Cultura

ÁFRICA DO SUL: Zulus expulsam negros pobres de outros países de Durban

É uma situação muito complicada
Observador , Durban | 20/04/2015 às 17:46
Racismo de negro contra negro
Foto: Gatty Images
Tudo começou o mês passado, quando Goodwill Zweletini decidiu falar e pedir aos estrangeiros que “façam as malas e voltem para onde vieram”. O peso das palavras foi muito e isso deveu-se a uma razão: vieram da voz do rei dos Zulu, a tribo e grupo étnico mais representado na África do Sul, entre as dezenas que existem. E mais pesadas ficaram quando as pilhagens de lojas, os ataques a pessoas, a violência e as mortes começarem a irromper pelas ruas de Durban, cidade costeira de KwaZulu-Natal, província onde se estima que vivem mais de 10 milhões de zulus — algo que já se está a alastrar para outras cidades do país.

A violência tem-se dirigido, sobretudo, a imigrantes negros que residem na África do Sul. Várias lojas geridas por estrangeiros foram destruídas no centro de Durban, onde mais de cinco mil pessoas já tiveram de abandonar as suas casas para se refugiarem em igrejas, mesquitas e espaços públicos. Pelo menos cinco pessoas já foram mortas este mês e estima-se que centenas tenham ficado feridas como resultado dos confrontos.

As vítimas da violência são naturais de países como a Somália, Zimbabwe, Moçambique, Nigéria, Congo ou Tanzânia, escreve o Mahala, um site sul-africano. “Porque estão os Zulus a matar-nos? Somos negros como eles, temos a mesmo cor de pele. Somos todos africanos”, defendeu um dos cerca de 200 manifestantes estrangeiros, citado, mas não identificado pelo mesmo site, que na terça-feira se reuniram no centro de Durban, em protesto contra a violência. “Fugimos do nosso país por causa da guerra, e agora a guerra está a perseguir-nos”, lamentou outro, natural do Congo, enquanto segurava o papel que comprovava o seu estatuto de refugiado na África do Sul.

Depois, na quinta-feira, cerca de dez mil de pessoas, noticiou o Times of South Africa, marcharam pelas ruas do centro de Durban, até chegarem ao edifício da câmara municipal. Aí, as autoridades acabariam por dispersar a multidão com gás lacrimogéneo, após a erupção de vários confrontos entre os manifestantes. A BBC estimou antes em cinco mil as pessoas que se reuniram para protestar nas ruas da cidade contra os ataques xenófobos que têm ocorrido. Tina Ghelli, uma representante das Nações Unidas citada pelo Wall Street Journal, calculou em cinco mil o número de pessoas que fugiram das suas casas devido à recente vaga de violência.