Cultura

ALBAN Galeria de Arte mostra "Peles do Cárcere", de Williams Martins

Roberto Alban Galeria de Arte sediará a exposição Peles do Cárcere, do artista plástico Willyams Martins
Texto & Cia , Salvador | 23/07/2013 às 10:08
A partir do dia 2 de agosto para o público
Foto: Andrew Kemp
A Roberto Alban Galeria de Arte apresenta a partir do dia 1º de agosto para convidados e do dia 02 para o público a exposição Peles do Cárcere – Willyams Martins, que ocupará a galeria com 30 obras inéditas. As obras apresentadas fazem parte da série Peles Grafitadas, composta por imagens das superfícies murais das cidades através da técnica de remoção e deslocamento. Desta vez, o artista pesquisou e descolou imagens desgastadas existentes nas paredes da Penitenciária Lemos Brito, onde os presidiários imprimiram suas expressões subjetivas durante anos.
 
Em Peles do Cárcere, Willyams Martins expõe todo o trabalho de pesquisa realizado no Complexo Penitenciário. “A parede do presídio torna-se um suporte mediador de onde se retiram signos de referências sociais e artísticas, deslocando uma produção visual, um repertório de identificação”, explica o artista. A arte de Martins traz assim um olhar cuidadoso e com aspectos etnográficos sobre a vida no cárcere, ao mesmo tempo em sintonia e em oposição ao cotidiano estritamente urbano da vida moderna.
 
A exposição conta com o apoio financeiro da Fundação Cultural da Bahia, através do edital da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SecultBa, no qual 105 projetos foram inscritos e apenas 15 foram contemplados. A mostra Peles do Cárcere busca lançar um olhar diferenciado das imagens comuns existentes nas superfícies das paredes internas, externas e do urbanismo. “As imagens que estavam encarceradas formam uma polifonia de significados produzindo uma conexão entre o perto e o longe, o interno e o externo, aquilo que foi extraído da parede encarcerada e que agora está livre”, explica Martins. 
 
As imagens que compõem a mostra foram retiradas do presídio através da técnica de remoção, onde se utiliza tecido voille e resina de poliéster aplicado sobre a imagem para remover a “pele” das superfícies. Os conteúdos dos desenhos trazem conotações poéticas, filosóficas e abstratas sobre a vida e o cotidiano dentro e fora da cadeia.  “Durante a pesquisa pude contar com o auxílio dos detentos. Dessa forma, realizei o levantamento das imagens dentro das celas e lá encontrei desenhos, pinturas, números, frases, rabiscos e colagens. Imagens que os presidiários fazem como desabafo, mostrando sua subjetividade, seu traço individual, refletindo suas características singulares”, explica Martins. Muitas das paredes pelas quais Willyams removeu imagens foram repintadas na reforma geral que a Lemos Brito está passando, mas esse processo de libertação das imagens preserva na tela o que seria perdido através da reforma.
“O cárcere agrupa seres transgressores que estão reclusos, porque infringiram o Código Penal e por pertencerem a um determinado grupo socioeconômico. Ao adentrar neste universo e deslocá-lo para fora dos muros, Martins descortina todo um universo simbólico, trazendo à tona amores, crenças, desilusões, enfim, toda a humanidade das pessoas que são obrigadas a matar o tempo neste panóptico perfeito”, elogia o artista plástico Francilins Leal.
Movimento PUNK– A arte feita por Willyams Martins tem como fonte de inspiração, além do urbanismo, a música e a estética do punk brasileiro. Martins foi um dos fundadores da banda “Dever de Classe” nos anos 1980. “Na minha época musical, eu gostava de andar pela noite, então via essa degradação, as muitas linguagens expostas nos labirintos da cidade. Era uma verdadeira aglutinação de conceitos da contracultura e da arte conceitual. A arte urbana possui uma metalinguagem que possibilita a evolução nas definições de arte. A arte instaura novas realidades do mundo. A arte que nós criamos é muito mais provocativa, reflexiva, que incita novas conotações da realidade ao invés de ser utilizada apenas como objeto de decoração”, finaliza Martins.
 
Willyams Martins
Vive e trabalha em Salvador - BA - Brasil
www.martins.art.br
 
Artista Visual, mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia. Possui ampla experiência em oficinas em diversas instituições culturais, como, por exemplo, as de “laboratório instantâneo” em arte contemporânea apresentada no MAM-BA, relacionados à 29ª Bienal de São Paulo - Obras selecionadas. 

Suas obras transversais são permeadas pela articulação de diversos campos estéticos. Participou do documentário “paredes que hablam” para a TV do México e da Argentina. Participou de uma exposição coletiva em Bogotá - Colômbia. Recentemente, está expondo em uma individual na Estação Central do Metrô de Belo Horizonte - MG. 

Foi selecionado para a 11ª Bienal Nacional de Santos e seu trabalho, intitulado “peles grafitadas”, foi premiado pelo Braskem de Cultura e Arte, além de ter sido selecionado em diversos editais, etc. Atualmente foi selecionado com a oficina “salinas compartilhada” para o Programa BNB de Cultura - Edição 2012, como também foi citado na tese de doutorado: Enterros: Momentos Específicos, de Rebeca Stumm. Já foi professor de Pintura I e Teoria e Técnica de Pintura na EBA - UFBA. Atualmente é professor de Desenho VI (murais) e Processos Artísticos pela mesma Escola.