Cultura

JEGUE de LULA pode levar gordos a jogos da Copa, por OTTO FREITAS

Sugestão do ex-presidente ajudaria a salvar o bicho do extermínio.
Otto Freitas , Salvador | 01/06/2014 às 11:57
O jegue "Pagode" já previu a vitória da seleção de Felipão
Foto: Correio
Outro dia o ex-presidente Lula disse que o brasileiro vai chegar aos estádios da Copa a pé, de bicicleta ou até de jegue. Bem que ele poderia mandar a presidente Dilma instalar um sistema de translado entre as arenas e as estações de metrô, de ônibus e estacionamentos - tudo na base do jegue. Além do mais, essa decisão contribuiria decisivamente para salvar esta subespécie, seriamente ameaçada de extermínio, após histórico reinado. 

Na Disney World, por exemplo, um carrinho elétrico puxa o trenzinho que transporta os visitantes entre os estacionamentos e os parques. Aqui, o jegue (Equus asnus) pode substituir o carrinho elétrico. Esse bicho aguenta peso e vai ajudar gordos, deficientes, idosos e um monte de gente que tem dificuldade de acesso aos estádios. 

Nordestino não vivia sem o seu jegue, que lhe servia de montaria, animal de carga e de tração na lavoura. A realidade e a ficção estão cheias de comoventes histórias de amor entre o homem e o seu jegue, companheiro de trabalho e de cachaça (no caso, é bico seco para o jegue), que lhe atenuava a solidão e o sofrimento na terra seca e na pobreza. 

Com toda sua fama e majestade, o jegue é tema de música, nome de banda de forró, personagem de novela e do folclore regional; há corridas e concursos; tem até jegue elétrico no Carnaval. 

Esse animal e seu dono viviam juntos para sempre, até a hora da morte. Hoje, tudo mudou: o custo de vida, o mercado e a crescente oferta de motocicletas a preços acessíveis estão obrigando o nordestino a abandonar o seu bicho do coração. Para o povo sertanejo, sua manutenção ficou muito cara e a moto leva inúmeras vantagens como meio de transporte. 

Diante dessa dolorosa realidade, o jegue vem sendo abandonado pelos seus donos, sertão afora, recolhidos em depósitos municipais cada vez mais lotados, para desespero dos prefeitos. Veterinários e entidades protetoras dos animais já saíram em defesa do jegue, apontando alternativas para sua conservação e novos usos. Extermínio, jamais. Até porque se trata de um bicho emblemático, símbolo cultural da nação sertaneja.  

@@@@@@

Bem dotado e insistente na conquista da fêmea, no imaginário popular o jegue representa ainda a suposta macheza do homem nordestino - aquele que toma cachaça forte, come buchada de bode e consegue seduzir as mulheres desejadas, incansavelmente, tal e qual o Jegue de Amoreira. 

Em certa manhã ensolarada, Jeffinho chegou ao largo de Amoreira, na ilha de Itaparica, junto com Césio Gordo, Bunda Podre e Pedro Bó, para fazer um ás e abrir o dia no armazém e bar de seu Totonho. 

O largo de Amoreira era então um extenso descampado de terra batida e capim, cercado de residências e pontos comerciais, em frente ao mar. Lá no canto, sob a sombra de uma castanheira, uma jega vistosa de ancas largas pastava indiferente. 

De repente, na outra ponta da praça, surge o mestre jegue, agoniado, exibindo toda a sua imensa potência. Relinchou duas ou três vezes e partiu sedento, em direção àquela que, por todo o resto do dia, seria a sua perseguida. Não houve um momento sequer em que tenha recolhido as armas, parecia ter tomado viagra para jegue. 

Quando se imaginava que o danadão conseguiria seu intento, a jega distribuía-lhe coices e fugia para outro canto do largo. A perseguição invadiu varandas, quintais e até mesmo o salão do bar onde Jeffinho e seus amigos já faziam uma quadra.                                                                                                                                                                                                                                                 

A essa altura, a plateia lotava a praça. O jegue tinha a maioria esmagadora da torcida, mas a jega resistiu com bravura, enquanto quis. Ao por do sol, resolveu se entregar à grandiosa persistência do mestre jegue.