Cultura

‘Thigh gap’, o espaço entre as coxas, é a nova mania das modelos

É também uma situação preocupante, segundo nutricionistas
Globo , RJ | 15/12/2013 às 11:54
Espaço aberto entre as coxas é a mania das modelos
Foto: DIV
RIO - Depois da chamada “barriga negativa”, a nova invenção da turma que vive em torno da malhação e da dieta, eleita para virar o objeto de desejo da vez, é o thigh gap (em tradução livre, lacuna nas coxas). Para alguns, a ideia é realçar o espaço entre as pernas acima da circunferência das coxas; para outros, o “pecado” é que elas encostem uma na outra. Para atingir o objetivo, os adeptos lançam mão de alimentação e exercícios específicos — mas é importante lembrar que ter ou não um thigh gap depende da estrutura, inclusive óssea, do corpo de cada um.

 Se, para criar esse espaço, for necessário emagrecer demais, pode ser perigoso, porque a candidata corre o risco de ficar com um índice de massa corporal (o IMC, que mede o peso adequado a cada pessoa) baixo, e também porque é necessário zelar pela massa muscular das pernas, importante para das conta dos movimentos do dia a dia e para a circulação sanguínea.

— O thigh gap depende da genética e do percentual de gordura corporal. Algumas pessoas mudam seus hábitos alimentares e emagrecem muito, sem ter essa anatomia. Temos que tomar cuidado com padrões de beleza temporários. Os músculos da coxa são muito fortes justamente para sustentação do corpo e para promover o retorno do sangue. E, diminuindo a musculatura, podemos dificultar nossa autonomia funcional — alerta o professor de Educação Física Eduardo Horta.

Nas academias em que Horta dá aula, a Nissei, em Laranjeiras, e a Via Salus, no Leblon, ele indica os exercícios necessários para quem quer, de forma saudável, chegar a esse objetivo:

— Podemos realizar exercícios que trabalhem a musculatura anterior e posterior da coxa, e a parte interna e externa. É importante fazer os de abdução e adução de quadril e para quadríceps, trabalhados com mais repetição e menos carga, priorizando o trabalho de resistência, não com foco em hipertrofia.

Como em tudo que envolve um resultado que se quer alcançar no corpo, além de exercícios físicos, entra em cena a alimentação. O nutricionista Marco Antônio Gaioto, da Clinica Renewmed, lembra que, às vezes, para conseguir as coxas desejadas, não basta malhar, é preciso cuidar do que se come para se livrar da gordura que está escondendo os músculos:
— O cardápio para enxugar a gordura vai depender de cada pessoa, mas serve para todos a recomendação de evitar açúcar refinado e trocar pão e macarrão branco pelos integrais.

O nutricionista chama a atenção também para um erro muito comum na alimentação de quem acha que está fazendo tudo certo.

— É preciso tomar cuidado com o peito de peru defumado e o blanquet de peru que as pessoas costumam consumir, porque eles são embutidos, algo que não se deve comer com muita frequência — lembra Gaioto, que faz um chamado também ao bom senso. — Tem corpo bonito que não tem thigh gap e tem corpo que não é bonito que tem. Esse modismo não está necessariamente associado à beleza.

No primeiro caso, esta aí o corpo da atriz Grazi Massafera para testemunhar que encostar as coxas uma na outra pode ser, sim, muito bonito. Na internet, multiplicam-se publicações que refletem a mania do thigh gap. Há as que esclarecem os riscos e os aspectos anatômicos e fisiológicos envolvidos no assunto, mas também existem as que embarcam em delírios como “calcule o quanto você precisa emagrecer para conseguir um thigh gap”. Outras apenas brincam com frases conhecidas: “Mind the gap.” E há ainda as campanhas que mostram imagens de gente como Grazi, sem thigh gap e sem problemas de beleza, e o contrário: fotos, inclusive de passarela, de quem tem, mas que em nada lembram o usual conceito de belo.

Um traço essencial da moda do thigh gap é destacado pela bioquímica Lia Back, mestre em Biotecnologia que trabalha para a Biogenetika, empresa especialista em fazer avaliações para determinar a condição física de cada um e indicar as necessidades nutricionais e os exercícios físicos ideais para seu perfil genético:

— Especialistas têm apontado essa febre entre as adolescentes como algo realmente perigoso. A gente estuda justamente o perfil genético, as várias características que determinam a constituição física de cada indivíduo, para indicar a melhor dieta e o melhor exercício, que para uns deve ser mais aeróbico, para outros de resistência física, por exemplo. Guiar-se por uma moda como essa não leva a uma boa forma saudável. O corpo de cada indivíduo responde de um jeito, padronizar é um erro.