Natal! Esta madrugada o Menino Deus nasceu e abriu as portas do Céu pra Dona Canô entrar, sorridente. Nada sabemos sobre essa hora em que fazemos a grande travessia, mas me permito imaginar Niemeyer ali, na ante-sala conversando com São Pedro, só pra dar tempo ela chegar, para dizer: “a vida é demasiado curta, é um minuto. Um minuto que passa depressa”. Mesmo sendo esse minuto cem anos.
A saudade me faz lembrar uma pequena história: tínhamos amanhecido em Cachoeira, na Pousada do Convento, diante de um café da manhã estonteante, e Helena, com quase dois anos, não abriu a boca. Passando de volta por Santo Amaro, aproveitei para levá-la, pra Dona Canô conhecer e abençoar. Lá fomos recebidos com a discreta elegância de Nicinha, na copa daquela casa preciosa nos detalhes.
A certa altura dona Canô pegou uma bandeja de bananas e mostrou a Helena: - Quer uma, princesinha? Eu logo falei, ô, não, não precisa, etc. mas Helena reagiu firme: -Dá, dá. E comeu a banana. Dona Canô: -quer outra, neném? Helena: - dá, dá. E comeu. Dona Canô: - coma mais uma, neném: Helena devorou a terceira banana.
Achei melhor encerrar alegremente a visita, em que falei de samba-chula, de filarmônica, de muita coisa - menos de como lidar com apetite de criança, pois desse assunto ficou provado que dona Canô entendia muito mais que eu.