Cultura

PAPA FRANCISCO destaca papel das mulheres na reconstrução do Paraguai

O Brasil tem uma visão e versão sobre a Guerra do Paraguai, a Argentina tem outra e a humanidade e o Paraguai outra completamente diferente
TF , Assunção | 12/07/2015 às 10:58
Monumento ás mulheres na Av Mariscal, em Assunção
Foto: BJÁ
   Desde que chegou ao Paraguai, última parada de sua visita à América Latina, o papa Francisco tem aproveitado para exaltar o papel das mulheres do país na Guerra do Paraguai, no século 19. Tema pouco abordado no Brasil e até desconhecido. 

   A historiografia brasileira sobre a Guerra do Paraguai, também chamada de Guerra da Tríplica Aliança (Brasil+Argentina+Uruguai x Paraguai) e que os paraguais classificam como a Grande Guerra que devastou o país chamou a atenção do papa por sua injustiça.

 Na sua primeira fala no país, realizado no palácio presidencial perante o chefe de Estado, Horacio Cartes, e outras autoridades, ele afirmou que a mulher paraguaia é "a mais gloriosa da América".

  "Eu desejaria que algum dia o Comitê do Prêmio Nobel outorgasse um Prêmio à mulher paraguaia por ter salvado a cultura, a pátria", afirmou Francisco durante uma reunião, segundo a "Rádio Vaticano".
Neste sábado (11), o pontífice voltou a lembrar das mulheres do Paraguai por terem reconstruído a nação a partir dos destroços da guerra, em missa realizada em Caacupé, o lugar mais religiosamente sagrado do país.

  "Eu gostaria especialmente de mencionar vocês, as mulheres, esposas e mães do Paraguai, que a um grande custo e sacrifício foram capazes de levantar um país derrotado e devastado pela guerra", disse. "Deus abençoe as mulheres do Paraguai, as mulheres mais gloriosas da América."

  Mulheres e a guerra

   Francisco não citou nomes, pero, a historiografia paraguaia cita, entre outras Pancha Garmendia, Rafaela Lópes de Bedoya, Inocência Lopes de Barrios, Juana Carrilo, Leocádia Escato e tantas outras que foram fuziladas e sofreram horrores durante a guerra e depois dela, na reconstrução do país. 

   Os paraguais não perdoam o marquês de Caxias que teria consentido que suas tropas, após a ocupação de Assunção, devastassem a cidade - até os cemitérios e as embaixadas estrangeiras foram violadas.

  A Guerra do Paraguai aconteceu entre 1864 e 1870, e Francisco também não esqueceu "dos milhares de paraguaios simples, cujos nomes não aparecerão escritos nos livros de história, mas que foram e seguirão sendo verdadeiros protagonistas da vida de seu povo".

  O papa reconheceu, "com emoção e admiração", o papel desempenhado pela mulher paraguaia "nesses momentos dramáticos da história".

  "Sobre seus ombros de mães, esposas e viúvas, levaram o peso maior, souberam levar adiante suas famílias e seu país, infundindo nas novas gerações a esperança em um amanhã melhor", acrescentou Francisco.

  O papa já havia elogiado em outra ocasião a coragem das mulheres deste país após a guerra travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai.

  "Abençoo a mulher paraguaia, a mais gloriosa da América", expressou então o pontífice.

  Além de considerá-las "heroicas", o papa lembrou como "depois da guerra ficavam oito mulheres por cada homem e elas tomaram a decisão de ter filhos para salvar a pátria, a língua, a cultura e a fé".
Santuário

   Caacupé é famosa por seu santuário que abriga uma estátua da Virgem Maria que, acredita-se, foi esculpida por um índio guarani convertido para o cristianismo no século 16, quando missionários se instalaram na região.