Cultura

O DEUS seja louvado do nosso dinheiro, por dom JOSÉ RUY LOPES

Santo Irineu de Lion, muitos séculos atrás nos lembrava: “A Glória de Deus é a vida do homem e a Glória do homem é contemplar a Deus”.
Frei Ruy Lopes , Jequié | 30/11/2012 às 17:52
Dom frei Ruy Lopes é bispo diocesano de Jequié
Foto: BJÁ
   Vez por outra surge em nosso país alguma polêmica que seja capaz de amenizar a falta da novela que acabou, do ator que morreu, do político que foi condenado.
Tais polêmicas mexem com as paixões arraigadas no coração do povo. É o jogador milionário que ganha milhões para emagrecer; é o acarajé que deverá ser vendido na Copa do Mundo de Futebol, enfim, é tudo aquilo capaz de mobilizar uma opinião, das mais sinceras e triviais até aquelas repetidas e lógicas.

   Agora chegou a vez de uma inscrição minúscula em nossa cédula monetária. Mas, afinal, que já parou para ler, ou melhor, quem sabia que havia tal inscrição?

   Fizeram-nos o favor de requerer a retirada da frase  “Deus seja louvado” de nosso dinheiro. O argumento óbvio é de que o “estado é laico”. Sem dúvida algo constitucional e banalmente repetido. 

   Afinal, o Estado é laico e o povo é religioso! Todavia, nem sempre algo muito bem interpretado, senão pelos “juristas” de plantão que sempre se manifestam com expressões jurídicas correntes, mesmo que pra dizer que foi um “qüiproquó”.

    Ora, pois, se temos mais de 120 milhões de técnicos de futebol e de “médico e louco ainda temos um pouco”, em tempo de “mensalão”, somos todos do Supremo Tribunal...

   Polêmicas a parte ou polêmicas inclusas, o “Deus seja louvado” em nossa cédula do real não faz diferença. Ou faz. 

   Quanto dinheiro foi “lavado” levando tal inscrição de louvor? Quantos crimes foram encomendados, pessoas subornadas, inocentes injustiçados com tais cédulas levando o “nome santo em vão”? 

  Não acredito que Ele seja mesmo louvado em tantas distorções salariais, no poder aquisitivo do capitalismo que deixou de ser selvagem e  ultrapassou a categoria da crueldade.

   Ah, bem. Mas, muito bem foi feito e é feito com o dinheiro. Doações solidárias, ofertas à necessidades especiais de muitos, compras de medicamentos e alimentos, investimentos em áreas de risco, investimento em saúde, em educação...

   Se queremos “louvá-lo”, bem que poderíamos segui-lo. Não foi o próprio que recomendou em se tratando de fazer o bem que “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”?

   Mas, caso, não queiramos segui-lo. Continuemos a polêmica. E o que é pior, a colocar a nossa fé no dinheiro e não em nossa capacidade de fazer o bem com os recursos que começam dentro de nós e se espalham nos investimentos no ser humano. 

   Santo Irineu de Lion, muitos séculos atrás nos lembrava: “A Glória de Deus é a vida do homem e a Glória do homem é contemplar a Deus”.

+ D. José Ruy Lopes,
Bispo de Jequié