Cultura

PATRIMÔNIO histórico de Serrinha está indo todo ao chão, TASSO FRANCO

Uma destruição que descaracterizou o centro histórico da cidade fundada como povoamento e depois vila, em 1690.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 30/12/2014 às 23:37
Igreja matriz de Senhora Sant'Anna, último exemplar da fase colonial da vila e cidade
Foto: BJÁ
   O casario dos períodos do Brasil Colônia, do Império e da República Velha em Serrinha (1760/1930) foi quase todo destruido pelas 'picaretas do progresso' restando, na atualidade, desse Patrimônio Histórico Arquitetônico, poucos exemplares em pé e conversados. 

   Há, ainda, alguns exemplares abandonados e caindo aos poucos, outros sendo devorados pelas marretas e, como não existe uma legislação municipal de preservação desse patrimônio, em poucos anos mais, vão sobrar poucos para contar a história.

   E, um povo sem história, uma comunidade sem cuidar de seu patrimônio, não existe. Tende a ser uma 'terra de ninguém' e isso é terrível porque fica sem identidade, sem referências. Veja que Londres, bombardeada casa a casa pelos alemães durante a II Guerra Mundial, reconstruiu sua mancha história. Salvador mantém vido seu centro antigo, que os espanhóis chamam de 'casco antigo', Cachoeira da mesma forma, Lençóis idem, Itapicuru da mesma maneira.
 
   Ninguém vem a Salvador visitar Brotas ou a Baixa de Quintas e sim o Pelourinho, o centro histórico da cidade; e ninguém vai a Londres para ir a Hendon e sim a Picadily Circus a Westmister. 

   Visitar Serrinha, hoje, ficou sem a menor graça do ponto de vista de sua história, de suas tradições, salvo os filhos da terra que ainda vão por lá. 

   ÚNICO EXEMPLAR

   Só há um único exemplar arquitetônico da época do Brasil Colônia, a Igreja Matriz de Senhora Sant'Anna que data de 1780, segundo consta no seu frontispício. A casa de Bernado da Silva que fundou a vila no Século XVII foi derrubada e deu lugar ao antigo Paço, Câmara e Cadeia, construção que data do inicio do século XX, hoje, abandonado, caindo aos poucos.

   Na Praça das Barrigudas (árvores), centro monumental da cidade, depois Praça da Vila, Praça Municipal, Praça Manoel Victorino e hoje Praça Luiz Nogueira que reunia o maior número de casarões dos séculos XIX e XX, modelos coloniais e clássicos, alguns 'art deco', quase tudo foi ao chão. 

   Restam, ainda, a igreja matriz, o antigo paço, o palacete da familia Nogueira (sede de repartições da Prefeitura), a casa de Miroró (ao lado deste palacete), a casa de Zé Quarentinha, a casa da familia Antonio Santiago e a antiga casa de Joaquim Hortélio, em ruinas.
 
   Nada mais. Tudo foi abaixo. Uma destruição que descarecterizou completamente esse centro história, que era residencial e comercial, hoje, praticamente, se transformando numa centro comercial, um dos mais dinâmicos e valorizados da cidade. 

   A casa em estilo neo-clássico de Dr Valdemar, médico pioneiro da Leste, virou o Bradesco; o casarão dos Hortélio é a Insinuante; a casa de Lauro Murta, exemplar do inicio do século XX, se transformou num caixão, uma loja de móveis; a chácara de doutor Zé Mota, um arruado de casas comerciais; a antiga chácara do padre, o Banco do Brasil; a casa de Moacir Bacelar, um estacionamento; o palacete de Sêo Leobino, um hotel. 

   Diga-se, de passagem, que essa destruição do patrimõnio histórico de Serrinha vem de longo tempo, não sendo responsabilidade deste ou daquele prefeito. 

   Em tese, da década de 1970 para cá todos teriam 'culpa no cartório' porque não criaram uma lei e não impediram essa descaracterização. Nos últimos anos, essa derrubada só fez se acentuar e a tendência é que nada mais reste, salvo a igreja matriz que certamente o bispado não vai permitir que as 'picaretas do progresso' ponham os sinos no chão.

  Oremos, pois, para que isso não aconteça e que o antigo Paço, que fica ao lado, não desabe sobre a matriz destruindo os dois mais valiosos prédios dessa praça de uma só vez.