Cultura

CINEMA: BEM AMADAS aborda mundo da prostituição de luxo, p DIOGO BERNI

Comentários de mais três filmes para nossos leitores
DIOGO BERNI , da redação em Salvador | 01/11/2012 às 19:12
Catherine Deneuve e Louis Garrel; é um misto de drama com musical
Foto: DIV

   Bem amadas do diretor Christophe Honoré, França, 2012, com as participações de Catherine Deneuve e Louis Garrel; é um misto de drama com musical. Gêneros que juntos dão a ideia de uma comedia romântica, o que não deixa de ser também. 

  Olha, se a fita fosse feita em língua portuguesa, com certeza teria sido taxada como filme brega, porém sendo de língua francesa, se torna estilosa. São os ossos da história, ou os créditos há uns e os descrétidos a outros. 

  Por roteiro sem trilhas musicais atrapalhando ou ajudando a fita à parte, tem-se uma história interessante de uma mulher que quer melhorar de vida na Paris chata de 1920. 

  Ela então se torna não prostituta, mas acompanhante de luxo e só para quem ela acha que vale o esforço. De uma humilde vendedora de sapatos a uma grande profissional do prazer sua vida muda da água para o vinho e acaba conhecendo o futuro pai de sua filha: um médico gastro endocrinologista Tcheco. 

  Com o tal médico ela se apaixona de vera. A segunda parte da musical fita, muitas vezes sem nexo, é contada pela filha da vendedora de sapatos. 

  Agora sem prostituição no meio, mas com uma adulta insegura e supersensível que não sabe relacionar-se pelo passado da mãe que pega como referência. Uma produção francesa que mostra mais uma vez que naquele país tudo pode se transformar pela magia ou pelas pitadas de sacarmos misturadas com fineza.

                                 **

   Os Infiéis, dos Jean Dujardin, Gilles Lellouche, Emmanuelle Bercot, com Jean Dujardin, Gilles Lellouche,Alexandra Lamy e mais três, França, 2011. 

  Sabe aquele filme em que você não espera nada e não acontece nada mesmo de bom, mas que mesmo assim vale a saída de casa e até algumas risadas porque não? Pois bem, Os infiéis se encaixa nesse padrão de comédias europeias em que a pretensão é não ter pretensão, e por isso a fita soa leve, de modo que dá para sair da sala de cinema de certo modo mais leve, menos sério ou comprometido com as responsabilidades da vida corrida em que o século XXI nos impõe a acompanhá-lo. 

  A fita conta a história de antes de tudo e acima da vida de dois galinhas garanhões que papam todas, de dois caros inseguros e infelizes com seus relacionamentos, e por isso traiam suas companheiras.

  Era festa, boate todo dia na nada feia noite parisiense. Os tais dois amigos eram de fato tão grudados e fissurados nessa coisa da competitividade entre ambos de quem pegasse mais e de quem ficasse com as melhores, que soava estranho ao ponto da fazerem sexo no mesmo quarto com minas diferentes e um olhando para cara do outro. 

  Isto por si só, já mostrava tamanha competividade extrema entre ambos para olhos ingênuos, porém para pessoas mais “safas”, a tal competividade, dava-se outro nome: viadagem, e o pior: sem coragem a assumi-la; primeiro pelo passado de “passadores de rodo” em todas, que com vagina, venha até com muleta.

    E em segundo como iriam falar com suas esposas e filhos que de uma hora pra outra toda aquela posse macha, se transformara em purpurina?

   Sei que eles deram um jeito, e em uma viagem a Vegas resolveram se assumir numa noite de bebedeira que acabara com os dois na cama, mas agora um comendo e o outro sendo comido. Cena essa que levou aos prantos de risos todos da sala. 

  Um filme leve, que não se propõe a entender nem defender nada nem ninguém, somente se propõe a entreter e por isso é legal. Pena que nossa visão de entretenimento se restringe a ver outros em “maus-lençois”, como tipo umas vídeo-cassetadas do Faustão, porém ver a fita é bem melhor que programas de televisão.

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  A anti-performance, Daniel Lisboa, BA, 2012. Com uma idéia na mão e uma câmera na cabeça ou vice versa, Daniel apresenta aos que não são da capital baiana, o multi-artista Jaime Figura. Jaime é um cara sem rosto que vive no Pelourinho. 

  Há quarenta  anos o artista decidiu viver assim por discordar da sociedade e dos jogos dela. Famoso por aqui, porém desconhecido em outros locais, Daniel decide documentar a viagem que faz com Jaime Figura em um vôo de Salvador a São Paulo.

  O espanto da tripulação é instantâneo vendo aquela figura toda coberta dos pés a cabeça a adentrar na aeronave com seus truculentos, insensíveis e desagradáveis comandantes de vôo. Porém, enfim e por fim, Jaime figura consegue chegar à terra da garoa.  

  Lá faz suas performances na avenida paulista, onde muitos param: aprovam ou desaprovam e o curta acaba.  Daniel tem a característica de fazer curtas premiados com temas ou personagens que de alguma forma dão um tapa na cara da sociedade, e esse do Jaime Figura foi o mais visceral nesse sentido que vi do diretor discípulo de Glauber Rocha.