Cultura

Mãe Stella assume cadeira na Academia de Letras que foi de Cecéu

Governador Wagner e prefeito ACM Neto compareceram ao evento
G1 ,  Salvador | 13/09/2013 às 09:24
Destino: Mãe Stella assume cadeira de Castro Alves que é criticado pela negritude
Foto: Egi Santana
Mãe Stella de Oxóssi recebeu o título de "imortal" pela Academia de Letras da Bahia (ALB) na noite desta quinta-feira (12), em Salvador. Stella de Azevedo dos Santos é a primeira mulher negra e mãe-de-santo a assumir o posto no Brasil. Enfermeira de formação, ela assume a cadeira 33, que tem como patrono o poeta, escritor e abolicionista Castro Alves.

Durante seu longo discurso, lido pelo acadêmico Carlos Capinam, em decorrência dos 88 anos da iaolorixá, Mãe Stella fez uma passagem por livros, poesias e frases famosas de seus antecessores na cadeira, como Castro Alves.

"Muitas pessoas lutaram para que eu pudesse ocupar esta cadeira. Entre elas. o patrono, que em vozes da África, clamou por nós. Se minha bisavó chegou ao Brasil presa a muitos outros negros africanos, hoje aqui me encontro acorrentada por um adorno que me une a todos os baianos, brasileiros e humanos. Letrados ou não letrados. O poeta dos escravos desejava ver todos os homens tratados com igualdade de condições. Por isso escreveu um dos mais conhecidos poemas da literautra brasileira, 'O Navio Negreiro'", pontuou em parte de seu discurso de pouco mais de uma hora de duração.

Em um segundo momento, levou a plateia que lotava o plenário da ALB à comoção quando, após agradecer, garantiu sua permanência na luta pela igualdade de direitos: "Sigo esforçando-me para que a religião trazida pelo povo africano ao Brasil seja devidamente respeitada. Sobre o fato de uma mãe-de-santo "marrom" - como se auto-intitulou após falar da herança portuguesa e africana de seus ancestrais -, assumir a vaga, ela acrescentou: "Afinal, sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça específica".

Formada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mãe Stella é a ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, fundado em 1910 em São Gonçalo do Retiro, no Cabula, na capital baiana.  No currículo de seus 88 anos, ela traz seis livros publicados, todos sobre a temática da religião africana, e dois títulos de Doutor Honoris Causa, oferecidos pela UFBA e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Participaram da cerimônia devotos do Candomblé, membros da Academia, representantes da sociedade e autoridades como o governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto.