Cultura

CACHOEIRA: MINISTRA DA CULTURA ENTREGA PAINÉIS DA MATRIZ RESTAURADOS

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| 25/07/2012 às 14:00
Painéis de azulejos portugueses da I. Matriz de Nossa S. do Rosário da Cachoeira
Foto: ASCOM IPHAN
 

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, volta a Bahia com boas notícias para o patrimônio cultural do estado. Nesta sexta-feira (27.07), às 11h, a ministra entrega na cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, os painéis de azulejos portugueses da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, restaurados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Um investimento de R$1,3 milhão. Além da ministra, participam da cerimônia o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida e o superintendente do órgão na Bahia, Carlos Amorim. Na ocasião será celebrada uma missa pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Gregório Paixão. Depois ela volta para Salvador onde permanece durante o final de semana.


Segundo os especialistas, os azulejos do interior da matriz são dos mais importantes existentes no país, com qualidade semelhante aos melhores que se produziam em Lisboa, tendo sido aplicados em 1750.  É o maior painel de azulejos portugueses fora de Portugal. São cerca de 13 mil peças, todas elas totalmente restauradas, concluindo um trabalho que teve início em 2003, a partir das ações do Programa Monumenta em Cachoeira.


As imagens representadas possuem um caráter pedagógico e disciplinatório e transmitem valores e preceitos ensinados pela Igreja. As representações nos painéis serviam como instrumento de catequização. Os azulejos que revestem as paredes da nave, a uma altura aproximada de cinco metros, apresentam grandes composições integrando-se com a arquitetura, completando os diversos elementos arquitetônicos, como portas, arcos, púlpitos, coro, etc.


O interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, é muito rico, integralmente revestido de azulejos historiados, com mais de 4m de altura. Forros em  abóbadas recobrem a nave e capelas: mor e do transepto. O forro da nave exibe pintura ilusionista e os da sacristia e coro, medalhões. A talha original se conserva na sacristia, tribunas e púlpitos. As demais são neo-clássicas. A igreja também abriga vários obras talhadas em pedra de lioz: escadaria do altar, lavabo com golfinhos, pia batismal e duas conchas de água benta. Seu rico acervo compreende ainda numerosas imagens, doze telas, muitas alfaias e um sacrário de prata.    


O revestimento da torre em azulejos formando zig-zag é encontrado ainda na Boa Viagem e na Stª Casa de Misericórdia, em Salvador; e no Conv. de S. Antônio, em S. Francisco do Conde. A pintura do forro da nave é tipo ilusionista italiano, muito difundida na Bahia na segunda metade do século XVIII. 


O PROCESSO

A restauração dos azulejos merece atenção especial. As 13 mil unidades dos painéis com cerca de cinco metros de altura foram retirados uma a uma e passaram por um minucioso processo de dessanilização. O processo, o primeiro realizado pelo IPHAN na Bahia, foi necessário porque os especialistas concluíram que o sal presente na alvenaria da Igreja estava comprometendo o vidrado das peças. Foram desenvolvidas, então, técnicas especiais como a fabricação de uma central para produzir água pura. Em uma espécie de banheira, os azulejos, divididos em grupos de 250 peças, ficavam submerso por cerca de 40 dias, período em que a água era trocada e analisada para medir o teor do sal.


Paralelo a esse trabalho, foram realizados testes nas paredes, já que não seria aconselhável retornar com os azulejos diretamente para a alvenaria. Assim, foram colocadas placas impermeabilizantes que passaram por diversos testes de carga para garantir a instalação dos painéis exatamente como foram montados há mais de 300 anos.


PATRIMÔNIO TOMBADO

Com uma área construída de 1653 metros quadrados, a Igreja Matriz integra o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de Cachoeira, tombado pelo IPHAN sob o n° 049 do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. A cidade foi erigida a Monumento Nacional em 18/01/1971, através do Decreto Federal n° 68.045.


Dentro do antigo Programa Monumenta (MinC/IPHAN com financiamento BID e contrapartida do Tesouro estadual) Cachoeira foi a cidade brasileira com maior aporte de recursos do programa em todo o país, totalizando cerca de R$ 36 milhões até o término das ações. Foram 51 imóveis dentre públicos e privados, entre eles a Igreja Matriz do Rosário, UFRB, Orla de Cachoeira. A coordenação e fiscalização da obra foi feita em parceria com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura da Bahia (IPAC).


Em 2007 o Programa Monumenta concluiu a primeira etapa de obras nesse Monumento, com a recuperação de toda parte civil (revestimento, pintura, cobertura instalações elétrica, luminotécnica, etc...) e também a restauração do Forro da Nave, do Forro sob o Coro, dos painéis de azulejo das Torres Sineiras, dos azulejos que formam o painel do relógio existente em uma das torres.


CINE GLÓRIA

Ainda em Cachoeira, a ministra da Cultura Ana de Hollanda fará uma visita ao Cine Teatro Glória, um dos primeiros do Brasil. Foi inaugurado no dia 12 de agosto de 1923 como o Cine Teatro Cachoeirano.


Por conta do estado precário de conservação, o prédio foi comprado em 2009 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O imóvel, construído em 1922, está localizado na Praça Teixeira de Freitas, e faz parte do sítio histórico de Cachoeira. Segundo o Iphan, será incorporado à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb), que oferece no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) o curso de cinema.