Cultura

ESPOSA Lobisomem de Serrinha encontra com jega de calçola em shopping

Era Sera que tem histórias & estórias
Lobi da Serra , Serrinha | 10/02/2015 às 10:47
Esposo da jega de calçola aguarda-o no estacionamento do shopping
Foto: Ailton Pimentel
   Voltei do veraneio e encontro a Serra cheia de novidades com a inauguração do shopping, loja de departamento, cinemas, 'fast-food', lojas de grife, um chiquê. 

   Diante dos meus afazeres, colocando as coisas em dia, aviando as encomendas de tachos que tenho que entregar, pagando as contas da 'toca' e marcando encontro com os amigos no Boteco do Teco para as devidas atualizações políticas, ainda não pude ir ao novo shopping, mas, Ester Loura, minha honrada esposa, por lá já esteve e para meu desespero comprou uma sandália Carmen Stefanes que quase me leva ao infarto diante do preço que considerei absurdo.

   Ela ainda pilheriou comigo: - Você tá por fora dos preços dos produtos da grife e fica achando uma sandália de R$700,00 cara. Parece até que ainda vive no tempo de Sêo Bitú Sapateiro".

   - Com esses R$700,00 eu compraria era 10 sapatos bicos-finos na Sapataria de Pirulito ou em Vadinho da Mangabeira Calçados - falei.

   - Quando digo que você tá broco porque Pirulito já partiu faz é tempo, Vadinho já está brincando Carnaval no céu há anos e o tchan em sapatos agora são a Nersam e a Aragon.

   - Bitú ou Nersam! Carmen ou Pirulito! o certo é que não vou permitir que você fique fazendo essas extravagâncias só porque a Serra agora tem shopping querendo se igualar as dondocas locais achando que sou rico, que sou Tomy do Chama ou Warzinho do Boi.

   - Vá cuidar de sua vida que cuido da minha. Paguei com meu dinheiro, com minhas economias e se foi por isso não alterei em nada sua fortuna - ironizou-me.

   Sabendo que iria perder a parada com a madame decidi ir a Barrocas conversar com o senhor Vilson Mota, morrador da Nova Brasília, na zona rural, o qual disse ter corrido de um lobisomem, supostamente ameaçado, para dialogar com ele. 

   Visitei-o com o objetivo de situar que somos de paz, que deve ter havido algum mal entendido, algum pagão em sua familia precisando ser batizado, e ao encontrar-me com Mota dei logo um brinde de nossa camisa a ele, o que foi de bom agrado, e expliquei que se Lobi existe algum com maldade é na Transilvânia ou nas montanhas do Casaquistão, sendo que os existentes na Serra e redondezas, desde os 'colberzões' da Feira; aos 'lapões' do Quijingue, são todos gente boa.

   E a prova maior é que ele estava conversando comigo, numa boa, tomamos umas cervejas no Ricardo Drinks e depois fomos almoçar na Cedro Churrascaria, do Zelito, em harmonia.

   Ele só estranhou um pouco quando solicitei ao garçom servir-nos um cabritinho assado com os chifres e umas costelinhas de porco vendo que, nesse momento, me ericei um pouco e os caninos saltaram fora da boca e minhas garras passaram bem além da manga da camisa.

   - O senhor tá normal Sêo Lobi? - perguntou.

   - Claro meu jovem. Adoro cabritinhos assados e creio que você também vai gostar. Podemos até tomar um tinto chileno para celebramos.

   E assim deu-se o nosso encontro, comemos o cabritinho com modos civilizados e creio que convenci o senhor Mota de que nossa familia dos Lobis é de paz e até marquei para combinarmos um domingo com o objetivo dele levar o pagãozinho para o bispo da Serra batizá-lo na basílica, selando de vez qualquer mal entendido.

   Depois retornei a Serra e, como era caminho, passei no Boteco do Teco que fica o bairro da Bela Vista, meia-cerca com o sitio de dr Samuel Nogueira e lá encontro em prosa, meu compadre Alirio Vermelho, Pinguinha e Toletino Caneco, el prático-jurista, creio que se preparando para o desfile do bloco 'Tem Nêgo Bebo Aí'.

    - Alegria imensa - me aproximei já pedindo uma gelada e perguntando pelas novidades da Serra.

   - Você ainda não soube - comentou Alírio.

   - Soube de quê, que novidade é essa que v tem para me contar?

   - Sêo Ailton Pimentel postou no facebook a foto de um jegue no estacionamento do shopping e tá dando o que falar - completou.

   - Qué que tem um jeguinho comendo uma grama! - admirei

   - Não teria nada - advertiu Pinguinha - se uma madame chamada Zú Caldas não tivesse colocado que a esposa do jegue, esta sim, é que estava no shopping, em compras de 'calçolas'.

    A risada foi geral. - Essa é boa, completei dizendo que existia até uma corrida dp 'jegue de caçola', salvo engano em Ricaho do Jacuipe.

   - E mais - lembrou Tolentino - um aderente dos Tomés, Francisco, que tem o apelido de 'Franga' já disse que o jegue é de Zé de Bilinha, o qual é filho de Zé dos Couros e primo do Cabo Tubaina, portanto, deve ser respeitado porque é um 'senhor' de posses.

   - Daí - completou Pinguinha com cara que já tinha tomado todas - a madame esposa do tal deve estar comprando uma 'calçola' de grife, quem sabe uma Victória's Secret - embolou a lingua toda para falar esse nome - e, portanto, temos que considerar.

   - Mas, essa loja do Vitória não tem no shopping - ponderou Alírio.
 
  - Não é do Vitória é Victoria's e se não tem nem do Vitóiria nem da Victoria's, como essa tal é ousada, ela vai comprar a calçola em NY.

   Segui foi meu caminho pra casa que, a essa altura, Ester já estava agoniada com a  minha demora e lá fui eu dirigindo minha Brasília cor de bufa com a cabeça cheia de novidades...cabrito, franga, jegue, calçola...

   - Demorou nessa sua visita a Barrocas - reclamou Ester quando entrei em casa.

   - Passei no Teco para um prosa com os 'meninos' e soube foi de coisa da Serra inclusive de uma 'senhora' querendo comprar uma calcinha da Victoria's Secret - respondi.

   - Encontrei com ela nos corredores, chateada, dizendo que iria a NY porque não enontrou  a marca que desejava no shopping da Serra.

   Suspirei, deu uma risa, coisa rara, e fui tomar um banho comentando...eita Serrinha que tem história & estórias.