Cultura

MINISTRA HOLLANDA ENTREGA PAINEIS RESTAURADOS DA MATRIZ DE CACHOEIRA

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| 27/07/2012 às 15:28
Dom Gregório Paixão recebe chave da ministra Ana de Hollanda
Foto: Roberto Abreu
 

Embevecidos. Este foi o sentimento que predominou entre as pessoas que participaram na manhã desta sexta-feira (27.07) da entrega, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, dos painéis de azulejos portugueses da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, restaurados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A entrega foi feita pela ministra da Cultura Ana de Hollanda, juntamente com o secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim, o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, o superintendente do órgão na Bahia, Carlos Amorim e o bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Gregório Paixão.


Um investimento de R$1,3 milhão para recuperar as 13 mil peças que formam o maior painel de azulejos fora de Portugal. Em seu discurso, a ministra cumprimentou toda a equipe que participou do processo de restauração, um trabalho que envolveu técnicos do IPHAN e também do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC). "Estou emocionada com a paixão das pessoas que se dedicaram a esse trabalho e transformaram esse painel num belíssimo patrimônio internacional", afirmou a ministra. Ela lembrou que Cachoeira foi a cidade brasileira com maior aporte de recursos do programa em todo o país, totalizando cerca de R$ 36 milhões até o término das ações. Depois da  Igreja a ministra fez a visita do Cine-Teatro Glória, que também foi recuperado pelo IPHAN.


"Este é um dia alegre para a cultura na Bahia", afirmou o secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim. Ele ressaltou a sensibilidade do IPHAN e do MinC em restaurar a Igreja do Rosário, uma obra ligada a cultura religiosa, e o Cine-teatro Glória, que está ligado a cultura laica. "São dois presentes que estão sendo dados a população da Bahia e do Brasil", avaliou.


Para o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, que detém o titulo de cidadão cachoeirano, este aporte de recurso federais demonstra que o governo reconhece a importância do patrimônio que se encontra em Cachoeira. Na ocasião foram anunciados investimentos de R$600 mil para a recuperação do Cemitério da Ordem Terceira. O superintende do IPHAN na Bahia, Carlos Amorim, conclamou a população local a cuidar do patrimônio que estava sendo entregue.


"Resultado excepcional, assim Dom Gregório Paixão classificou a recuperação do painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ele recebeu as chaves da igreja das mãos da ministra e afirmou que, em breve, a igreja volta a funcionar normalmente, com toda a sua liturgia.


Também participaram da cerimônia o secretário interino de Maio Ambiente do Estado, Adolfo Neto, o secretário de Cultura de Cachoeira, Lourival Trindade,o diretor do IPAC, Frederico Mendonça, a chefe de Gabinete da ministra, Maristela Rangel e o chefe interno da Representação Regional do Minc na Bahia, Ramon Rocha.



HISTÓRIA

Segundo os especialistas, os azulejos do interior da matriz são dos mais importantes existentes no país, com qualidade semelhante aos melhores que se produziam em Lisboa, tendo sido aplicados em 1750.  É o maior painel de azulejos portugueses fora de Portugal. São cerca de 13 mil peças, todas elas totalmente restauradas, concluindo um trabalho que teve início em 2003, a partir das ações do Programa Monumenta em Cachoeira.


As imagens representadas possuem um caráter pedagógico e disciplinatório e transmitem valores e preceitos ensinados pela Igreja. As representações nos painéis serviam como instrumento de catequização. Os azulejos que revestem as paredes da nave, a uma altura aproximada de cinco metros, apresentam grandes composições integrando-se com a arquitetura, completando os diversos elementos arquitetônicos, como portas, arcos, púlpitos, coro, etc.


Mais de 20  pessoas trabalharam na recuperação dos azulejos. O coordenador da equipe de restauração, Estácio Fernandes, estava emocionado com o resultado alcançado. "É uma realização", declarou.


O interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, é muito rico, integralmente revestido de azulejos historiados, com mais de 4m de altura. Forros em  abóbadas recobrem a nave e capelas: mor e do transepto. O forro da nave exibe pintura ilusionista e os da sacristia e coro, medalhões. A talha original se conserva na sacristia, tribunas e púlpitos. As demais são neo-clássicas. A igreja também abriga vários obras talhadas em pedra de lioz: escadaria do altar, lavabo com golfinhos, pia batismal e duas conchas de água benta. Seu rico acervo compreende ainda numerosas imagens, doze telas, muitas alfaias e um sacrário de prata.    


O revestimento da torre em azulejos formando zig-zag é encontrado ainda na Boa Viagem e na Stª Casa de Misericórdia, em Salvador; e no Conv. de S. Antônio, em S. Francisco do Conde. A pintura do forro da nave é tipo ilusionista italiano, muito difundida na Bahia na segunda metade do século XVIII. 



O PROCESSO

A restauração dos azulejos merece atenção especial. As 13 mil unidades dos painéis com cerca de cinco metros de altura foram retirados uma a uma e passaram por um minucioso processo de dessanilização. O processo, o primeiro realizado pelo IPHAN na Bahia, foi necessário porque os especialistas concluíram que o sal presente na alvenaria da Igreja estava comprometendo o vidrado das peças. Foram desenvolvidas, então, técnicas especiais como a fabricação de uma central para produzir água pura. Em uma espécie de banheira, os azulejos, divididos em grupos de 250 peças, ficavam submerso por cerca de 40 dias, período em que a água era trocada e analisada para medir o teor do sal.


Paralelo a esse trabalho, foram realizados testes nas paredes, já que não seria aconselhável retornar com os azulejos diretamente para a alvenaria. Assim, foram colocadas placas impermeabilizantes que passaram por diversos testes de carga para garantir a instalação dos painéis exatamente como foram montados há mais de 300 anos.



PATRIMÔNIO TOMBADO

Com uma área construída de 1653 metros quadrados, a Igreja Matriz integra o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Cachoeira, tombado pelo IPHAN sob o n° 049 do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. A cidade foi erigida a Monumento Nacional em 18/01/1971, através do Decreto Federal n° 68.045.


Dentro do antigo Programa Monumenta (MinC/IPHAN com financiamento BID e contrapartida do Tesouro estadual) Foram 51 imóveis dentre públicos e privados, entre eles a Igreja Matriz do Rosário, UFRB, Orla de Cachoeira. A coordenação e fiscalização da obra foi feita em parceria com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura da Bahia (IPAC).


Em 2007 o Programa Monumenta concluiu a primeira etapa de obras nesse Monumento, com a recuperação de toda parte civil (revestimento, pintura, cobertura instalações elétrica, luminotécnica, etc...) e também a restauração do Forro da Nave, do Forro sob o Coro, dos painéis de azulejo das Torres Sineiras, dos azulejos que formam o painel do relógio existente em uma das torres.



CINE GLÓRIA

Ainda em Cachoeira, a ministra da Cultura Ana de Hollanda fará uma visita ao Cine Teatro Glória, um dos primeiros do Brasil. Foi inaugurado no dia 12 de agosto de 1922 como o Cine Teatro Cachoeirano.


Por conta do estado precário de conservação, o prédio foi comprado em 2009 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O imóvel, construído em 1922, está localizado na Praça Teixeira de Freitas, e faz parte do sítio histórico de Cachoeira. Segundo o Iphan, será incorporado à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb), que oferece no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) o curso de cinema.