Cultura

CINEMA: ELA VAI (Elle s'enva), um recado a velhice, por DIOGO BERNI

O frasco ( El frasco ), de Alberto Lecchi, Argentina, 2008. A qualidade do filme e roteiro estão justamente na simplicidade do enredo e dos personagens centrais
Diogo Berni , daSalvador | 14/03/2014 às 21:22
Deneuve, sempre exuberante
Foto: DIV
   Ela vai (Elle s´en va), dirgido e co-roteirizado por Emmanuelle Bercot, com Catherine Deneuve em ótima atuação, França, 2013. O filme é um recado à velhice, ou melhor, é uma dica de como lidar com ela. 

   Certo dia uma dona de restaurante de frutos do mar de uma cidadezinha francesa, e que trabalhava com sua mãe e tinha uma relação distante com a filha e o neto (tanto em quilômetros por morarem em cidades diferentes como em afinidades com sua única e geniosa filha). Mas como mencionava certo dia essa tal dona de restaurante tem um rompante, um disparate: pega seu carro e vai comprar cigarros. 

   Como havia parado de fumar desde a morte de seu marido acaba por conseguir o cigarrinho em outra cidade, pois na sua minúscula não tinha. Perguntando ali e acolá é convidada a entrar na casa de um senhor de uns 90 anos e por isso não conseguia enrolar um tabaco semi-industrializado e mais em conta devido aos tremores das mãos. 
   
   A mulher, através dessa cena, vê que está ficando velha também e isso talvez explique o seu rompante ou disparate de sair do restaurante sem avisar a sua mãe sem um rumo definido. Sabia ela que tinha que reaver suas relações com sua filha antes que fosse tarde demais e assim sendo conseguiria ter contato com o neto que tanto lembrava o seu falecido marido. Apesar do longa gaulês ser um roadmovie, ele nos permite uma reflexão do que é viver para os outros e o que é viver em prol de você mesmo e isso não esquecendo de quem amamos. 
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   O frasco ( El frasco ), de Alberto Lecchi, Argentina, 2008. A qualidade do filme e roteiro estão justamente na simplicidade do enredo e dos personagens centrais mostrando os nossos “hermanos portenhos” a nós, que mais uma vez, o que precisa para fazer bons filmes não são só orçamentos mastodônticos, mas sim ideias originais e interessantes.

    O personagem central da trama é um motorista de ônibus interestadual; Um sujeito desconfiado e com uma permanente insônia que o faz ficar distante das pessoas, diria que era um semi-autista com um passado misterioso. Em uma viagem o motorista conhece uma professora que lhe pede um favor: Levar seu exame de urina ao hospital da cidade ao lado, a cinquenta quilômetros da moradia do trailer da moça. Como ficara apaixonado no ato pela tal professora de primário o estranho motorista acaba por quebrar o frasco que estava a urina da moça e isso acarreta em mais alguns dias de uma insônia crônica na coitado do motorista solitário.

   Eis que surge uma ideia; Para não dizer que quebrou o pote ele acaba por colocar sua urina e entregar ao hospital dizendo à professora que tinha entregado seu frasco e em alguns dias iria ele mesmo pegar o resultado do exame. A moça, que também estava na seca, acaba se relacionando com o motorista misterioso e descobre o seu tenebroso passado, fato este que o fez transformar-se em um motorista de ônibus para fugir do seu próprio passado e suas amargas lembranças familiares. Por ser muito calado, no trabalho apelidaram como mudo, o que fez sua autoestima ficar pior ainda, se é que isso ainda era possível.

   Mas o “mudo” acaba mudando o jogo desfilando com uma mulher bonita em frente aos seus colegas, que obviamente ficaram roxos de inveja. Namoro vai e relação amorosa vem até que o casal feliz vai ao bendito hospital pegar o exame e então sem opção o motorista mudo acaba por contar que o exame era seu e não da sua namorada. No exame é constatado que o mudo tinha poucos dias de vida. Ele decide voltar a sua cidade natal e espantar seus fantasmas passados para pelo menos morrer em paz consigo mesmo.

   A fotografia do filme, apesar de ser quase toda rodada em um ônibus e por isso modesta, é linda. Os personagens fazem da sua simplicidade o trunfo de mais um filme argentino que mostra que tem muito a ensinar, em especial a esse país continental chamado Brasil. 
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   Um Conto do Destino, de Akiva Goldsman, EUA, 2013. O que é ser um ladrão? Podemos afirmar que é alguém que se encontra a margem da sociedade, ou seja, ao lado ou esquecido dos valores morais que a sociedade criou e julgou como corretos. 

   Entretanto o que diferencia um ladrão de uma pessoa que não se encaixa nesses vulgos valores sociais corretos? Poderia afirmar que são suas atitudes, ou seja, se você rouba algo de alguém é classificado como ladrão , todavia quando se é apenas alguém que não obedece as regras preestabelecidas não podemos taxá-lo como ladrão, mas sim um anárquico ou coisa do tipo. Pois bem, fiz essa introdução para vos apresentar o nosso protagonista que por ora era classificado como um ladrão, mas para os olhos de uma donzela apaixonada de vinte e um anos prestes a morrer de tuberculosa na Nova York de 1920, era um galanteador anárquico que roubara seu coração antes da sua morte. 

   O filme em si é um emaranhado de fantasias sombrias misturadas com sonhos em que o amor verdadeiro vence as mazelas do mal. Temos como antagonista um demônio, interpretado por Russell Crowe, que supostamente tinha criado esse “ladrão” depois que seus pais o deixaram jogado nas águas da baía de Nova York antes de partirem para a Irlanda, já sabendo que não chegariam até lá devido a viagem. 

   Como o amor é mágico esse suposto ladrão perseguido por todos os gângsteres da cidade tinha uma carta na manga que era um cavalo voador que sempre o salvava nas piores situações. Misturando o real com o imaginário o filme, que é uma adaptação de uma obra literária, surfa nesses dois gêneros de uma maneira peculiar que é: deixar-se que a imaginação tome as rédeas na disputa com a realidade dos seus personagens. Em suma então, trata-se de um filme principalmente para expandirmos nossas mentes e inquietações existenciais e voluntariamente deixarmos ser guiados por essa história surreal e interessante.