Cultura

DESCAMINHOS de Liberdade na poética de ZÉDEJESUSBARRÊTO

Esmagada de pobre orgulho
a gente bem que merece
outro, um novo Dois de Julho.
ZédeJesusBarrêto , da redação em Salvador | 02/07/2013 às 15:06
Tradição no 2 de Julho: fiel paga promessa segurando carro da Cacocla
Foto: BJÁ

De que restos de desumanidades fomos paridos ?
 
Herdeiros sem nome de infames degredados
                                              vis escravizados
 filhos da silva desalmados ...
 
Torpe mistura de profundas dores
 que vagam ao tempo rebrotando feridas

Que gente somos ... saída do mato
                                       salva das águas 
                                       sal da terra
Gente criada nas senzalas
              batizada nas capelas
              enlameada no mangue              
              rasgada nos canaviais
              envilecida nos cais              
              amaldiçoada de sangue

De onde e quem restamos, assim, sem eira nem beira ?

Das brenhas do escuro  
Filhos da fome e do fausto 
Da ganância, ignorância, abundância
da indecência, da inclemência

Herdeiros do nada, sobras do exílio

Repasto de coronéis, bando de esfarrapados
marcados pelo chicote, redimidos pelo batuque 

Entre arcabuzes e tacapes, oratórios e berimbau 
Letrados e serviçais, a mando e revoltas
Mulatos, caboclos , cafuzos ... 
caldo, mixórdia do desconhecido

Sobras ! sobras dos quilombos
De matanças, arruaças, traições, feitiços
Antropofágicos somos !

Uns descompreendidos ! 

Velhos capoeiras, como rezava Pastinha:
- Somos pretos mandingueiros, em ânsia de liberdade.

Às pernadas, trupicando pelas ladeiras, 
pinga ardente no lombo, olho nas quebradas... 


Ah! Aqui se goza e padece!

Esmagada de pobre orgulho  
a gente bem que merece  
outro, um novo Dois de Julho.