carne bovina, uma vez que as vacas são sagradas para os hindus, ou ainda dos porquinhos da Índia na América Latina, dos cães na Coreia o dos perus nos Estados Unidos? O que torna o consumo da carne de cachorro diferente do consumo da carne de frangos ou porcos, eles se perguntam.

“Acho que os ativistas iriam aproveitar melhor o tempo deles se pensassem em questões como a falta de água no mundo ou o sequestro de criancinhas, ao invés de tornar as coisas ainda mais caóticas por aqui”, afirmou Yu Ping, de 48 anos, habitante de Yulin e professor de educação infantil. Yu, como muitas outras pessoas da cidade, insistiu que os cães consumidos em Yulin são criados especialmente com essa finalidade, ao passo que os ativistas dizem que uma grande parcela da carne de cachorro vem de animais de estimação roubados ou de cachorros de rua.