Cultura

POR QUE os nossos MENINOS E MENINAS estão bêbados? P/OTTO FREITAS

Os tempos são outros. Não se aprende mais a beber em festinhas familiares ou roubando goles do licor de São João da vovó
Otto Freitas , Salvador | 18/03/2015 às 10:07
Assustador o que está acontecendo com alguns jovens e a bebida alcoólica
Foto: Semanaon
Os nossos meninos e meninas estão bêbados - mas é bebedeira de coma alcoólico, daquelas de quase morrer. Eles não bebem para festejar, para celebrar novas conquistas, para intensificar a alegria. Bebem para atingir a profunda embriaguês, até cair, literalmente, o mais breve possível, em total inconsciência. É um lance totalmente esquisito, muito sinistro. 
 
Seja em trotes, geralmente violentos, em festas de amigos ou das faculdades, o dia seguinte é sempre de morte: tem sido frequente encontrar jovens mortos, geralmente por afogamento em piscinas ou contusões em quedas. Nas ruas, em torno de bares, é comum encontrar pequenos grupos sempre em volta de garrafas de bebidas destiladas, daquelas mais fortes, como cachaça, vodka e tequila.  Bebem de gute, copos inteiros ou no gargalo da garrafa. Eles se divertem apostando quem bebe mais, em menos tempo. 
 
A situação é muito séria, preocupante. Basta assistir aos inúmeros vídeos postados na internet. Há dois especialmente assustadores: no primeiro, uma garota de vinte e poucos anos abre uma garrafa de tequila e bebe inteirinha, no gargalo, em poucos minutos, com uma ou duas paradas para respirar; em outro, um rapaz da mesma idade faz a mesma coisa, do mesmo jeito, só que ele toma uma garrafa inteira de cachaça barata. 
 
É praticamente uma tentativa de suicídio, até porque esses meninos e meninas (dizem até que elas estão bebendo tanto quanto ou mais do que eles) preferem as bebidas destiladas a 42 graus, mais perigosas. Internado pela família, um rapaz de classe média alta conta, em outro vídeo, que se viciou em álcool 70 graus, depois de passar por bebidas destiladas cada vez mais fortes e não se satisfazer mais com elas.
 
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Os tempos são outros. Não se aprende mais a beber em festinhas familiares ou roubando goles do licor de São João da vovó. Com os pais de olho, impondo limites, com o passar dos anos aprendia-se a beber a bebida certa, na dose certa, do jeito certo, além de truques para evitar a bebedeira, as cenas constrangedoras de vômito e a ressaca – como beliscar sempre, jamais beber de estômago vazio, e comer um docinho de vez em quando, ao longo da farra, para repor a glicose. 
 
Na boemia verdadeira e saudável, havia tempo para seguir todos esses preceitos; uma boa farra era sempre demorada, podia durar até 24 horas; bebia-se devagar e lentamente e se conversava muito. O objetivo era ficar de pé até o fim, aproveitando a festa e a vida e se divertindo com as garotas.
 
O objetivo existencial sempre foi a busca do prazer - intensificar a alegria; alcançar a euforia da embriaguês; e rir muito, à toa de preferência. Não há outro sentido senão esse: encontrar a felicidade, celebrar a vida. Cair, só de sono, no colo de uma mulher, se for possível. 
 
Hoje, a farra da galera jovem chega, no máximo, a 10 minutos, tempo que meninos e meninas levam para se embriagar e acabar no hospital, inconscientes, se não morrerem antes. A brincadeira preferida é beber uma dose atrás da outra, apostando quem bebe mais e mais rápido; o vencedor é o que cai por último. Mas todos caem. 
 
Por que tanto desespero desses meninos e meninas de classe média, gordos ou magros, sofrendo bullyng ou não? Será que estão sem rumo, sem sonhos, sentindo-se solitários e vazios? Será que não estão suportando a dureza desse mundo de hoje, altamente competitivo e exigente, e cada vez mais difícil para eles? Será que sentem falta da família, do dengo da vovó, da conversa e dos limites dos pais que vivem fora de casa? Será que estão sentindo saudade do tempo que não viveram?