Gordo tem braço curto porque o tronco cresce para frente, para trás e para os lados. Assim, quanto mais engorda, mais os braços vão encurtando, e para realizar certos movimentos o gordo precisa se contorcer todo, como se estivesse dançando o quadradinho de 8 com Anitta. 

Na hora de fazer xixi, por exemplo, o braço não alcança o peru, que precisa ter pontaria autônoma e GPS instalado para acertar o vaso. Coçar as costas só com aquelas mãozinhas de cabo; e mais abaixo exige o contorcionismo do quadradinho de 8. 

O Dr. Giba, aquele amigo de Jeffinho lá da Paraíba, embora não seja gordo, nem tenha braços curtos, sabe perfeitamente o que é uma coceira em lugares do corpo difícil de alcançar. Depois de passar umas férias em praias nordestinas, tempo em que só não comeu buchada azeda, ele voltou para casa “com uma coceira do estopô no apertadinho”. 

Valendo-se de uma rica variedade de apelidos regionais para o anus, que na Bahia também é conhecido como cú, furico, fiofó, chicote e zé de obrar, entre outros, o Dr. Giba relata com humor sua epopeia proctológica, deixando Jeffinho, com seus braços curtos, preocupadíssimo.

“Lavava o rego de meia em meia hora, passava Hipoglós com espátula, mas não deu certo. Desesperado, tive a idéia de comprar um dedal daqueles usados pelas costureiras, com a superfície caspenta, crespa que nem a casca de jaca, para ver se aumentava a eficiência coçatória, mas também não deu jeito. Meu boca-banguela, coitado, já estava parecendo com o de um babuíno com hemorroidas”. 

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Como nada funcionou, o Dr. Giba resolveu procurar um médico, que lhe requisitou um exame de fezes. A seguir, uma síntese da história, cujo título é Andando em 8: 

“Acontece que esse material na minha barriga é abundante, mas fora dela é difícil que só político honesto. E eu tive que esperar, ter paciência - e ficar coçando. Esperei um dia e tome coceira. Mais outro e tome mais coceira. 

Eu já andava troncho que nem boca de bebado, com uma mão para trás, disfarçando aquele gesto indisfarçável do coçador de butico. Não podia ver uma quina ou uma ponta de mesa e lá estava eu me esfregando que nem boi infestado de carrapato, no tronco de um juazeiro.

No terceiro dia, não resisti o cumichão e corri para a farmácia mais próxima, para comprar um descomedor, um laxante, de preferência à base de creolina turbinada, para ver se matava o verme roedor de beira de frinfa. Já tava andando em 8, pinotando, com as pernas cruzadas, para ver se a fricção entre as bochechas da bunda ajudava a aliviar aquele sufoco. 

Enfim, com o material disponível, zuno para o laboratório. Entro já furando a fila, o pacote numa mão e a outra coçando o forroboscoite. Na recepção, deposito a tuia e, na maior moral, digo ao pé do ouvido da atendente: 

‘Minha filha, meu caso é grave e urgente. Meu anel de couro só tem uma peínha. Preciso deste resultado imediatamente. Senão, só um enxerto para recompor o que ainda resta dele’. 

Fiquei esperando e coçando. Em 15 minutos, ela voltou com o resultado: 

‘Moço, corra para a primeira farmácia e compre este supositório, pois, pelo grau de infestação, se tomar algo por via oral amanhã o senhor será um sem-cu!’” 

Nesse momento um agente da Vigilância Sanitária chegou esbaforido, paramentado com luva, máscara, capacete, camisinha, o escambal, perguntando: ‘Cadê o infeliz dono do rabo infestado pelo verme Curineus ratus’? A atendente apontou: ‘É aquele ali’.

Giba fugiu em disparada para a farmácia. Não houve mais tempo para nenhuma coçadinha. “Comprei logo quatro supositórios, fiz um trenzinho e os enfiei na contra-mão do cano peidoreiro. Só assim consegui preservar o que sobrou do meu end of espinhaço”.

Hoje, de vez em quando o Dr. Giba se lembra de uma das pragas mais malvadas que se pode atiçar contra o ser humano: “Tomara que as pulgas de mil camelos infestem seu furico e você tenha os braços bem curtinhos”.