Cultura

Festa popular para Santa Luzia resiste ao tempo apesar do abandono

Parecia até que a procissão foi em Milão, pois não havia nenhum representante da Prefeitura e do Estado
Tasso Franco , da redação em Salvador | 13/12/2012 às 14:28
Contraste entre as baianas do acarajé e as barracas repletas de merchandising em excesso
Foto: BJÁ
   Como festa popular de largo, de rua, a de Nossa Senhora do Pilar em homenagem a Santa Luiza, a protetora dos olhos, resiste ao tempo e ainda consegue dar alguns suspiros de sobrevivência, com pouca gente a comemorar no estilo profano após missas e procissão, no bairro do Comércio.

   O que era natural. Todo cilco de festas populares de Salvador tinha esse lado, da fé nos santos e do fogeuete, do samba de roda, da cerveja. Isso está minguado de tal forma que, na festa para Nossa Senhora da Conceição, onde sempre se voltava para casa com uma melancia, um abacaxi, e as barracas eram glamurosas, tudo desapareceu.

   Toda a área do Comércio onde acontece a festa para Santa Luzia está decadente, desde a Praça Deodoro, ao Taboão, Corpo Santo, áreas adjacentes do Plano Gonçalves fechado há mais de um ano, e a encosta onde se encontra a Igreja e o templo romao de Nossa Senhora do Pilar, com invasões por todos os lados. O local também está mal cheiroso com esgotos que correm à ceu aberto até próximo do Distrito Naval.

   É impressionante que a cidade esteja com tanto descaso. A festa para Santa Luzia quem faz, ainda, é o povo. O povo pobre e a classe C da cidade do Salvador. Hoje, na procissão, não havia uma autoridade nem do município, nem do estado, parecia até qua procissão era em Milão, já que a santa tem origem italiana, e não em Salvador.

   Representação pública, salvo melhor juizo, só a PM. Pelo bem ou pelo mal, a PM está em todas e isso a torna mais próxima da população. Turistas? Nem pensar. Tinha uns gatos-pingados no Mercado Modelo.

   Nas barracas instaladas no Pilar é tanto merchandising das empresas de bebidas que tirou toda a originalidade da festa. Uma coisa horrorosa. Se você bobear bate a cabeça num sombrero da Brahma ou da Skol. E o que pior: agora em vez de Barraca da Índia, Barraca do Bahia, Barraca do Vitória, tem bar da skol e tamborete da Brahama, e coisas do gênero.

  Como ninguém nesta cidade está preocupado com a cultura popular, a Fundação Gregório de Mattos falida e com uma direção que ninguém sabe quem é, e a área estadual está mais preocupada em fazer proselitismo e encontros discursivos, as cervejarias deitam e rolam e fazem o que querem. 

  Uma hora dessas vão aparecer baianas com torços com as marcas das cervejarias. Paciência. De minha parte tomei uma gelada no Kelé e depois fui comer uma quiabada na Deus Proverá, em São Joaquim. Claro, também lavei os olhos com a água sagrada da santa. (TF)