Cultura

Assombrações do Recife, por Téta Barbosa. Lobisomem não está só

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| 09/07/2012 às 13:02
Tenho saudade das histórias de quando o que mais assombrava o recifense era a emparedada da Rua Nova ou a noiva do casarão de Apipucos. Mulheres/fantasmas solitárias, transparentes e misteriosas.

Lindas, porque assombrações estão invariavelmente desfocadas!

Muitas são as histórias que povoaram as mentes assombradas dos moradores da cidade do mangue: a encantada da praia do Pina, a sedutora da curva de Dois Unidos, a loira do elevador de Boa Viagem, a namorada do além de Casa Amarela, a menina do algodão, a freira do Hospital Osvaldo Cruz, o frade franciscano sem cabeça de Piedade.

Até o espectro de Frei Caneca já foi visto andando pelos corredores do Arquivo Público. Alguns fantasmas são tão famosos que, se vivos, andariam por aí a dar autógrafos e sorrir para fotos do Facebook.

O sociólogo Gilberto Freyre dedicou um livro inteiro aos assuntos sobrenaturais do Recife. Nele, além dos contos, Freyre cita os lugares assombrados.

Depois as histórias saíram do livro e viraram peça de teatro, curta metragem, série para televisão, conversa de mesa de bar, assunto de elevador, bloco de carnaval e história pra criança dormir (e provavelmente ter pesadelos).
Provando que, além de fantasmas, o povo gosta mesmo é de histórias.

Nos dias de hoje, as tramas fantasmagóricas foram substituídas por filmes hollywoodianos com seus vampiros, lobisomens e criaturas das trevas. Claro que estes são representados por artistas bonitos e bem pagos, bem diferentes das reais assombrações, se é que uma assombração pode ser real.

Mas os verdadeiros medos dos recifenses, e imagino que dos outros moradores das grandes capitais brasileiras, têm outros nomes. Eles não mais atendem por bicho papão, nem por fantasma, muito menos por mula sem cabeça. Não saem de cemitérios nem vestem roupas brancas, não arrastam correntes nem atravessam paredes.

Os verdadeiros medos se chamam trombadinhas, seqüestro-relâmpago, cartão de crédito clonado, jovens fazendo rachas, políticos corruptos, hipocrisia e, claro, baratas.

Ai, que saudade da noiva do casarão de Apipucos!

Saudade das lindas mulheres/espectro que conduziam suas vítimas para casarões mal assombrados só para assustá-las.

Bons tempos aqueles!


Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos (Blog do Noblat)