Cultura

BAHIA cria modelo turístico para São João, mas tradições resistem (TF)

São João está virando um 'carnavalzão', mas, minhas botas só andam em terreiro com forró pé de serra
Tasso Franco , da redação em Salvador | 26/06/2015 às 11:31
Milho cozido em panela de barro no terreiro da roça
Foto: BJÁ
   Quando só se falam em milhões de reais, showzões enormes nas praças do interior com o povo enjaulado ouvindo cantores sertanejos, de pagodes e forrozeiros, o povo sem dançar e só assistindo, palcões, luzes e festejos juninos completamente fora das tradições da época, passei o São João na Serrinha, na rua da Bela Vista e na fazenda da Casa Rosa, na Chapada, e deu pra assar um milho na brasa, saborear uma canjica da boa com canela e cravo, tomar um licor de jenipapo dos melhores e pular a fogueira.

  A Bahia está criando um modelo de São João turístico que, na maioria das vezes, só beneficiam os grandes artistas que recebem fortunas para cantar e tocar, enquanto os locais ficam com as mixórdias, e o povo só assiste, enjaulado ou em cercados, vendo possíveis ídolos à distância. Em todas as praças foram assim, inclusive no Pelourinho, com os artistas distantes do público, alguns deles usando bermudas como se fossem para tocar no Carnaval.

   Festejos juninos tem ritos, tem tradições, as pessoas devem se vestir preferencialmente de 'tabaréus', as crianças devem portar bigodes feitos pelos pais com lápis ou carvão, as meninas usarem tranças, marias-chiquinhas, e a fogueira é indispensável, pois, na tradição religiosa é o sinalizador de uma nova era. 

   A fogueira tem sua origem em um trato feito pelas primas Isabel (mãe de São João Batista) e Maria (mãe de Jesus Cristo). Isabel teria mandado acender uma fogueira no topo de um monte para avisar sua prima Maria que seu filho havia nascido.

  A tradição chegou ao Brasil com os portugueses e se espalhou pelo Nordeste onde São João Batista é cultuado. Acende-se fogueira no dia de São Pedro, em reverencia às viúvas.

   Cumpri alguns dos ritos juninos: assar o milho na brasa da fogueira, assar uma carne de bode gordo pra gordura avivar as brasas, toquei uma caixa de 'bufa de véio', tomei bastante o licor de dona Leda, minha sogra, comi milho cozido na panela de barro e dancei forró animado por um sanfoneiro do Ichú, Zé de Zezinho. Tem nome mais original!

   Zé de Zezinho tem cachê de R$500,00 ele e sua banda com zabumba e triângulo e canta gonzagão e outros autores.

   Esse, sim, é um forró pé de serra, dançado no terreiro da fazenda, a poeira levantando e as moças seguranças as saias. Teve ainda simpatias, pular a fogueira, fazer comadre e compadre e no dia seguinte tomar leite fresco tirado do peito da vaca.

   Agora, esse modelo de São João que inventaram para a Bahia virou um 'carnavalzão', um 'pagodão' e neles não ponho meus pés. Minhas botas tão acostumadas a outros terreiros. Infelizmente, neste 2015, não deu pra ir na fazenda Lapão do meu compadre Lapa, lá nas terras do Tucano e vê o casamento do jegue no Jorrinho. (TF)