Cultura

MEMÓRIA! Daniela Mercury é vetada por Bento XVI, em 2005, no Natal

Agora, então, que Daniela assumiu o amor com uma mulher a Cúria Vaticana deve não deixar ela passar nem na porta da basílica de São pedro
Redação e O Globo , Salvador | 03/04/2013 às 18:40
Bento XVI vetou Daniela por defender uso da camisinha. Agora, então...
Foto: OR
  A cantora Daniela Mercury é filha de cristãos e católica apostólica romana. Hoje, decidiu tornar público o relacionamento amoroso com outra mulher. Concepção que a igreja católica reprova.

  Para refrescar a memória dos nossos leitores, a cantora Daniela Mercury por ter participado de uma campanha do Ministério da Saúde sobre o uso da camisinha, sua aplicabilidade e benefícios, foi censurada pelo Vaticano e proibida de cantar numa missa do Natal de 2005, convite que partira do próprio Vaticano.

   O papa Bento XVI (hoje emérito) esteve no Brasil em maio de 2007. Seu objetivo principal foi dar início à Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho que ocorreu de 13 a 31 de maio de 2007, no Santuário de Aparecida no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. 

  Além disso, foi também nessa ocasião que se deu a canonização de Santo António de Sant´Anna Galvão, o Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, em cerimônia realizada no dia 11 de maio de 2007, em São Paulo.

  Na época lembrou que "o papa Bento XVI não gosta de guitarras nem de "pop stars", vetou a participação de Daniela Mercury no tradicional concerto de Natal do Vaticano em 2005 em função das opiniões da cantora a favor do uso de camisinha na prevenção da AIDS, propõe a volta das missas em latim, avisa o povo de Deus que os segundos casamentos são "uma praga", alerta para o perigo da internet e deixa teólogos e estudiosos do mundo todo atônitos diante da responsabilidade de dar uma boa resposta à pergunta.

   Qual é afinal a mensagem de Bento XVI? Há uma infinidade de artigos, duas enciclicas e livros escritos por Bento XVI. Ele é considerado um dos maiores pensadores da igreja, da atualidade.

   DANIELA REAGIU EM 
   MATÉRIA DE O GLOBO

   A cantora baiana Daniela Mercury reagiu com indignação ontem ao veto do Vaticano à sua participação no concerto de Natal que acontecerá no próximo dia 3, na abertura do Ano Xaveriano, em honra a São Francisco Xavier, com a presença do Papa Bento XVI. O convite havia sido feito pelo próprio Vaticano há cinco meses, e Daniela já estava ensaiando para a apresentação. 

   A notícia do cancelamento foi publicada ontem por Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO.

   - Fiquei indignada com o cancelamento e pela forma como se deu. Argumentei que o Brasil é o país mais católico do mundo e que minha presença agradaria a todos, mas eles não aceitaram, disse a artista, que, em nota, afirmou ser católica e reafirmou seu direito de discordar da posição da Igreja, no que diz respeito ao uso da camisinha na prevenção da Aids.

   O veto, comunicado a Daniela na terça-feira por carta, foi atribuído ao fato de ela ter estrelado o comercial da campanha de prevenção à Aids do Ministério da Saúde no carnaval.

   Lamentamos que o Vaticano e o Papa não tenham a oportunidade de ouvi-la. O Papa é que sai perdendo. Fazemos pesquisas após as campanhas e a resposta da população quando a Daniela participa é muito boa, porque ela é muito natural, não parece imposição ou coisa forjada quando ela fala de sexo e camisinha, disse o diretor do Programa Nacional de DST-Aids do Ministério da Saúde, Pedro Cherquer, que lembrou os dados da edição 2005 do relatório anual do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), mostrando que a marcha da doença continua implacável: o número de pessoas contaminadas com o HIV ultrapassou a maca de 40 milhões, tendo dobrado em apenas dez anos.

   Os dados, porém, mostram que, no Brasil, a população católica está cada vez mais usando camisinha - disse ele.

   O padre Jesus Hortal, reitor da PUC-RJ, apoiou o Vaticano:

  Foi uma decisão lógica. Não pode se apresentar no Vaticano uma pessoa que defende as posições que ela defende.

   Para a ONG Pela Vidda, de combate à Aids, a atitude do Vaticano dissemina o preconceito contra a doença:

   A Igreja se mostra uma instituição cada vez mais fora de seu tempo. O Pela Vidda se solidariza com Daniela Mercury. Atitudes como essa favorecem o crescimento da epidemia ? disse William Amaral, da ONG.

  O Vaticano não reconhece a contribuição da ciência.

   Dulcelina Vasconcelos Xavier, do Católicas pelo Direito de Decidir - ONG que luta por mudança de padrões culturais e religiosos, na discussão de temas relacionados à sexualidade, reprodução humana e religião, disse que uma pesquisa do Ibope, no início deste ano, mostrou que 90% dos católicos ouvidos acreditam que o uso da camisinha deve ser incentivado:

  A visão do Vaticano da prevenção da Aids é medieval, não reconhece a contribuição da ciência para a humanidade. E é uma incoerência: por que a Igreja dificulta a apuração dos casos de abuso sexual e pedofilia cometidos por padres.

  Na nota, Daniela lembra que é embaixadora do Unaids, do Unicef e da Unesco.