Cultura

Corpo do escritor João Ubaldo Ribeiro é enterrado no Rio de Janeiro

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G1 , RJ | 19/07/2014 às 11:02
Berenice dá último adeus a JU Ribeiro
Foto: Kathia Melo
O escritor João Ubaldo Ribeiro, que morreu na madrugada desta sexta (18), foi enterrado às 10h deste sábado (19), no Mausoléu dos Imortais da Academia Brasileira de Letra, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Antes do enterro, a tampa do caixão foi reaberta para a despedida final da viúva Berenice Ribeiro. Embaixo do fardão da academia, uma camiseta com a estampa de Itaparica, na Bahia, onde nasceu.

Às 8h, na ABL, no Centro da cidade, uma cerimônia religiosa foi celebrada pelo capelão do Outeiro da Glória, Sérgio Costa Couto. Em discurso de despedida, o acadêmico Domício Proença Filho disse que João Ubaldo "partiu de surpresa" e que "a casa está triste já que perdeu recentemente Ivan Junqueira".

O acadêmico foi vítima de uma embolia pulmonar e morreu em casa, no Leblon. O corpo seria enterrado nesta sexta-feira (18), às 16h, segundo funcionários do Cemitério São João Batista, mas o velório sofreu atrasos por conta da chegada dos filhos que vieram de outros estados e país. A filha Manuela, que mora da Alemanha, chegou às 8h deste sábado portando malas e muito emocionada.

O velório no Salão dos Poetas Românticos, na ABL, começou na manhã de sexta e ficou aberto ao público até as 19h. Duas filhas do autor chegaram ao local no início da tarde. A academia decretou luto por três dias.

Várias coroas de flores chegaram à ABL durante toda a manhã, entre elas, uma homenagem de um dos bares frequentados pelo imortal. O corpo só chegou ao local, entretanto, por volta das 11h30.

O escritor era o 7º ocupante da cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras. Ele foi eleito em 7 de outubro de 1993, na sucessão de Carlos Castello Branco. O secretário geral da ABL, Domício Proença Filho, disse que Ubaldo era um escritor voltado para o povo brasileiro.
 
"Ele não vinha sempre, mas quando vinha, era uma festa, com aquela voz de barítono, aquela alegria. Ubaldo era um escritor voltado para o povo brasileiro, a realidade brasileira, com a justiça social. Tinha personagens que retratavam bem essa realidade. Tenho certeza que Zecamunista deve estar muito triste hoje", disse Proença.
O presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcante, contou que, nos quatro anos de presidência, encontrou com Ubaldo apenas uma vez, por conta de problemas de saúde do escritor.

"Ele deixa uma marca profunda na história do romance, com 'Viva o povo brasileiro' . Só estive com ele uma vez. Mas sei que ele era uma pessoa jovial, alegre, amigo e muito companheiro. Ele revolucionou o romance brasileiro com 'Viva o povo brasileiro' e 'Sargento Getulio'", disse o presidente.

A atriz Fernanda Torres, que no teatro encenou a peça "Casa dos Budas Ditosos", um livro de Ubaldo, esteve no velório por volta das 17h. “O espírito de "contador de causos" do João Ubaldo deixava as pessoas dependentes. Ela disse que conversou com ele há três semanas, quando precisou de ajuda. "Isso era uma característica dele. Ele era muito severo com as injustiças, mas um poço de candura com quem precisava dele", disse ela.

O cineasta Cacá Diegues disse que Ubaldo é um dos melhores amigos que ele teve. “Somos amigos desde a década de 60. Trabalhamos juntos em dois filmes meus 'Tieta do Agreste' e 'Deus é Brasileiro', em que ele ajudou no roteiro. João Ubaldo é um homem extraordinário. Sempre nos falávamos. Além disso é um dos maiores escritores do Brasil da época moderna", disse.

Internado em maio

A secretária Valéria dos Santos, que trabalhou durante dez anos com o escritor, disse que em maio Ubaldo chegou a ser internado durante cinco dias por causa de problemas respiratórios. Segundo ela, o escritor reduziu o cigarro, mas não chegou a parar de fumar, como foi orientado pelos médicos.

Valéria contou que há cerca de um ano e meio Ubaldo vinha escrevendo um novo romance, mas que não revelou seu conteúdo. Ele acordava por volta das 5h para se dedicar ao livro e por volta das 10h, parava para atender telefonemas e outras demandas.

"Ele acordou por volta das 3h [nesta madrugada] e chamou a mulher dizendo que estava se sentindo mal. Chamaram uma ambulância e os paramédicos tentaram reanimá-lo, mas ele já estava morto", contou Valéria acrescentando que o cardiologista particular dele também foi chamado.