Cultura

2 DE FEVEREIRO! Minha sereia rainha do mar Maria, Aiocá, Inaê, Janaina

Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá, Dona Janaína, Dona Maria, Inaê, Princesa de Aiocá. Ela domina esses mares, ela adora a lua, que vem ver nas noites sem nuvens, ela ama as músicas dos negros’...
ZédeJesusBarrêto , da redação em Salvador | 01/02/2013 às 22:03
Princesa de Aiocá reverenciada na praia de Vilas do Atlântico, Lauro
Foto: BJÁ
Pierre Fatumbi Verger, em seu livro ‘Orixás’, necessária abordagem sobre a religiosidade afrobaiana, ensina que o nome Yemanjá deriva de  Y'yé omo ejá  (‘Mãe cujos filhos são peixes’), orixá ou divindade dos Egbá, uma nação de língua iorubá que viveu na região entre Ifé e Ibadan onde fica o rio Yemoja - África sub-saariana, atual Nigéria. Mas, no início do século XIX, as constantes guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá, cidade onde há um templo dedicado a Iemanjá, divindade cultuada no Brasil e em Cuba.

 ‘Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, de azul claro’.

Manifestada em suas ia's, Iemanjá dança imitando as ondas do mar e é saudada aos gritos de ‘Odò Iyá!’. No Brasil é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festejada pelos católicos no dia 8 de dezembro. Em Salvador, desde a segunda década do século passado, todo ano os pescadores presenteiam a Rainha das Águas no dia 2 de fevereiro, pedindo proteção e fartura no mar. 

Além de fotografar e festa nos anos 50, Verger descreveu: 

‘A festa do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano, atraindo à praia do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de admiradores da Mãe das Águas. Iemanjá é frequentemente representada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. 

Chamam-na, também, Dona Janaína ou, mesmo, Princesa ou Rainha do Mar. Neste dia, longas filas se formam diante da porta da pequena casa construída sobre um promontório, dominando a praia, no local onde, nos outros dias do ano, os pescadores vêm pesar os peixes apanhados durante o dia. Uma cesta imensa (balaio) foi instalada de manhã, logo cedo, e começa então um longo desfile de pessoas de todas as origens e de todos os meios socais, trazendo ramos de flores frescas ou artificiais, pratos de comida feitas com capricho, frascos de perfumes, sabonetes embrulhados em papel transparente, bonecas, cortes de tecidos e outros presentes agradáveis a uma mulher bonita e vaidosa. Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro, assim como colares e pulseiras. Tudo é arrumado dentro da cesta, até que, no final da tarde, ela está totalmente cheia com as oferendas, as flores colocadas por cima. 

O presente para Iemanjá, transformado numa imensa corbelha florida, é retirado com esforço da pequena casa e levado, em alegre procissão, até a praia, onde é colocado num saveiro. O entusiasmo da multidão chega ao seu máximo; não se escutam senão gritos alegres, saudações a Iemanjá e votos de prosperidade futura. Uma parte da assistência embarca a bordo dos saveiros, barcos e lanchas a motor. A flotilha dirige-se para o alto-mar, onde as cestas são depositadas sobre as ondas. Segundo a tradição, para que as oferendas sejam aceitas, elas devem mergulhar até o fundo, sinal de aprovação de Iemanjá. Se elas boiarem e forem devolvidas à praia, é sinal de recusa, para grande tristeza e decepção dos admiradores da divindade’ 

A tradição popular baiana, com todas as manifestações de fé, continuam preservadas, a despeito dos interesses turísticos e das velozes transformações da era digital em curso. Os terreiros fazem alvorada de fogos ao alvorecer, rituais, arriam oferendas para Oxum nas águas doces e os adeptos vão às praias em romaria para entregar seus presentes e pedidos. 

Na colônia de pescadores do Rio Vermelho os atabaques ecoam forte desde o amanhecer. São entoados cantos em iorubá, banto e ijexá, os iniciados dançam e alguns incorporam o Orixá. Nesse dia de verão, a cidade praticamente para. A multidão, cada ano maior, faz festança nas ruas do bairro repletas de barracas, varando a madrugada.    

*
Dia Dois 
de Fevereiro 
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
pra salvar Yemanjá

Escrevi um bilhete pra ela
pedindo pra ela me ajudá
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar

O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas, vingou.

Chegou! Chegou! Chegou!
Afinal que o dia dela chegou. 

*
No romance ‘Mar Morto’, Jorge Amado escreveu: 

‘Iemanjá, que é dona do cais, dos saveiros, da vida deles todos, tem cinco nomes. Cinco nomes doces que todo mundo sabe. Ela se chama Iemanjá, sempre foi chamada assim e esse é seu verdadeiro nome, de dona das águas, de senhora dos oceanos. 

No entanto os canoeiros amam chamá-la de Dona Janaína, e os pretos, que são seus filhos mais diletos, que dançam para ela e mais que todos a temem, a chamam de Inaê, com devoção, ou fazem suas súplicas à Princesa de Aiocá, rainha dessas terras misteriosas que se escondem na linha azul que as separa de outras terras. Porém, as mulheres do cais, que são simples e valentes... as mulheres da vida, as mulheres casadas, as moças que esperam noivos, a tratam de Dona Maria, que Maria é um nome bonito, é mesmo o mais bonito de todos, o mais venerado, e assim dão a Iemanjá como um presente, como se lhe levassem uma caixa de sabonetes à sua pedra no Dique. 

Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá, Dona Janaína, Dona Maria, Inaê, Princesa de Aiocá. Ela domina esses mares, ela adora a lua, que vem ver nas noites sem nuvens, ela ama as músicas dos negros’...  

*
Minha sereia, rainha do Mar
O canto dela faz admirar 

Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar aonde ela habita
(Oh! Tem dó de ver o meu penar)

- Minha Sereia!
- Rainha do Mar ... 

*
Caminhos do Mar 

  (obs: Tema da novela ‘Porto dos Milagres, da Tv Globo, inspirada em Mar Morto, romance de Jorge Amado; composição de Dorival, Danilo e Dudu Falcão)

Rainha do Mar
Yemanjá, Odoiá, 
Odoiá, rainha do mar
Iemanjá, Odoiá
Odoiá, rainha do mar

O canto vinha de longe
De lá do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar

O corpo todo estremece
Muda a cor do céu, do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar

Iemanjá, odoiá, odoiá, rainha do mar
Iemanjá, odioá, odoiá, rainha do mar

Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar

O pescador que conhece
As histórias do lugar
Morre de medo e vontade
De encontrar Iemanjá 


**

Quando se for esse fim de som
Doida canção
Que não fui eu que fiz
Verde luz, verde cor de arrebentação
Sargaço mar, sargaço ar
Deusa do amor, deusa do mar
Vou me atirar, beber o mar
Alucinar, desesperar
Querer morrer
Pra viver com Yemanjá
Yemanjá, Odoiá