Cultura

FEIRAS LIVRES E MERCADOS, onde o gordo é mais feliz, por OTTO FREITAS

Otto Freitas é jornalista e escreve quinzenalmente no Bahia Já na coluna 'Vida de Gordo'
Otto Freitas , Salvador | 05/07/2015 às 12:38
Mercado do Rio Vermelho, antiga Ceasinha, onde o gordo se dá bem
Foto: BJÁ

A vida é assim: uns trabalham, outros ganham dinheiro; uns compram e cozinham, outros comem. Os gordinhos, geralmente, se incluem nesse último caso. Eles podem até acompanhar a visita aos mercados públicos e feiras livres (supermercados, jamais!). Mas assim que chegam logo se apoitam em uma barraca de comidas e bebidas e ficam por lá mesmo, esperando pelo fim das compras. 

Não há lugar em que gordo fique mais feliz do que as feiras e mercados, com sua rica variedade de cheiros, cores e sabores. A feira de São Joaquim, na Cidade Baixa, maior centro de abastecimento de Salvador, tem de tudo, é praticamente um templo sagrado da cultura popular: hortifrutigranjeiros, carnes em geral, farinha de mandioca, cereais, utensílios de barro, folhas de reza e banhos e até bicho vivo.

Tem gente que não vai embora sem antes fazer a barba e comer um ensopado de carne de boi com feijão de currute. Gazula, filho honorável de Ituaçu, encantadora cidade do sudoeste baiano, vai a São Joaquim praticamente toda semana, sempre aos domingos, de manhã bem cedo. Depois de fazer a feira, comer o feijão de Almir ou mocotó na barraca de Sergipe é compromisso sagrado. 

O segundo centro comercial mais importante da cidade é o mercado das Sete Portas, onde já foi uma feira livre. Em 75 anos, passou por várias transformações, mas resiste ao tempo. Nos anos 70/80 do século passado, era lugar de boemia nas madrugadas, quando jornalistas e intelectuais eram atraídos pelo mocotó no Alagoano, uma das barracas de comida e cachaça de rolha mais famosas da época (hoje é um restaurante, no primeiro andar do mercado). 

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Já nesse tempo, a ala de barracas de tira-gosto e bebidas do Mercado Modelo atraia os nativos boemios, geralmente aos sábados, para petiscar umas lambretas e agulhinhas fritas com cerveja gelada, cachaça com limão e mel e outras misturas inusitadas como o leite de camelo (cachaça com leite condensado). Quase todo baiano já foi lá um dia, para tomar uma ao pé do balcão de barracas como a de Chacrinha, uma das mais disputadas.

Ali perto, também no Comércio, Cidade Baixa, quem ainda resiste ao tempo é o restaurante Juarez, no Mercado do Ouro. O mercado já não existe mais, restaram as paredes externas que hoje abrigam uma casa de shows. Juarez foi transferido para um cantinho independente do prédio, e segue, há mais de 60 anos, servindo com simplicidade comida caseira e o seu famoso filé Juarez, cuja forma de preparo é um segredo antigo guardado a sete chaves.

Aquela época também registrou o auge do velho Mercado de Itapuã (está sendo reconstruído mais uma vez) que, embora decadente, ainda mantinha sua estrutura original. Boêmios da cidade sempre se encontravam por lá, no final da madrugada, para encerrar a farra, gloriosamente, com uma refeição da pesada. A feijoada de Amélia era a mais famosa. Mas havia quem preferisse tomar um mingau de tapioca ou de milho, na barraca de Amor, em frente ao mercado.

O mais novo espaço para orgias gastronômicas em público é o Mercadão que nasceu após reforma e ampliação da antiga Ceasinha do Rio Vermelho. Com instalações modernas e produtos de melhor qualidade, é semelhante aos modelos existentes nas maiores capitais do país. Com duas praças de alimentação e grande variedade de petiscos e comidinhas, é o melhor mercado da cidade para fazer a felicidade do gordinho mais guloso e exigente.