Cultura

Estréia do Espetáculo "“Lenda das Yabás”" em Salvador próximo dia 12

Independente e a cima de discussões acerca de raça ou religião, o Texto “Lenda das Yabás” traz à tona a história da ancestralidade da cultura afro-brasileir
Centro Cultural de Ensino , Salvador | 09/01/2013 às 22:03
Aline Barbosa, como Ewá
Foto: Fábio S. Tavares

Entre 12 e 30 de Janeiro às 20h o Centro Cultural Ensaio realizará sessões do Espetáculo Lenda das Yabás para um público restrito a 50 pessoas. As primeiras apresentações serão voltadas para o povo do axé e associações ligadas a cultura Afro. Na noite de estreia a Companhia de Teatro Terra Brasilis (CTTB) terá como plateia a presidente (Rita Santos) e associadas da ABAM - Associação das Baianas de Acarajé de Salvador para o espetáculo que tem a sua estreia oficial prevista para Março de 2013, com texto e direção de Fabio S. Tavares (Benedita, Fogueira, Escombros, Quadrilha). No local haverá a Exposição intitulada “Bahia’ Minha Preta” que traz objetos de personalidades baianas a exemplos dos turbantes de Negra Jhô além de quadros sobre o processo de ensaios e laboratórios do espetáculo. 

 

Independente e a cima de discussões acerca de raça ou religião, o Texto “Lenda das Yabás” traz à tona a história da ancestralidade da cultura afro-brasileira, bebendo da sua fonte mais pura ao se utilizar das lendas de quatro Yabás (orixás femininas): Yansã, Obá, Ewá, Nanã e Oxum. Entrelaçando os contos dessas divindades, o elenco da CTTB estimula o público a conhecer uma história intensa oferecendo diálogos diretos criados com o intuito de humanizar as personagens centrais e visando captar a atenção absoluta do espectador quase transpondo-os para a encenação.




O Texto, que tem uma construção narrativa cenários e figurinos artesanais, conta a lenda das Yabás passando ainda por outros Orixás como Yemanjá, Exu, Xangô, Ogun, Omolu e Oxalá, os quais  têm sub-contos dramatizados com a intenção de levar ao público um conhecimento sobre as lendas desses orixás sem desrespeitar o conceito de cada um deles. A musicalidade está presente na encenação com atabaques que pontualmente dão o clima e vestem as cenas com a leveza ou peso necessários para a construção cênica. Todo o som produzido ao vivo pelo elenco vem em função da expressão dramática e não se sobrepõe a ela.



Dentro do processo de construção do espetáculo foram despertadas outras possibilidades e o projeto ganhou o nome de Olubajé (que no candomblé é um ritual especifico para o orixá Obaluayê, que tem o significado de prolongar a vida e trazer saúde aos participantes) que integra uma série de Workshops intitulado de “CRU” que é uma sigla para Crença (um debate), Raiz (uma Oficina) e Universalidade (um bate papo entre lideres de diversas religiões que será aberto ao publico) além da Exposição “Bahia Minha Preta” que reúne obras – entre quadros, turbantes, esculturas artesanais e exibição de fotos e filmes – que objetiva homenagear a cultura Afro do da Bahia e suas raízes. 




Mas a pedra fundamental é o espetáculo que trás a tona um Deus humano que age de acordo com suas emoções. Revoltado com a destruição e discórdias que os homens vêm causando a aiê (Terra), Olorum resolve infertilizar todas as mulheres (as Yabás) para extinguir a raça humana e prender a chuva para que a Terra fique seca - isso é representado pelos galhos secos e tom pastel que compõem o cenário dando aspereza a encenação - pois a natureza retrata é a presença concreta do Deus abstrato. Nanã, que é a mais antiga dos orixás, surge no texto como uma grande ialorixa e sacerdotisa que conduz os festejos, impostos por Exu, em agradecimento por este ter conseguido chegar a olorum desvendando os segredos para que o Deus maior devolvesse a paz a Terra. O espetáculo traz os Orixás em forma humana e enfatiza que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se conectar com Deus com bases na energia e ações emitidas a outro ser e por isso Exu conseguiu chegar a Olorum e descobrir os segredos para trazer a concórdia a Terra. O mesmo Exu que trará a paz também conduz a ciumenta Oxum, causando intrigas e discórdias entre as demais Yabás, utilizando da obsessão que mesma sente pelo amor de Xangô, que por sua vez vive com suas quatro mulheres no palácio onde se passa toda a historia. 




Cada uma das Yabás com seus signos traz em si a representatividade da essência e força feminina que ganham destaque na encenação que tem um misto de religiosidade popular e sensualidade profana. Yansã representa a figura da mulher contemporânea e independente, que age de acordo com a sua intuição e vontade sem se curvar aos caprichos ou preconceitos de uma sociedade (e por isso é a preferida de Xangô). Obá representa a evolução feminina em busca da igualdade, sua personalidade vai da típica dona de casa que se esmera ao máximo para agradar seu marido - sendo vítima de diversas injustiças - até a descoberta da força que muitas mulheres trazem dentro de si e desconhecem. A grande lição de Oba vem quando ela dá um basta na situação que vive e com isso se torna uma grande guerreira. A menina Ewá, representa o romantismo e inocência feminina. Demonstra sua força na revolta pela desilusão amorosa que sofre após cair numa das muitas armadilhas criadas por Exu. Ela é salva da fúria de Yansã por Oxossi que a leva para a mata e lá descobre essa força e volta para se vingar de Xangô que tentou seduzi-la. Oxum, sempre orientada por Exu, ao longo da história se utiliza da sua beleza para seduzir e orquestrar situações com o intuito de afastar as outras mulheres de Xangô, até que Oxalá vem ao reino para selar a paz e transformar os homens em orixás.





Com esses elementos o Texto, do também produtor Fábio S. Tavares, projetou um espetáculo que reitera o papel do ator no processo criativo - isso pôde ser conferido com os pequenos vídeos que foram lançados semanalmente em redes sociais, com imagens do processo de criação ao longo dos 10 meses de ensaios - enfatizando, sobretudo, o corpo e o leque de expressões possíveis em que ele se realiza na cena: da dança à pantomima. Nessa montagem, percebemos que as personagens da trama nascem do natural e não do realismo (numa interpretação tipicamente stanislavskiana), buscando também uma técnica que envolve o ator na sua totalidade: mente, corpo, gesto, palavra, espírito, matéria, interno, externo (tendo inspiração na obra do teórico Grotowski). Elas são, no entanto, espelhos do real, mas distorcidos pelo manejar poético do ator e da pulsão do seu gestual no espaço. Nesse embalo foram fundidos diversos elementos da dança contemporânea com o naturalismo da interpretação, sem perder, no entanto, a dinâmica cênica que o texto reclama.




Ficha Técnica:

 

Concepção, Texto, Direção artística e Cenografia: Fábio S. Tavares

 

Assistentes de direção: Rafael Manga e Lucianno Monteiro

 

Pesquisa , Objetos e Figurinos: Companhia de Teatro Terra Brasilis

 

Elenco: Aline Barbosa, Agnaldo Meu Rey, Cassius Fabian, Jonaz Bispo, Lucianno Monteiro, Licoln Pessoa, Lilian Menezes, Marcello Teixeira, Marisa Andrade, Natalyne Santos, Rita Santiago, Vinicius Sena

 

Operação de Instrumentos: Mariana Gavim, Isadora Souza e Ivan Santos

 

Preparação Corporal: Jorge Santos 

 

Consultoria: Rebeca Souza


Maquiagem:  Wellington Rosário                                                                                                                   

 

Preparação VocalIvan Santos                                                                         


Técnico de Luz: Victor Hugo                                                                                         

 

Produção e Comunicação: Centro Cultural Ensaio

 

Direção de Produção: Fábio Tavares

 

Programação Visual: Rafael Manga e Fabio S. Tavares

 

Vídeos de divulgação: Núcleo de Comunicação do Centro Cultural Ensaio e Uneb – Universidade do Estado da Bahia