Cultura

CARNAVAL é a festa da integração e não do apartheid, por LÍGIA AGUIAR

Estes que dormem na glória, nem se esforçam para trazer novidades e originalidade para a festa.
Ligia Aguiar ,  Salvador | 13/02/2013 às 09:40
A palavra de ordem do Carnaval é integrar e não apartar
Foto: BJÁ
   Gosto muito do carnaval, mas este ano resolvi ficar somente "assuntando"... A polêmica em torno do Afródromo me levou a postar no Facebook: 

   Pensar que esse espaço exclusivo para desfiles dos blocos Afro, com nome importado do Rio de Janeiro, foi criado pelo Cacique do Candeal... As questões econômicas, mercantilistas, excluem dos circuitos já existentes - que deveriam ser programados pela diversidade e não por categoria- o que há de mais verdadeiro e cultural, no nosso carnaval, para dar passagem ao trivial, ao óbvio e hegemônico, há mais de 20 anos. 

   Estes que dormem na glória, nem se esforçam para trazer novidades e originalidade para a festa. 

   Sequer uma nova música de impacto...Um ano, tempo mais que suficiente para criar, para dar voz aos inúmeros compositores de qualidade que habitam a nossa terra. Mas, não, caem de paraquedas, no centroprincipal da festa, atrações piegas,vindas da Cochinchina, contratadas a peso de ouro. 

  Isso sem falar da logística da separação com traços que beirama idade da pedra, desumano, coronelista, chamados, OH Deus! de Cordeiros! 

   Além das favelas luxuosas construídas nos espaços públicos, deixando ao folião uma parte ínfima para locomoção, o que causa estrangulamento e o aumento de violência.

   Quer criar um novo circuito a fim de revitalizar uma área degradada, quer ampliar o espaço para que o povo possa extravasar os perrengues da vida? Que seja criteriosamente pensado, consequente e não separatista. 

   Temos que lutar para derrubar esses interesses mercadológicos e midiáticos, realizar um carnaval dentro da diversidade que nos é peculiar, e não segregar, como querem os “donos” da festa. Levar os Blocos Afros para o Comércio trará mais visibilidade do que se tem hoje? 

   Quando os meios televisivos começarem a dividir o tempo, quem terá o maior espaço? Será um carnaval espetáculo como as Escolas de Sambas do Rio de Janeiro, que têm toda imprensa a seus pés? Claro que não! Vão para o limbo, como de praxe. 

   Hoje o carnaval baiano perdeu a sua autenticidade, é um evento taxado só para turista. Quero sim, como baiana, negra e carnavalesca ver o respeito, a diversidade e a beleza das raças unidas, e não criar um apartheid!

   Nós somos criativos, alegres, possuímos características culturais próprias de dar inveja a qualquer um. De tão evidente torna-se banal,falta vontade política, causa cegueira administrativa aos que visam tão somente auferir grandes lucros.