Cultura

HUMOR da Turma do Xaxado fica de luto com a morte de Antonio Cedraz

Vide
Tasso Franco , da redação em Salvador | 11/09/2014 às 10:26
Antonio Cedraz criou a grife A Truma do Xaxado
Foto: Arquivo Pessoal
   Vitima de câncer de intestino faleceu nesta quinta-feira, 11, o quadrinista baiano Antônio Cedraz, autor da Turma do Xaxado, uma tirinha e publicação tipicamente baiana e nordestina.

   Ele estava internado no Hospital Português desde o dia 31 de agosto por conta de complicações no tratamento de um câncer no intestino. Antônio Cedraz deixa a mulher Lucineide Cedraz  e três filhos. Ainda não informações sobre o sepultamento.

O humor universal de Cedraz

O formato de tiras de quadrinhos tem algumas características próprias, adquiridas ao longo de seu desenvolvimento, principalmente dentro da indústria cultural norte-americana. Embora algumas dessas características não sejam exclusivas das tiras, aparecendo também nas HQs de aventuras e heróis, o trabalho feito para publicação em tira precisa ter uma certa universalidade. O veículo original – e ainda o principal veículo – para a publicação da tira é o jornal de grande circulação. Como este jornal tem uma gama muito variada de leitores, com formações culturais muito distintas, a tira deve possuir uma temática muito geral para ser entendida e apreciada pela maioria. Na produção norte-americana, a exportação para outros países é uma realidade, portanto, as características gerais das tiras devem ser ainda mais amplas, pois serão vistas por outros povos, ainda mais distintos culturalmente.

No Brasil, muitas séries em tiras têm características não condizentes com este padrão global. Uma dessas características é a de tratar de temas mais atuais, às vezes até mesmo políticos. Uma das causas dessa variação é que o Brasil tem uma tradição muito forte na charge e no cartum e muitos autores de tiras são também chargistas e cartunistas. Outro ponto é que não há no Brasil um esquema forte de distribuição, assim não há uma preocupação forte com a republicação de uma tira em outros jornais, ou posteriormente em livros. Assim, a tira, como a charge política, é vista pelo autor como algo apenas para publicação imediata. E isto lhe permite abordar os temas mais “perecíveis”. Além do que, ao abordar estes temas não permitidos aos trabalhos estrangeiros, a tira brasileira tem um diferencial a mais para disputar o restrito mercado.

O trabalho de Cedraz, pela sua própria formação e pelas influências que sofreu, mantém esta característica de universalidade, de usar temas de entendimento geral e não limitados no tempo. Já era assim com as séries anteriores criadas por Cedraz e ainda são nesta Turma do Xaxado. No entanto, apesar da preocupação em fazer uma tira que possa ser apreciada pela maioria das pessoas, Cedraz inseriu em seu trabalho características não usuais no padrão universal. Em vários momentos, a tira aborda temas polêmicos como a corrupção dos políticos, a exploração do trabalhador agrícola, a criminalidade do menor abandonado etc. De modo geral, resulta em tiras muito bem feitas, onde a contundência do tema é preservada, mesmo com o enfoque humorístico. E sem perder a comunicação fácil com o público leitor.

O humor é outro ponto de destaque da série. Principalmente nas tiras em que o protagonista é o personagem Zé Pequeno. Este personagem é hoje o que o Chico Bento de Maurício de Sousa foi em sua origem, um molecão bem caipira, com um comportamento nada recomendável, mas muito engraçado. Maurício transformou Chico Bento em um menino bem intencionado, onde os defeitos são minimizados, quando não transformados em virtudes. Mas o Zé Pequeno mantém as características iniciais, seguindo uma tradição que vem desde Pedro Malazartes, e espero que continue politicamente incorreto, dando maus exemplos e provocando boas risadas, como tem feito até agora.

Edgard Guimarães