Cultura

AL lança biografias de Clarindo Silva, Juliano Moreira e Milton Santos

Os lançamentos acontecem no saguão da Assembleia Legislativa no próximo dia 20
Tasso Franco , da redação em Salvador | 12/11/2012 às 11:32
Clarindo Silva com Silvio Mendes, Júlio Cesar e amiga
Foto: ARQUIVO
O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, será celebrado na Assembleia Legislativa do Estado daBahia com o lançamento de três novos livros da coleção ‘Gente da Bahia’: são as biografias de Juliano Moreira (por Alexandre Lyrio), Milton Santos (por Waldomiro Santos Junior) e Clarindo Silva (por Vander Prata).
A homenagem acontecerá a partir das 16h30 e contará com a presença de políticos, intelectuais, artistas, representantes do movimento negro e dos movimentos sociais em Salvador e também com a presença de convidados especiais, personagens do livro, como a atriz e ex-deputada federal Bete Mendes, e o pesquisador, produtor e apresentador Adelzon Alves, da Rádio Globo do Rio de Janeiro, entusiasta e um dos maiores divulgadores do samba e da música baiana.
Clarindo Silva é hoje uma das figuras mais populares da Bahia. Tornou sua Cantina da Luaum bar tão pulsante quanto o lugar onde está situado: Terreiro de Jesus, na entrada das velhas e históricas ladeiras do Pelô, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador.
Durante muitos anos, a Cantina da Lua foi o ponto de referência da efervescência cultural da Cidade da Bahia e de luta pela preservação e consolidação do Pelourinho como patrimônio arquitetônico da humanidade. 

Sob o comando de Clarindo Silva tornou-se um espaço democrático, que reunia poetas, músicos, jornalistas, radialistas, artistas, políticos, nativos e turistas, reinando absoluto como ponto de encontro da cena cultural baiana, principalmente durante as décadas de 1970 e 1980.

PALCO DA VIDA

Pelas mesas da Cantina da Lua passaram algumas das mais expressivas representações artísticas ou políticas dos jovens baianos já antenados com a necessidade de afirmação e postura da afrodescendência.

O jornalista e escritor Vander Prata afirma: “A Cantina da Lua tornou-se morada, porto, festa, bênção, castelo, farol de São Salvador. Um espaço de baianidade único, dia e noite, noite e dia, pois Clarindo de tudo cuida e conserva, mesmo a despeito das ressacas, das marés, dos tempos de glória e decadência do Pelourinho.”

O livro relata desde a infância de Clarindo Silva, que, menino ainda, nos anos 1950, começou a trabalhar vendendo doces pelas ruas da Cidade da Bahia: 
“Uma cidade encantada, em cujas esquinas e ladeiras podia-se ouvir o brado do poeta Cuíca de Santo Amaro ou o empolgante discurso do rábula Major Cosme de Farias. Bahia das orações de Mãe Menininha do Gantois e dos ensinamentos de Mestre Pastinha.”

QG DO SAMBA E DA NEGRITUDE

Espaço, a um só tempo, singular e plural, foi na Cantina da Lua que aconteceram as primeiras reuniões que resultaram nos afoxés e nos blocos que viriam revolucionar o Carnaval baiano, como Ilê Aiyê, Badauê e Olodum. Aconteceram também as primeiras reuniões do pioneiro e politizado Movimento Negro Unificado do Brasil.

Clarindo Silva estimulava a pluralidade de pensamentos, proporcionando boa comida e bebida de primeira, apreciadas especialmente quando rolava o samba. A Cantina da Lua transformou-se no QG dos bambasdo samba de Salvador: Batatinha, Riachão, Edil Pacheco, Walmir Lima, Bob Laô, Chocolate da Bahia, Ederaldo Gentil, Paulinho Camafeu, Claudete Macedo, Panela, e tantos outros.

Artistas e personalidades daqui e de fora participavam de reuniões etílicas e ecléticas que aconteciam sem parar, nas mesas que reuniam jornalistas, radialistas, poetas, seresteiros, namorados.  

“Ali se tomava uma com Waldick Soriano e ouvia-se Jeovah de Carvalho declamar um poema com seu vozeirão, enquanto Ângelo Roberto desenhava a caricatura de RobertoGaguinho. “Eu tava atrás de você” dizia maliciosamente o maestro Vivaldo Conceição para um escabriado Fred de Souza Castro, enquanto Jair Dantas saía de fininho para mais um godemi e Reminho Pastore emborcava a última saideira com Leal, o engraxate, festejando: “– Êh, vidão!”, depõe o poeta Carlos Verçosa. 

As festas divinas e profanas que energizavam o velho Centro Histórico revitalizaram-se nos anos 1980, com a criação do Projeto Cultural da Cantina da Lua.
 
O escritor Vander Pratarelata que,por iniciativa de Clarindo, durante mais de dez anos foram realizados cerca de 800 shows na área externa e no Largo do Terreiro de Jesus: “O Projeto Cultural Cantina da Lua era a chama que não se apagava”, afirma. 
Era a maneira de chamar a atenção da população para a defesa e proteção ao Pelô, sempre esquecido pelas autoridades:“A luta sem fim de Clarindo Silva permeia este perfil de um solidário e,muitas vezes, solitário guerreiro em defesa do patrimônio em transe e das pessoas que habitam o Pelourinho, onde pulsa o coração da cidade”, conclui o escritor.

Para escrever esta biografia, Vander Prata gravou mais de 80 horas de entrevistas com Clarindo Silva e família, outras tantas horas com amigos, dos mais antigos aos mais recentes, no final de 2009 e no decorrer de 2010. O livro tem prefácio do escritor e jornalista José de Jesus Barreto e contra-capa do poeta Fernando Coelho. Projeto gráfico de TamirDrumond.