Cultura

GORDO SOFRE MAIS COM DEDADA QUE A GENTE NUNCA ESQUECE, p OTTO FREITAS

VIDE
| 20/08/2012 às 09:01
Doutor dedão causa trauma em qualquer paciente meu caro e gordinhos sofrem
Foto: DN
 

Assim como o soutien, a primeira dedada a gente nunca esquece. Todo homem tem sua história para contar, secreta ou não, sobre suas experiências com o toque retal para exame de próstata. Mas ninguém passou tanto aperto, literalmente, como Jeffinho.  Além de ser gordo - e gordo, como se sabe, sempre sofre mais -, pegou um doutor que o deixou traumatizado. 

Jeffinho pediu à secretária que marcasse o médico e foi para o exame no escuro, sem sequer checar direito suas credenciais. Ao entrar na sala do doutor, se sentiu diante de um altar cheio de castiçais, velas de sete dias e imagens de santo por todo lado. No som ambiente, o coral do Mosteiro de São Bento entoava cânticos beneditinos a pleno volume.  


O médico-beato era um sujeito grande, com um espalhafatoso crucifixo de prata pendurado no pescoço, sobre a gravata e o jaleco de linho branco bem passado. Parecia aquele gigante russo que, praticamente sozinho, acabou com a seleção brasileira de volei masculino nas Olimpíadas de Londres. Imagine o tamanho das mãos e dos dedos do homem!


Jeffinho suou frio; o dito cujo começar a piscar, repetidamente. Assim mesmo, tomou coragem e revelou a intenção de fazer seu primeiro exame preventivo de próstata. O doutor foi logo esclarecendo que esse procedimento deve ser feito por um urologista. Sem deixar Jeffinho falar, completou:


- Meu filho, eu sou proctologista, mas se veio a mim é porque o Senhor quis assim. Você agora é mais uma ovelha do meu rebanho e eu não abro mão das minhas ovelhas. Não se preocupe, meu filho. Vou examiná-lo, inclusive porque gordinho assim sempre tem algum problema no reto, uma inflamaçãozinha... Mas fique tranquilo, vou cuidar de você. 

 

@@@@@@

Na sala ao lado, o doutor mandou Jeffinho tirar as calças e as cuecas, deitar-se na maca e virar de lado, acomodando as banhas e o barrigão. Ou seja, posicionar-se de modo correto para o exame proctológico, em que o paciente fica meio de banda, com a bunda para cima. Para tocar a próstata, o urologista executa sua dedada com a vítima de barriga para cima mesmo, não tem cerimônia.

Não é por acaso, no entanto, que os dois especialistas, nas suas respectivas técnicas, usam o mesmo dedo, conhecido como maior-de-todos, conforme as usuais denominações dos dedos das mãos: dedo mindinho (mínimo), seu-vizinho (anelar), maior-de-todos (médio), fura-bolo (indicador) e cata-piolho (polegar).


Pior é que o doutor-beato devia ser sádico, pois quanto mais Jeffinho gritava e apertava o fiofó, mais o maluco encarcava fundo o dedão enorme, cutucando sem parar aquele traseiro gordo:


- Tenha calma, filho. Está vendo, é como eu disse: todo gordinho tem esse problema... Dói aqui?


Jeffinho saiu do consultório se sentindo com um abacaxi inteiro, com casca e tudo, enfiado no rabo. Passou dias na bacia, com a bunda na água quente.

Apesar do trauma, jamais deixou de fazer seu exame anual preventivo de próstata. Mas, por garantia, arranjou um urologista japonês, baixinho, magrelo, cujo maior-de-todos equivale a um dedo mindinho.


Melhor ainda: o japinha é o próprio The Flash, tem a dedada mais rápida e mais indolor de que se tem notícia, no ramo da uro-proctologia internacional. Nem bem o paciente arriou as cuecas e ele já acabou o exame. Acabou?!




* Otto Freitas (otto.freitas@terra.com.br), 59 anos, é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há quase 40 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.