Cultura

CINEMA: Um Belo Domingo, de Nicole Garcia, França 2013, p DIOGO BERNI

Em Um Belo Domingo, Baptiste (Pierre Rochefort) é um homem solitário, que trabalha como professor no sul da França. Na véspera do fim de semana ele vê que um menino foi esquecido pelo pai negligente
Diogo Berni , Salvador | 27/09/2014 às 09:29
DIVUm Belo Domingo
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   Se queres, ou melhor, se desejas ver um filme genuinamente francês de corpo e alma, então nesse caso eu tenho uma boa dica para você: Trata-se de Um Belo Domingo (Um Beau Dimenche), dirigido e co-roteirizado pela Nicole Garcia, França, 2013. 

   Quando me referi a um autêntico filme da escola francesa, leia-se que escrevo que é um filme que terás de entender o lado psicológico das personagens, e por isso o filme se torna denso por essa peculiaridade dos filmes franceses ( e essa característica do destaque do psicológico das personagens é “marcada” até nas comédias dos filmes deste país, criador do cinema, por sinal ). 

   Entretanto Um Belo Domingo parece exagerar, ou melhor, o filme consegue ser mais denso do que “ os mais densos” dos filmes franceses que já vi, ao menos, os desse ano. 

   Apesar da densidade exacerbada, o que ao ver é ótimo, mas tenho certeza que para maioria é um martírio; Mas o filme nos conquista por ser uma obra de fragmentos ou mistérios que vão “dando as caras” na sequência da obra fílmica em seu roteiro ajustadíssimo e sem nenhuma brecha que avinhe-se a comprometer ao filme negativamente. 

   De início temos a impressão que trata-se um filme infantil e besta com um professor de matemática que não consegue ficar mais de um trimestre em cada escola que leciona. Eis que um dia o solitário professor francês se vê em uma situação atípica: Um dos seus alunos mais sensíveis e inteligentes, e por isso o que ele gostava mais entre todos da classe, é esquecido pelo pai na escola depois da aula. 

   O professor então, prontamente pega sua moto e o leva ao pai, mas ao perceber que este não estava a fim de passar o final de semana com o filho, o professor se dispõe a ficar com o menino duranteesse tempo enquanto o pai iria se divertir com uma nova namorada que não ia muito lá com a cara do garoto. 

  O pai do garoto diz que ele tinha caído do céu e libera para que seu filho passe dois dias com um professor desconhecido. O garoto no dia seguinte pede ao professor que o leve ao encontro da sua mãe: Uma garçonete que trabalhava em uma barraca de praia mais ou menos próxima da escola do guri. 

   Chegando à praia o solitário professor de matemática sente algo diferente pela mãe do garoto. Papo vai e vem, e os dois acabam por ficar para dormir na casa da mãe do garoto, separados, obviamente. Paralelo a este inicio de um talvez relacionamento existia um problema por parte da mãe do garoto. Antes de se tornar garçonete ela tinha tentado abrir um restaurante para manter a sua tradição familiar, já que seus pais tinham um restaurante quando estes ainda eram vivos; 

   Entretanto sua filha não era muito boa em negócios, de modo que o restaurante em que ela queria abrir deu um prejuízo financeiro volumoso e volta e meia os cobradores vinham lembrá-la da dívida antiga, porém vigente, e ainda com juros e correções monetárias a cada dia em que ela não pagava.

   Por puro desespero após ter tido apanhado certa noite por um dos seus cobradores, a mulher explica sua situação para o até então introspectivo professor de matemática do seu filho. A segunda parte do filme ou a virada deste acontece neste exato momento da explicação do olho roxo da mulher para o professor, até então desconhecido. 

   Como não tinham grana para pagar a dívida os dois e o garoto fogem para Barcelona para a casa de alguns conhecidos. Eis que o filme muda pela terceira vez para seu desfecho; Parte esta que preenche setenta e cinco por cento do filme, ou seja, uma boa parte e a mais legal e importante também. No caminho de fuga para Barcelona o professor pede para que fizessem uma parada em frente ao portão de uma mansão, e para surpresa do professor cigano e de todos do carro existia uma pessoa olhando fixamente para eles de um modo convidativo; 

  Eles se mandam dali e do olhar compenetrado de uma mulher e vão dormir num hotel a três quilômetros daquele casarão. No dia seguinte os três voltam e o professor resolve entrar na mansão sozinho, deixando o garoto e a garçonete no carro. Realmente só posso contar até aqui, pois mais uma única linha escrita com certeza contaria o filme todo ou ao menos a ideia principal ou dilema principal dele. 

   O que posso adiantar é que será um filme que ficará algum tempo mexendo com seu inconsciente, e acho que mexendo de uma forma legal; Excelente pedida para qualquer dia da semana, entretanto sugiro que tome um café antes e outro depois da sessão.