Cultura

A MELHOR maneira de conhecer um bom vinho, por MAURICIO FERREIRA

Vinícolas como a italiana Villa Matilde, Klein Constantia ou a Bodegas Mauro levaram os seus melhores rótulos
Mauricio Ferreira , Salvador | 26/05/2015 às 10:34
Salvador sediou o Grand Tasting 2015 da Grand Cru
Foto:
   Definitivamente, após se tornar um dos mais importantes produtores nacionais, o Estado da Bahia entrou no circuito de degustações de vinhos e o Grand Tasting 2015 da Grand Cru, realizado na última quinta-feira (21/05), no Hotel DeVille, foi um bom exemplo disso.

   Há algum tempo, seria impensável em nossa cidade um evento desse porte, voltado para enófilos, sommeliers e ao público em geral, onde foi possível degustar dezenas de vinhos, das mais diversas nacionalidades, apesar da cobrança de uma salgada taxa de R$ 250,00, pois trata-se de uma mega promoção das marcas e o valor, ao menos, deveria ser revertido na aquisição dos produtos junto à promotora.

   Com o slogan “a melhor maneira de conhecer um vinho é provando!”, a organização acertou em cheio, dando oportunidade aos participantes de conhecer desde curiosidades como o libanês EL IXSIR 2009 ou o superpontuado Pintia 2008, um legítimo vinho da região de Toro produzido pela consagrada bodega espanhola, Vega Sicília.

   Vinícolas como a italiana Villa Matilde, Klein Constantia ou a Bodegas Mauro levaram os seus melhores rótulos, e os presentes puderam se deliciar, degustando preciosidades, em meio a queijos, risotos, ceviches e muitas iguarias fartamente servidas em balcões gourmet. Uma noite e tanto!

   Mas, voltando ao slogan do evento, se a melhor maneira de conhecer um vinho é provando, existe alguma técnica especial para “prová-lo”, ou como se diz por aí, degustá-lo? 

   Para se responder essa pergunta é preciso esclarecermos que existem basicamente dois tipos de degustação, a primeira, por puro prazer, também chamada de hedonista e, também, a degustação profissional ou técnica, geralmente realizada por profissionais da área, tais como enólogos, sommeliers e jornalistas especializados.

   Esta última, em que o profissional procura fazer uma avaliação organoléptica (êta, palavrinha difícil) para se emitir um parecer técnico sobre o vinho, de certa forma não nos interessa neste momento, sobretudo em um evento dessa natureza - mas sim, a que realizamos por puro prazer, em que buscamos maximizar as impressões de beber um bom vinho e depois partilharmos essa experiência com os amigos. 

   Esta modalidade apesar de totalmente livre, também requer um certo conhecimento a respeito do vinho, como a origem, a casta, a safra, o processo de vinificação etc.

   Nesta degustação podemos digerir o vinho à vontade, razão pela qual recomendamos nos servirmos de pequenas doses, nunca acima de 30 ml, a depender da quantidade de garrafas de vinhos que venhamos a degustar, pois bebidas alcóolicas, prudência e bom senso sempre devem andar juntos. 

   Devemos ainda, usar taças, invariavelmente, incolores e de hastes longas, e nos valermos de critérios que estejam de acordo com os nossos gostos e preferencias pessoais, pois há os que preferem os vinhos mais ou menos potentes, mais ou menos frutados, mais ou menos estruturados etc. Enfim, uma enorme variedade de características, que tornam um vinho completamente diferente do outro.

   Na degustação técnica o vinho é geralmente descartado após passear pela boca do degustador (cuspido em um pequeno recipiente ou pia), para evitar o embriagamento do profissional, e se vale de critérios pré-estabelecidos, voltados a encontrar virtudes ou defeitos na amostra, devendo, para tanto, realizar uma acurada avaliação visual, em conjunto com a análise olfativa e gustativa do vinho. Uma degustação técnica, jamais deve contemplar elementos de gosto pessoal ou mercadológicos.

   Enfim, um evento como o Grand Tasting 2015 não deve ser classificado como um evento técnico, mas sim como um evento voltado à degustação hedonística, destinado aos amantes do vinho, que a partir dela poderão encontrar os rótulos de sua preferência, constituindo-se em uma importante ferramenta mercadológica. Pena que o elevado preço restringiu à presença do público em geral.

   Na oportunidade degustamos alguns vinhos muito especiais, e tentaremos passar aos leitores do Bahia Já, as impressões de quatro dos que mais se destacaram, dentre os 200 rótulos presentes:

   ALTAIR 2008 – Produzido pela Vinícola Altair, uma das grandes estrelas chilenas, é um projeto relativamente recente, que começou a tomar forma a partir de um joint venture entre os proprietários do Chateau Dassault (que também produzem o jato militar supersónico Mirage), e o empresário chileno Guillermo Luksic, proprietário da tradicional vinícola chilena San Pedro, que se juntaram para produzir um dos vinhos ícones do Chile. 

   Sem possuir a elegância do Casa Real, nem a sofisticação de um Almaviva, e de outros grandes rótulos chilenos, é um vinho extremamente descomplicado, fácil de beber. Aliás, já nasceu assim, redondo, aromático, complexo e bem estruturado. Uma verdadeira obra prima, que emerge a uma explosão de aromas, com destaque para as frutas vermelhas, minerais, o frescor da menta e toques de cânfora. 

   Na boca, novamente frutas vermelhas, sobretudo, cerejas, cassis e mirtilo. Também baunilha, tabaco, chocolate e tostas de carvalho francês, surgem em meio a um vermelho intenso, marcante e sedutor de seu blend, formado pelas uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Shiraz e Petit Verdot. Taninos fortes, persistentes, porém macios e evoluídos, finalizam esta preciosidade que permanece na boca por um bom tempo. 

   Sempre pontuado acima dos 93 pontos pelos maiores especialistas, é um vinho magnífico, que pode ser encontrado na Grand Cru por R$ 420,00.

   MAURO TERREUS 2010 – Vinho produzido pela Bodegas Mauro, conhecida por elaborar vinhos tintos de guarda de extrema qualidade e produções limitadas. São vinhos bem equilibrados, opulentos  e vibrantes, que invocam a expressão do terroir e do enólogo responsável, o não menos famoso Mariano Garcia, que produziu algumas das melhores safras do Vega Sicília.

   Localizada no município de Tudela de Duero ( Valladolid), no coração do Valle del Duero, região de  larga tradição vitivinícola, a bodega é relativamente nova, data de 1980, a partir da saída de Mariano Garcia da Bodegas Vega Sicília.   
O Terreus 2010 é um desses vinhos criado para impressionar o mais exigente dos degustadores. Produzido com 100% de uvas Tempranillo, é um vinho vermelho intenso, potente e mineralizado, com grande profundidade aromática e expressivas notas de frutas vermelhas  e negras maduras, excelente estrutura harmônica e um persistente final.

   A semelhança com o Alion da Vega Sicília não é por acaso, segue o mesmo processo de vinificação, cheio de novas técnicas e cuidados, ainda que amparado na tradição dos grandes vinhos espanhóis.

   Com uma espera de 26 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso, é um vinho elegante, com notas típicamente adquiridas na fermentação malolática, como baunilha e toffe, que lhe concede um dulçor especial que agrada a todos. Vinhão!!! 

   O Terreus 2010 da Bodegas Mauro está à venda na Grand Cru por R$ 861,00 e também esteve presente na degustação do dia 21 de maio.

  KLEIN DE CONTANTIA VIN DE CONSTANCE 2007 - Com 97 pontos concedidos pelo renomado crítico Robert Parker, editor da revista especializada em vinhos The Wine Advocate, o Vin de Constance, produzido pela Klein de Constantia, em Cape Town, na Africa do Sul,  tem uma história de mais de 300 anos, quando, por volta do ano de 1700,  os vinhos de sobremesa mais celebrados do mundo eram sul-africanos, e ocupavam a preferência dos grandes governantes e personalidades da época, dentre eles Napoleão, Baudelerie, Charles Dickens e Alexandre Dumas.

Produzido com a uva Muscat de Frontignan (Moscat Blanc), possui coloração amarelo ouro brilhante, com reflexos esverdeados. Ricamente aromático, apresenta notas cítricas de casca de laranja cristalizada, pêssego e sândalo. 

Cheio e viscoso, apresenta agradável volume, untuosidade na boca, boa acidez, intenso e marcante dulçor.  Justificadamente, um dos mais famosos vinhos de sobremesa, se caracteriza  pela sucessão de notas de mel, pêssego branco e pêra em calda, que surgem a cada gole.

O Vin de Constance 2007 é encontrado por R$ 493,00 nas lojas físicas ou no site da Grand Cru, fez parte, também, do Grand Tasting 2015.