Cultura

TURISTA RUSSO fica encantado com Lavagem do Bonfim e baiano rebolativo

É cada coisa que se vê nesta Salvador da Bahia que se admira
Tasso Franco , da redação em Salvador | 18/01/2015 às 11:14
Turista russo acompanhouna lavagem do Bonfim de ponta-a-ponta
Foto: BJÁ
​   Seguia o jornalista Chico Bruno pela Avenida Estados Unidos durante o cortejo à Lavagem do Bonfim quando, de repente, se bate com o 'turista russo'. Comendo uns amendoins cozidos, Chico se aproxima do 'russo' e diz: - Eu lhe conheço de algum lugar. Já sei! Foi no Bahia Já que li uma crônica falando que você está fazendo turismo em Salvador, se encontrou com Andrea Silvas, aquela repórter da TV da Bahia, na festa de Santa Luzia e está até hoje por aqui!

   - É que gostou muito de Bahia e vou ficando pelo menos até terminar o veron (quis dizer verão) e também porque dizem que tem boa festa de Carnaval na Salvador - respondeu.

   - Uai! Cê não tá vendo aí nesta festa que já foi religiosa o povo feito uns doidos dançando atrás desse rixô elétrico? 

   - Eu ia ali no meio, mas, quiseram tomar mi máquina de fotos emprestada e sai de lá. Mas tava bom o som daqueles rapazes e tinha muitas moças bonitas dançando, requebrando - comentou o 'russo'.

   - No Carnaval é que você vai ver coisa. Os trios são enormes e você tem que usar uns protetores nos ouvidos para não ficar surdo.

   - Minha mãe já diz que sou meio surdo. Imagina! Eu vou apreciar de longe, respondeu o turista.

   - Nada. Você pode brincar no trio de Bell Marques, na 'pipoca' que é tranquilo! - sorriu Bruno apontando que legal era sair fora das cordas, na muvuca popular dando cotoveladas e abrindo caminho.

   - A moça da TV já me disse que é perigoso.

   - Perigoso nada! Quer um amedoim - ofereceu Bruno - passando uma porção para o gringo.

   - Tem bactéria?

   - Que bactéria! Produto de qualidade cozido no Pelô em latas de tinta. Não é pra comer com a casca. V descasca e come a polpa - apontou o jornalista balançando a cabeça com sinal de aprovação.

   Nisso passou uma mulata daquelas de arrepiar os cabelos dos braços, vestida num amarelo chamativo, sapato alto, um bundaço de fazer inveja a qualquer tambor surdo do Olodum.

   - Que bonita - disse o 'russo' apontando a moça para Chico - e fazendo premonições: -  Se ela me quizesse bem que ficaria até morando na Bahia. 

   - Vá atrás...quem sabe você consegue alguma coisa. Agora cuidado pra ela não lhe dar um rabo de arrraia, rodar a baiane v se esparramar no chão.

   - Sou cossaco não caio assim fácil. 

    Nesse papo a moçoila desapareceu na multidão que acompanhava o rixô elétrico e o  'russo' sacou um pequeno binóculo da sacola querendo ver se enxergava a bunduda.

   Ainda assim, agradeceu os amendoins de Chico, tomou um gole de cerveja de uma 'periguete' que estava em mãos e se despediu dizendo que iria na levada do rixô já com os dedos pra cima cantando uma música de Cor do Som que era executada por Fred Menendez.

   Lá adiante, na praça da Associação Comercial, o 'russo' suando em bicas, faces vermelhas devido ao sol morgou num canto esperando a muvuca passar. A essa altura, a mulata, boa pisadeira no samba, já estava do Mercado do Ouro pra lá.

   "Ajaiô...ajaiô" -  o 'russo' apurou os ouvidos para escutar o 'grito de paz' do bloco Filhos de Gandhy. Reergue-se animado, sacou a máquina de fotos e tome cliques. 

   Quis então saber de uma vendedora de cerveja que grupo era aquele, só homens todos fantasiados e repletos de colares nos pescoços, protegidos por seguranças, e a moça que gritava 'três latinhas por R$6,00, geladas, cu de foca", explicou que se tratava de um afoxé do Carnaval.

   Aí embaralhou a cabeça do 'russo' que nada sabia sofre afoxés e a vendedora adicionou explicações situando que era um ritmo, uma música, e até moveu os braços feito uma sanfoneira mostrando como se dançava. 

   E não é que o 'russo' gostou e seguiu na pisada do Gandhy, doido por um colar daqueles dos 'negões' para colocar no seu pescoço, pedindo a um e a outro e nada conseguindo!. Quis comprar um colar, e nada. Aí perguntou a um integrante do Gandhy porque ele não conseguia um color, pois vira vários sendo entregues a mulheres. 

   - A gente dá as mulheres em troca de um beijo, um 'chupão' - sorriu o Gandhy.

   - Chupon, o que é isso, quis saber o 'russo'.

   - Uma 'colada' um beijo na boca, beijo com lingua.

   - Vixe - olha o 'russo' já falando o baianês - então é por isso que não ganhei um colar.

    - Nem ganhou, nem vai ganhar. Se ainda fosse uma 'russa', uma tenista igual adquela grandona Maria Shaparova, tudo bem. Então vá 'amarrar seu bode' noutro terreiro.

   O 'russo' sem entender nada do que falava o negão sobre 'colada', 'bode', 'terreiro' e outras falas do baianês se contentou foi em seguir o Gandhy e repetir a palavra 'ajaiô', até a altura da Feira de São Joquim.

   Daí em diante abandonou o Ghanhy e preferiu seguir a levada do Grupo Cultural BomBocado, pelo menos era bloco misto, e poderia se dar melhor com alguma nativa. Deu errado. Quase fica foi surdo com os repiques da garotada.

   ​Quando chegou na colina do Bonfim o 'russo' tá exausto, mas, feliz da vida. Mas, faltava o principal que era tomar um banho de água de cheiro de alguma baiana. Hic! não achou mais nada. Chegou atrasado e já não encontrou nenhuma baiana disposta a jogar um pouco d'água em sua cabeça pra tirar uma foto e mandar para a mãe em Moscou. 

   Nisso aparece um baiano vestido de baiana, todo rebolativo, com uma jarra d'água na cabeça e o 'russo' não contou história: - V podia molhar minha cabeça, jogar água nela. 

   O 'baiano' rodou as sandálias e olhando por turista, achando-o mais do que simpático, comentou: - Só se for agora meu galego.

   O 'russo' ficou numa alegria danada, usou o pau do selfie e clicou tudo para a posteridade. 

   Tá tão alegre e já se tornando baiano que só vai voltar pra Moscou depois do Carnaval. Agora, então que conheceu esse (a) baiano (a), nem sabe ao certo, é que vai ficando...vai ficando na Salvador da Bahia.