Cultura

25 ANOS de amor ao Barra, F1 baiana e os babas - por TASSO FRANCO

Quer outro folclore legal! Tinha amiga do Beta que fazia cooper no Barra. - Lá é bom porque tem ar condicionado - revelava.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 19/05/2013 às 10:08
A arquibancada da F1 baiana na Plínio Moscoso e o Shopping Barra ao fundo
Foto: BJÁ
 Tenho uma ligação afetiva com o Shopping Barra muito forte. É uma espécie de segunda casa para mim e também para outros moradores do Chame-Chame, Graça e Barra, agora completando 25 anos de sua fundação. Trata-se de uma história antiga essa nossa relação. Corria o ano de 1970 quando, repórter de geral da Tribuna da Bahia, fui escalado para fazer uma reportagem sobre comportamento dos torcedores que assistiam as corridas de F1 baiana que eram realizadas na Avenida Centenário, ligação aberta em 1949 e que unia o centro da cidade e vale do Canela a Barra pelas margens do rio dos Seixos.

   Os espectadores ficavam sentados nas encostas das atuais ruas Martagão Gesteira e Plínio Moscoso, hoje ocupadas por imensos prédios. Naquele domingo ví o lançamento de 3 edifícios que iriam compor o Jardim Salvador (Alfa, Beta e Gama), os mais altos do início da Centenário. Fiquei entusiasmado, anotei os telefones da construtorora e comprei o apartamento 404, 2 quartos, no Edf Beta, onde morei por mais de 30 anos e nasceram meus dois filhos - Nara e Tassinho, no Hospital Português.

   Era repórter novo na TB, apenas 1 ano, salário curto, mas, ainda assim, arrumei a papelada, o avalista e financiei o imóvel por 10 anos. Parecia uma eternidade, porém, logo passou.

   Mudei-me para o Beta já casado, em 1972. O Chame-Chame era um deserto, um local de passagem. No antigo largo, no cruzamento entre o Morro do Gato e a Frederico Smidt havia a Farmácia de Sêo Fridolino, a Padaria de Sêo Pepe, o bar Pantera onde bebíamos cerveja e comíamos ovos cozidos coloridos, uma floricultura na descida da Manoel Barreto, a borracharia de Pelé no Posto Luanda, a barraca de Cirilo e a feirinha ao lado do Victória Center que nasceu no final dos anos 1970, adjacente ao terreno da Igreja de Santa Terezinha.

   No outro largo, Deocleciano Barreto, chegou a funcionar um barzinho e havia a escolinha Au-Au (depois, Kimimo), e uma banca de revistas. E, no nascente Jardim Salvador surgiu a Pracinha juiz Rosalvo Torres local de nossos encontros comuntários, roda de dominó e colocar as crianças para brincar e tomar sol.

   Nós moradores do Jardim Salvador jogávamos babas ao lado do meu prédio, o Beta, em terreno depois ocupado por uma subestação da Coelba, e no campo em terreno onde hoje está o Shopping Barra, babas mais profissionais com a turma da Roça da Sabina, antigo feudo do professor Sabino Silva, hoje, nome de rua no Jardim Apipema, transversal que nasce na Centenário e vai rumo a Ondina.

   O ponto de encontro para esses babas e eventos do Ensopado de Tatu, bloco carnavalesco do Jaime, da banca ao lado da hoje Perini, na Miguel Bournier, era nas proximidades da barraca de Cirilo; ou então nas imediações da Oficina de Carlinhos Botafogo, ainda hoje,existente na entrada da Roça.

   Dependíamos da Barra para tudo. Ir à praia, às compras, ao salão de beleza, ao alfaiate, ao barzinho, a pizzaria, pra consertar um sapato, comprar um presente, almoçar, dançar no Palmeiras, na AAB ou no Cabana da Barra e assim por diante.

   Foi quando em meados de 1980 veio a noticia de construção do Shopping Barra. Imagina o que desperou em nós! Uma alegria enorme. Um shopping grande com tudo que tem esse tipo de empreendimento, igual ao Iguatemi. No Beta, no Gama, no Pantera, na Padaria, na banca de Cirilo, virou a conversa do dia. Olhos arregalados! As velhinhas do Alfa, Beta e Gama não falavam noutra coisa.

   Quando as máquinas começaram a obra, um deslumbre. Já havia o supermercado do Paes Mendonça, ao lado, uma grande conquista para a feira nossa de cada dia, e a preocupação passou a ser onde instalar a barraca de Cirilo. Por gestões nossa e do então deputado Jutahy Magalhães, o pai, foi deslocada para a rua desembargador Francisco Pedreira, onde se encontra até hoje.

   Os comentários sobre a grandeza da obra e outros lances não saiam de nossas bocas. Quando o Barra abriu foi um encanto. E, a partir dessa data, passamos a frequentar o local para ir ao salão de beleza, tomar o choppinho, fazer as compras na joalheira de Sêo Antônio, afeitar a barba no salão de Pierre, comer o quibe do Califa, encontrar os amigos, tomar um cafezinho com bolinho de arroz e assim por diante. Tinha até o folclore de ir ao cinema e, enquanto se assistia o filma, ouvia-se a música da Praça de Alimentação.

   Quer outro folclore legal! Tinha amiga do Beta que fazia cooper no Barra. - Lá é bom porque tem ar condicionado - revelava. 

   E os papos no Senadinho com João Falcão, Medauar, Luiz Luzi, Olivinha, Manoel Canário, Burgos e outros amigos no Café Bourbon!. E os encontros de Godinho com Zé Raimundo no Califa! E a Lavagem do Barra! Que folclore! E os brindes do Barra no Dia das Mamães e do Natal! Divertidos! Os mais pobres da cidade!

   Meu carro sabe o caminho do estacionamento do Barra se faróis apagados. Só estacionava (ainda hoje) na ala Norte e descia a escada rolante para jogar na loteria, hoje, na fila dos velhinhos e depois zanzar. Lancei dois dos meus livros na Livraria Civilização do Barra já na administração dos filhos de Sêo Chaves, numa festança bacana, com vinho barato e comidinhas.
Depois veio a Saraiva, a Britany (a minha mulher chegou a dizer: "não compre mais camisola da Britany. Chega!", a Zara, a Centauro, a H Stern (brincava com a esposa: "ainda vendo o apartamento do Beta e compro um bracelete daqueles de R$40 mil pra você!", as diversas óticas. Meu menino foi tantas vezes moldar os óculos com dona Ivone que começou criança e já está adulto.

   Recentemente, o Barra passou por uma reforma e ampliação. Retirou as cerâmicas que caiam com frequência (e até virou outro folclore), ampliou a praça de alimentação com novos restaurantes, está instalando novos cinemas, tem área de grife, lojas bacanas e o estacionamento está legal, tanto que mudei do Norte para a ala nova com entrada pela Riachuelo.

   Nada, no entanto que altere a minha rotina e paixão pelo Barra, tanto que já marquei com Wilmar, cabeleireiro do Pierre, para cotar meu cabelo na segunda. E, claro, depois tomar um chopinho, em pé, no Califa, saboreando um quibe.