Cultura

CINQUENTA TONS DE CINZA, o livro atual das mulheres, por ROSA DE LIMA

O livro da inglesa E.L. James chama a atenção das mulheres em boa parte do mundo e não está aí para debater nada, e sim para ser um produto de vendas
Rosa de Lima , da redação em Salvador | 28/10/2012 às 12:41
A autora do livro Erika Leonard James (E.L. James) e o seu produto
Foto: DIV

O fenômeno editorial da atualidade, a trilogia “Cinquenta Tons de Cinza”, no Brasil editado pela Intrínseca, vol I 453 págs., escrito pela inglesa Erika Leonard James (E.L.James), casada, dois filhos, desperta a atenção dos leitores, leitoras em especial, porque traz à luz do debate aberto uma nova realidade da mulher ocidental (e parte do oriente), que trata os prazeres sexuais da cama sem subterfúgios.

O romance, até abestalhado e enfadonho em algumas passagens, repleto de lobbyes sobre bebidas, carros, hotéis e outros, aborda as peripécias de um homem milionário (Christian Grey), sádico, espada, sem o menor escrúpulo, e uma estudante (Anastasia Steele) virgem que se mostra talentosa e aceita de maneira submissa o sadismo de Grey, até um paradoxo em sucesso editorial diante princípios adotados pelas mulheres contemporâneas da classe média, as quais admitem esse tipo de sadismo, porém, não de forma tão humilhante, quase medieval talibã.

O romance, em tese, seria, assim, o contraste de comportamento entre as mulheres do romantismo que adoravam a prática do sexo com anteriores agrados, carinhos, flores, camas ornadas com pétalas de rosas e champagne; e mulheres que adoram o inverso – argolas nos pulsos, chicotes, ataduras, surras, quartos vampirescos e assim por diante – na base do sexo brutal.

O livro não foi colocado à venda para discutir essas questões, menos ainda avaliar coisa alguma ou fazer contraponto do isto ou aquilo, o prazer romântico x o prazer selvagem. Trata-se da descrição pura e simples, cinematográfica, de cenas de masoquismo, sadismo e sexo brutal, segundo a autora e na voz da estudante Steele, prazeroso ao extremo e com múltiplos orgasmos.

A autora não traz à baila qualquer tipo de proposta contestatória do que deve ser melhor ou pior, simplesmente ela põe o bruto Gray, de 28 anos de idade, a transar com a estudante Steele de 21 anos, o qual se encanta, como nunca aconteceu com outras mulheres que praticara tais estripulias sádicas (segundo Grey justificado frente a abusos que teria sofrido quando adolescente, daí essa prática), e acaba proporcionando-lhe um romance a ponto de apresentar a jovem estudante a sua mamãe.

É claro que esse primeiro livro (só li o Cinquenta Tons de Cinza) já resultou num segundo volume (Cinquenta Tons Mais Escuros) e vem um terceiro a caminho, porque a roda do dinheiro é mecânica, tem que faturar enquanto é tempo, não tem fim previsível para a saga, dado que se trata de um produto comercial de alta aceitação como foi Harry Pooter, noutro segmento literário.

Se a autora vai ter fôlego para conseguir atrair os leitores (as) no conjunto da trilogia (o segundo volume, também é campeão de vendas, mas, menores do que a do primeiro volume) são outros quinhentos.

O certo é que o livro inicial de E.L. James despertou a atenção da mulherada provocando uma pororoca de vendas e enormes atrações, com cada qual dando sua opinião, muitas delas admitindo o jogo praticado por Grey, cada qual em sua atitude, sem necessariamente serem tão submissas como a estudante Steele, mas entendendo que a prática do sexo comporta outras formas além do tradicional “papai e mamãe”, e abraça modelos considerados menos hortodoxos e mais atléticos.

O tema não é novo e vem sendo tratado por diversos autores há décadas, muitos mais bem escritos do que “Cinqüenta Tons de Cinza”, alguns até clássicos na literatura francesa e alemã, cada qual tendo a devida repercussão de mídia na sociedade pertinente à sua época.

Se “O Amante de Lady Chatterley”, de DH Lawrence provocou sensações nas décadas de 1930/1950, o que se classificou até de “escândalo” com revelações e intensos debates sobre o comportamento da sociedade, o livro de EL James representa ser mais um produto comercial do que qualquer outra coisa, e está sendo aceito sem os arrepios que aconteciam no passado.

Não escandaliza personalidades da atual sociedade e a gente comum da classe média e existem aquelas que lêem para apimentar seus casamentos, outras por curiosidade, outras para, enfim, aderir às peripécias do sadomasoquismo e aquelas que lêem para receberem novas informações e exercitá-las quando oportuno.

É. Vale à pena conhecer o livro. Não lerei a trilogia completa e deixo aos leitores (ras) essa opção. Quase sempre segundo e terceiro livros em série são repetecos do primeiro com novos adoçamentos, aqui e acolá, mas nada que altere o conceito básico do primeiro volume da trilogia com suas experiências e acrobacias sexuais.