Cultura

SALVADOR 465 ANOS: Foi esse rei barbudo quem colocou o nome da capital

Caramuru colaborou com Tomé de Souza e foi agraciado pelo rei Dom João III com uma sesmaria, da Graça ao Chame Chame, e morreu velhinho sendo sepultado na Catedral Basílica da Sé.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 29/03/2014 às 19:57
Dom João III, o Piedoso, o Pio, ao que tudo indica aquele que sugeriu o nome de Salvador
Foto: ILS
MIUDINHAS GLOBAIS:

   1. Salvador completou hoje, como cidade-capital, 465 anos de existência. Como Vila, 478 anos. E como comunidade já sendo colonizada por franceses e portugueses, desde Diogo Álvares, o Caramuru, 505 anos. Como local descoberto pela exploração de Gonçalo Coelho e cartografada por Américo Vespúcio, a Baia de Todos os Santos, 511 anos. 

   2. A cidade, já dita aqui neste site (vide nosso comentário em Cultura e Artigo) já foi a principal cidade do país, política, econômica e cultural, e hoje é a mais atrasada entre as capitais, necessitando de muitos investimentos para recuperar o tempo perdido.

   3. Dizer que Salvador é bela, tem paisagem natural exuberante, uma das mais belas baías do mundo, isso todo mundo está careca de saber. Que tem diversidade, cultura popular exponencial, muito potencial para crescer nesse aspecto, também todo mundo já sabe.

   4. A questão é que a cidade perdeu posições para as grandes do país, Rio, SP, BH, Recife, Curitiba, Porto Alegre, e está dificil recuperar ou pelo menos se igualar a elas. Primeiro porque os investimentos do governo federal para essas localidades são sempre muito mais relevantes do que os reservados a Salvador. Segundo porque o baiano não é empreendedor.



   5. Então, toda vez que Salvador promove uma reação, como está acontecendo agora, com os governos Wagner e ACM Neto, as outras localidades também estão se movimentando e Salvador fica sempre na rabeira. 

   6. Salvador é a única entre as grandes que não tem metrô. Recife tem desde a década de 1980. Fortaleza já tem 40km. São Paulo vai passar dos 100km. Quando o metrô de Salvador começar a operar, as duas linhas, lá para 2000 e já Deus quando, essas outras cidades já apliaram suas plantas. O Rio, então, nem se fala, com os mega-investimentos para as Olimpiadas, em 2016.

  7. A civilidade em Salvador é baixa, baixissima. Só o fato de que as pessoas e taxistas param nas ruas para fazer xixi já diz tudo. Brasília, SP, Rio, POA, etc, em determinados pontos a faixa de pedestre é preferencial para as pessoas. Os veículos param e as pessoas passam. Aqui, não arrisque que você estará sujeito a morrer. 

   8. A cidade está violentíssima. Só nas últimas três semanas foram mais de 60 homicidios e 3 mortes por assaltos de bandidos que chocaram a classe média: da professora em Itapuã, do ambientalista em Nazaré e do estudante de veterinária da UFBA. É impressionante: 30 veiculos são tomados de assalto todo final de semana.

   9. Há o que se comemorar nesta data? Sim. A cidade ganha novos investimentos e disciplina depois da desastrosa administração de João Henrique, por 8 anos, e dos baixos investimentos da primeira gestão Wagner. 

  10. Até 2017, a mobilidade urbana vai dar um salto com novas vias estruturantes oeste-leste e o tão sonhado metrô. O novo prefeito ACM Neto está pondo ordem na casa. No Carnaval, viu-se isso. Quem não respeitou as posturas municipais teve suas mercadorias apreendidas. Organiza-se o centro,  põe-se os postos de saúde e as escolas para funcionar, há um alento.

   11. O prefeito, no entanto, não deve perder seu foco e carregar nas tintas em festas, carnavais, etc. Ainda falta a essa gestão algo inovador no campo da TI e da inovação no emprego e renda. O prefeito anunciou nesta semana algo em torno do empreendedorismo com apoio do Sebare. Ainda pouco. 

   12. Espera-se, também, que a nova direção da FIEB, a assumir em 10 de abril, reforce o Cimatec e não deixe esse centro de excelência cair. Espera-se tb, que o governo do Estado dê um empurão no Centro Tecnológico da Bahia. Por enquanto, um semin-elefante branco.

   13. É isso: parabéns Salvador, 465 anos; parabéns Vila do Pereira ou Vila Velha da Barra, 478 anos; parabéns a Vila do Caramuru, 505 anos.
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   14. Agora, vamos falar da nossa enquente para saber como votaram nossos leitores sobre os 10 nomes que colocamos para indicar qual deles colocou o nome de Salvador na capital baiana. 

   15. Tomé de Souza foi o escolhido em primeiro lugar com 39.81% dos votos; em segundo, Dom João III, com 12.96%; em terceiro, Manoel da Nóbrega, 11.11%; em quarto Luis Dias 10.19%; em quinto, Francisco Pereira Coutinho, com 9.28%: em sexto, nenhum deles com 6.48%; em sétimo Caramuru, com 4.63%; em oitavo Garcia D'Ávila 3.78%; em nono Catarina Paraguaçu, com 1.85%; em déximo Pero de Gois com 0.93%.

   16. Quem assinalou Tomé de Souza perdeu. Ao que tudo indica quem sugeriu o nome de Salvador teria sido o rei dom João III, o qual, de tão católico era chamado de "O Piedoso", "o Pio", filho de Dom Manuel (aquele mesmo da descoberta do Brasil com Pedro Alvares Cabral) e que chegou ao poder com a morte do pai entre 1521 a 1557, reinado longo, próspero, com a missão de governar um extenso território de dominação que ia do Brasil, a China, África, e Índia. 

   17. Foi este rei que resolveu colonizar o Brasil a partir de 1534 com a divisão do território em capitanias hereditárias e que, em 1548, editou a Constituição Prévia do Brasil, em Almeirin, e seu governo central na Bahia, em 1548.

   18. Dessa reunião da Corte saiu a decisão de erguer uma fortaleza na Bahia, ponto central entre o Norte e o Sul do território, missão que coube a Tomé de Souza, um militar disciplinado. Então, ao que tudo indica, dom João III, quis homenagear o Senhor, a Igreja Católica, e colocou o nome de Salvador.

  19. Tomé de Souza já recebeu o prato pronto. Foi convocado pelo rei para instalar a fortaleza-cidade, por ordem na casa (Brasil) que estava bangunçada com as capitanias hereditárias, algumas com bons resultados como Pernambuco e São Vicente, e outras, inclusive a Bahia na desordem, na corrupção, na roubalheira. 

   20. Quem assinalou Manoel da Nóbrega também errou. Nóbrega veio com mais 5 padres jesuitas com a missão de catequisar o gentio (os nativos tupinambás) integrando uma Ordem Religiosa noviça e que havia sido fundada por Ignácio de Loyola no final do século XV. Nóbrega cumpriu bem sua missão, promoveu a primeira procissão da cidade, Corpus Christi, em 1549, e seus auxiliares atuaram entre Abrantes e São Tomé de Paripe.

   21. Embora o Marques de Pombal, séculos depois, tenha expulsado os jesuitas do Brasil, o legado jesuita na Bahia é imenso. A catedral é jesuita, padre Vieira era jesuita, o colégio dos Jesuitas foi o primeiro da cidade e o atual Vieira é uma instituição grandiosa. Os jesuistas, ainda hoje, seguem a mesma linha de Loyola: austeridade, negócios, muitos negócios na Colônia Brasil, e fé em Cristo.

   22. Quem apontou Luis Dias também errou. Luis foi o mestre-de-obras arquiteto. Aquele que escolheu o local para instalar a cidade e pôs a turma para trabalhar, carpinteiros, pedreiros e degredados que trouxe de Portugal. 

   23. Tomé e Luis depois do desembarque subiram uma trilha (atual ladeira da Barra) e chegaram ao Campo Grande, mata Atlântica cerrada e boa vista da Baía. Mas a linha de tiro era ruim. Andaram mais para a frente numa trilha (atual Av Sete) e chegaram a Piedade. Havia uma aldeia tupinambá. 

   24. Foram adiante e se situaram num platô, atual Praça Municipal, e aí acharam o local ideal. A linha de tiro para os canhões direcionados à baía era boa, no fundo tinha um rio charco, o que protegia dos tupinambás; a oeste uma escarpa e ao sul outra escarpa.

   25. Aí ergueram o núcleo central da cidade com duas portas: ao Norte (na rua da Misericórdia), a Porta Norte; e ao Sul, na altura do final da Rua Chile, a Porta Sul. Fecharam as portas, muraram o local e pronto. Até hoje está lá a Ladeira da Montanha, a muralha inicial da cidade.

   26. Luis Dias vive no ostracismo. Salvador nunca prestou uma homenagem a ele.

   27. Quem apontou Francisco Pereira Coutinho, o Rusticão também errou. Foi o primeiro donatário da Bahia com capitania hereditária que ia do Porto da Barra ao Rio São Francisco. Bruto, daí o apelido Rustição, brigou com os tupinambás e quis fazer a conquista na base do ferro e fogo.

   28. Fundou a primeira vila da cidade, a Vila Velha do Pereira, no Porto da Barra, arruado de casas que serviu a Tomé de Souza. Nas brigas com os tupinambás apoiados por Caramuru, se mandou para Porto Seguro a pedir apoio a armas ao seu colega Pero de Campo Tourinho e, na volta a Salvador, naufragou próximo de Itaparica e foi devorado pelos tupinambás. Acabou numa panela de barro, cozido.

   29. Quem colocou Caramuru e Catarina também errou. Caramuru (Diogo Álvares) chegou a Bahia em 1509/10 a serviço dos franceses e negociava pau Brasil com os armadores de Saint Malo. Ficou amigo de Jaques Cartier, um dos descobridores do Canadá, com quem mantinha negócios e foi com ele para a França, em 1528, quando se casou com Caratina Paraguaçu, que era uma tupinambá. 

   30. O Brasil nunca prestou uma homenagem devida a Catarina e a Bahia pior. 

   31. Caramuru colaborou com Tomé de Souza e foi agraciado pelo rei Dom João III com uma sesmaria, da Graça ao Chame Chame, e morreu velhinho sendo sepultado na Catedral Basílica da Sé. Catarina está sepultada na Igreja da Graça. 

   32. Garcia D'Ávila era filho bastardo de Tomé de Souza. Foi quem se deu melhor na Bahia. Ficou riquissimo com a criação da gado. Pero de Gois foi o primeiro alcaide. Quem apontou nenhum deles pode ter acertado porque, até agora, certeza mesmo ninguém tem quem foi que colocou o nome de Salvador em Salvador. 

   33. Mas, apostamos no rei barbudo, o Pio, como autor do nome.