Cultura

CONFLITO EXISTENCIAL ENTRE O ANTE E PÓS-HIDROGINÁSTICA. p OTTO FREITAS

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| 26/06/2012 às 10:00
Hidroginástica: os prós e os contra para quem é gordo
Foto: DIV
  

  Gilberto Albuquerque, o famoso Giba, também conhecido como Cotonete, é aquele amigo de Jeffinho lá da Paraíba, rei da praia de Coruripe, nas Alagoas. Ele escreve semanalmente, com distribuição via e-mail, a coluna Original de Sábado, com divertidas crônicas de variedades, cultura, entretenimento, história e comportamento. Colaborador desta coluna, Giba é o autor da crônica que vai a seguir. É uma das Originais mais recentes e tem muito a ver com o espírito de Vida de Gordo:


   "Passados quatro meses de treinamento na hidroginástica, chegou a hora de fazer um balanço e aferir os resultados.


   A abertura de pernas agora está chegando a um palmo e quatro dedos, um dedo por mês. Estou em franca evolução. Abrir escala só depois de nadar até o Japão e voltar, de costas, daqui a uns 30 anos.


   Estou me sentindo muito bem e devidamente entrosado com a turma. O resultado do rema-rema está visível nos meus cabelos, que eram brancos e agora estão furta-cor, verde e amarelo, parecendo um periquito australiano.


   O gordinho continua parecido com uma lâmpada e já garantiu a renovação do seu contrato para interpretar o Sargento Garcia por mais três anos, na série O Zorro.  

O velhinho magro, aquele que se esconde na sombra de Marcos Maciel, deu uma parada. Precisou operar a próstata e aproveitou para fazer uma suspensão de culhões.


   O gozador também continua lá, sempre tirando e fazendo onda e me estimulando. A professora diz: ‘Mais rápido, turma!'; e ele ecoa: ‘Vamos lá, Cotonete!'.


   Por falar nisso, semana passada a professora veio com uma novidade. Jogou na piscina uns bastões com um flutuador branco em cada ponta e falou alto: ‘Todos peguem o cotonete'. Dei um pinote, sai zunindo, subi a borda mais rápido do que uma lagartixa com o rabo pegando fogo. Encostei-me na parede, punhos cerrados, parecia Rocky Lane.


   A professora viu aquela flecha passando e perguntou: ‘O que houve, seu Gilberto, por que essa euforia toda? Alguma morea beliscou seus parangolés? Deixe de trololó, pegue seu cotonete, volte para o seu lugar e vamos trabalhar os braços". Ufa! Só aí a ficha caiu...

                                       

@@@@@@

   A disposição que sinto para ir fazer a hidro (o ante) é inversamente proporcional à disposição física sentida depois do exercício (o pós). Tem sido uma disputa árdua e permanente. Um dia ganha o ante (aí dou uma gazeada na hidro); noutro vence o pós. Mas a cada dia o ante está se fortalecendo e se cercando de aliados poderosos.


    Uma dorzinha no dedinho do pé ali, um entravamento acolá, uma chuvinha fina, uma afta, um espirro, um calo e outros estão sendo assediados pelo ante para me desestimular a fazer os exercícios.


   Dia de sexta, o ante, esperto, oferece uma cerva gelada com queijo Prima Donna, um bom vídeo e assim vai corrompendo a disposição para a hidro. Já segredou que tem vários tipos de licença médica prontos, algumas de seis meses, renováveis por mais seis, em caso de necessidade.


   O pós só tem uma chance de virar o jogo: o próximo resultado dos exames clínicos. Se as taxas pelo menos se mantiverem, ele ganha fôlego até a próxima rodada. Já até ouvi um zum-zum-zum de que o ante está armando um banquete com doce de leite, brigadeiro, pudim, mariola, garapa e muita Original para o dia anterior à coleta de sangue. Vai detonar o pós, por recomendação médica.


   O lema do ante é: ‘Viva o ócio! Afinal, a baleia só bebe água, só come peixe, faz natação o dia inteiro e é gorda! Viva a batata frita e o chope'.


   Em tempo: quando comecei a hidro, tinha uns 14 pontos doloridos pelo corpo. Agora estou com 36. Daqui a um mês, só não vai doer a sunga".




* Otto Freitas (otto.freitas@terra.com.br), 59 anos, é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há quase 40 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.