Cultura

CARNAVAL é cada vez + dos camarotes e gordos se lavam, p OTTO FREITAS

Camarotes reinventam, os antigos bailes dos clubes
Otto Freitas , Salvador | 09/02/2015 às 10:49
Tudo de bom para a dieta dos gordos
Foto: Contigo
Se o capilé estiver garantido, apesar da crise, quem é gordo vai se esbaldar no Carnaval de Salvador que está se transformando, ano após ano, em Carnaval de camarotes. Para os obesos é a única opção, por conta do excesso de peso e do corpanzil que os impedem de andar, pular atrás do trio elétrico e disputar os espaços apertados da festa. 

Nos camarotes há espaço à vontade, conforto e segurança. Não falta o sofazão confortável, no ar condicionado, para se afundar e relaxar. Os maiores, melhores e mais caros podem chegar a R$ 2 mil por pessoa/dia (há cerca de 20 deles, espalhados pelo circuito Barra/Ondina), são all inclusive e geralmente estão ligados a grandes marcas e artistas ou personalidades.  

É boca livre de alto nível. Além de se lambuzar nos comes e bebes, gordos e magros veem blocos e trios desfilarem na avenida. Nos intervalos, assistem a shows ao vivo, no próprio camarote, de cantores e bandas locais e nacionais. Também não faltam aqueles mimos e brindes. Todo mundo sai de lá com a chave do rabo torta. 

Há outras modalidades de camarote, mais simples, mais baratos (em torno de R$ 300,00 por pessoa/dia), mas é uma luta para conseguir um espaço na frente, para ver o Carnaval passar - sem contar a briga de foice que se trava, em alguns deles, nas filas para comprar comida e bebida. São instalados em bares e restaurantes, ou improvisados em residências, lojas e escritórios, tanto na Barra/Ondina como no Centro da cidade.

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Os camarotes de hoje ocupam na festa o espaço que antigamente era dos clubes: quando o Carnaval de rua acabava, no fim da tarde, à noite todo mundo ia para os bailes animados por orquestras, bandas de sopro e percussão e cantores famosos. Os foliões davam voltas no salão, todo mundo fantasiado, jogando confetes, serpentinas e aspergindo o aroma frio de lança-perfume em cangotes e costas nuas das moças. 

Tudo começava no revellion, quando os cavalheiros usavam smoking e as damas longos vestidos de noite. Até às 2 da manhã, era festa com dança de salão. Daí em diante, virava Carnaval, até de manhã. Esse horário foi recuando, recuando, até que o revellion virou só um baile de Carnaval.
 
Nos dias de Momo, havia os bailes pré-carnavalescos, como Oxum (quarta-feira, em locais diversos), Iemanjá (quinta-feira, no Clube Português), Preto e Branco (sexta, no Bahiano de Tênis) e o Baile das Atrizes, no Teatro Vila Velha, também na sexta. 

Nos dias de Carnaval, além dos bailes noturnos, havia matinèes infantis e bailes especiais, realizados durante o dia, como as famosas e tradicionais Batalhas de Confete e Gritos de Carnaval – entre todos, Fantoches e Cruz Vermelha faziam os mais famosos e populares.

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Como uma coisa puxa a outra, a dimensão internacional do Carnaval da Bahia acabou atraindo gente do mundo inteiro. Além de atores, modelos, esportistas e celebridades diversas, quase todos os artistas, de variados quilates e segmentos, correm pra cá nessa época do ano, para botar o nome no gibi e buscar uns trocados, que ninguém é de ferro. 

Além dos axezeiros de primeira linha, tem sambista, roqueiro, pagodeiro, sertanejo, arrocheiro, forrozeiro, seresteiro, raper e DJ de variadas estirpes cantando nos trios elétricos e fazendo shows nos camarotes. Como diz Don Franquito, durante o verão, até o Carnaval, não falta é celebridade com dendê no sangue.

Pelo andar do trio elétrico, parece mesmo que o Carnaval da Bahia caminha para se consolidar como uma festa-exibição, sem blocos, sem corda e sem abada. O chão do asfalto será do povo e do trio elétrico, palco andante sobre o qual atrações nacionais e locais vão se revezando. 

Nos dois lados da rua, só os camarotes, onde o público, herdado dos blocos e dos clubes, vai assistir aos shows dos trios e ver o povo atrás, fazendo sua festa lá embaixo, junto com os ambulantes, no aperto, no empurra-empurra, trocando socos e pontapés entre si e tomando porrada da polícia.