Cultura

GORDOS arrasam na temporada do The Voice Brasil, por Otto Freitas

Tem corpito de todos os tamanhos e vozeirão para todos os gostos.
Otto Freitas , Salvador | 26/10/2014 às 19:52
Kall Medrado abalou
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Gordo de raiz sempre pode virar um artista famoso, geralmente como ator, ator-humorista ou cantor popular e lírico. Há exemplos como Jô Soares, Leandro Hassum, Fabiana Carla, Tim Maia, Alcione, Fafá de Belem e os sertanejos Cesar Menotti e Fabiano, além do fantástico tenor Pavarotti, só para citar alguns. 

Na temporada atual, o The Voice Brasil, programa da Rede Globo que se propõe a revelar novos cantores, vem selecionando um número surpreendente de candidatos obesos, como jamais se viu em um programa de TV. 

Como o The Voice busca a voz e não o corpinho enxuto e a carinha bonita, os gordinhos estão fazendo o maior sucesso nas noites de quinta-feira na TV. Dos 50 selecionados na primeira etapa, há alguns acima do peso e pelo menos uns 10 por cento de obesos. 

Com sua versão suingada de Drão, de Gilberto Gil, Lui Medeiros arrasou. O cantor do subúrbio Irajá (RJ) continua gordo, mas já perdeu muito peso, após uma cirurgia bariátrica, depois de chegar a quase 300 quilos. “Só passei a cantar de verdade depois que operei”, diz o artista que, desde 2009, está na batalha, se apresentando profissionalmente. 

Kall Medrado, baiana de Salvador, já carregou 150 quilos, mas agora, aos 29 anos, conseguiu se livrar da metade deles, com dieta, exercícios e acompanhamento profissional. Para ela, que usa seu vozeirão afinadíssimo para fazer firulas em canções de blues e jazz, a vida artística é difícil para um obeso, pois é preciso ter fôlego, disposição e saúde para aguentar o ritmo intenso.

Entre as gordinhas classificadas para a próxima etapa do programa, outras três se destacaram: Débora Coutinho, 20 anos, de Fortaleza (CE), fez a primeira apresentação pública de sua vida interpretando música folclórica americana; Rose Oliver, 27 anos, do Rio de Janeiro, além dos quilos a mais, levou para o palco sua bela voz e uma brasileiríssima interpretação da Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; e Twyla, 28 anos, de Taubaté (SP), que prefere rock e blues e há anos canta em eventos e shows pelo Brasil. 

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Como também na televisão nem sempre o mérito prevalece na hora das escolhas (dizem, inclusive, que haveria certos tipos de teste muito menos ortodoxos), fica uma ponta de dúvida: os gordinhos estão mesmo sendo escolhidos pelo talento e a qualidade da voz, ou porque os juízes decidem às cegas?

Quando viram as cadeiras, a decisão já está tomada, não dá para voltar atrás. Nessa hora, às vezes alguns nem conseguem disfarçar a surpresa ao constatarem que aquela voz é de um gordão ou de uma gordinha. 

Tomara que não seja assim e que a TV brasileira esteja mesmo caminhando para acabar com a discriminação dos obesos na telinha (tradicionalmente, gordo só serve para fazer graça em programas de humor).
 
A vitória de Ellen Oléria na primeira temporada, no entanto, já foi um ponto a favor de novos rumos. Mas Oléria certamente, ainda hoje precisa enfrentar um caminhão de preconceito no seu dia a dia, porque é obesa, negra e lésbica assumida.