Cultura

GORDO FOLIÃO pode se dar bem no Momo dos camarotes, p/ OTTO FREITAS

Como não aguenta ir atrás do trio, a saída é o conforto dos camarotes
Otto Freitas , Salvador | 24/02/2014 às 09:39
Camarote Salvador, o mais chique e mais caro da cidade no Carnaval
Foto: BJÁ
Como não tem preparo físico para sair na pipoca, nem aguenta ficar atrás do trio, esse ano os gordinhos carnavalescos não precisam mais ficar em casa, pulando na frente da TV, dando a volta no sofá. Tudo indica que este será o Carnaval dos camarotes, com toda segurança, fartura, conforto e muito sofá para descansar, no friozinho do ar condicionado. 

Os camarotes nunca foram tantos e tão variados em Salvador. Até o da Brahma, um dos mais cobiçados do Rio de Janeiro e São Paulo, vem para Salvador pela primeira vez, depois de anos fazendo fama e atraindo celebridades internacionais – até a tia Madona já sacudiu o esqueleto nas suntuosas instalações vermelhas da cervejaria no Sambódromo. 

 Tem camarote para todos os bolsos e gostos. Por isso mesmo, o gordo folião precisa ter sustança financeira (os preços por pessoa/dia variam entre R$ 400 e R$ 1.200). Há também uns poucos só para convidados, mas aí ou você é uma celebridade ou precisa ter uma boa rede de relacionamento e fazer tráfico de influência para conseguir a camiseta-convite. Geralmente, esses são os melhores. 

Além de comer e beber até morrer (os camarotes são all inclusive ou, no mínimo, open bar), o carnavalesco de camarote conta ainda com serviços de customização das camisetas-convite, massagistas, cabeleireiros, manicures, podólogos e boates com DJs famosos, brasileiros e estrangeiros.

Melhor de tudo: no começo, os camarotes mais caros contratavam bandas de axé, pagode e similares, sem muita projeção, para tocar na boate, revezando com o DJ e garantindo a festa até a alta madrugada. Agora, as próprias estrelas do Carnaval - inclusive Ivete Sangalo, a maior de todas - também vão se revezar entre apresentações na rua, em cima do trio, e nos camarotes. Em alguns casos, os próprios artistas são os donos ou sócios dos camarotes. 

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Carnaval de camarote é no Rio de Janeiro. Carnaval da Bahia é participação popular, era o que se dizia. Mas já nas antigas, quando o melhor do Carnaval acontecia no Centro da cidade (Campo Grande, avenida Sete, Carlos Gomes, hoje chamado circuito Osmar), grupos de amigos e familiares costumavam alugar salas comerciais e apartamentos ao longo do circuito, onde improvisavam camarotes particulares. 

Com a criação do circuito Dodô, a Barra-Ondina roubou a cena do Carnaval. Bares, restaurantes e barracas passaram, então, a fechar seus espaços e vender ingressos e mesas, como se fossem camarotes. Até que Daniela Mercury, a primeira estrela a desfilar na Barra, também foi pioneira inaugurando seu famoso camarote só para convidados. 

O Carnaval foi crescendo, principalmente no circuito Barra-Ondina. Os blocos tornaram-se muito caros, mesmo com o espaço dentro da corda cada vez mais apertado; e a violência na rua tornou a pipoca perigosa. Assim, o camarote foi se tornando alternativa segura e confortável - para gordos e magros -, até se consolidar como espaço importante do Carnaval baiano. 

Enfim, ao que parece, as melhores atrações do Carnaval de rua estão de mudança para o camarote, com abada e tudo – mas sem o povo, que continua lá em baixo.

Será que chegará o dia em que os ricos, poderosos, celebridades e bicões vão ficar de camarote, assistindo o desfile da pipoca na avenida, atrás de trios elétricos independentes? 

Lá em baixo, os pobres, todos pretos (ou os pretos, todos pobres?) disputando espaço, trocando socos e pontapés, e apanhando da polícia, como sempre. 

Lá em cima, protegidos, os ricos assistindo a tudo de camarote e se divertindo, como sempre, desde os tempos da Roma antiga.