Cultura

VIDA DE GORDO: JEFFINHO VAI DANÇAR FORRÓ COM SUA PAIXÃO,p OTTO FREITAS

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| 11/06/2012 às 09:01
Jeffinho vai para Ituaçu, a terra de Moraes Moreira, neste São João
Foto: ILS
   Jeffinho está agoniado, já engordou três quilos de tanta ansiedade. Ele arruma as malas para passar o São João em Ituaçu, terra de Gilberto Gil, Moraes Moreira e de Oscar, um velho amigo que amorosamente o conduziu pela mão, até aquele paraíso, onde o povo recebe com alegria e gentileza.

    Jeffinho vai rever os amigos de lá, como dona Tereza e sua família, generosa no acolhimento e nas refeições que serve aos seus hóspedes - os gordos, então, ficam empanturrados, de alma feliz!


    Dessa vez, a viagem para Ituaçu tem motivação especial, Jeffinho até comprou sua camisa xadrez para a festa: apaixonado, vai levar a namorada nova que abalou seu coração maduro. Romântico, não vê a hora de dançar um forró pé-de-serra verdadeiro, agarradinho com seu amor, contando ardentes balões-beijo, entre um quentão e outro, naquele friozinho gostoso do sudoeste, entre a Chapada Diamantina e o sertão.


    Quem foi que disse que gordo não pega ninguém? Dessa vez, parece que Jeffinho encontrou sua metade completa. Na sua visão, ela é inteligente e bem humorada; culta e educada; generosa, gentil, solidária e justa. É uma beleza morena natural, sem silicone, nem botox.

    Falsa magra sensual, suculenta e voluptuosa; reúne em um só corpo e na medida certa tudo que esse gordinho exigente gosta: nem grande, nem pequena, pernas torneadas, corpo delgado, quadril sem exagero, seios pequenos, bunda delicadamente ondulada. É praticamente perfeita, segundo a tradução do gordo.  


    Jeffinho está feliz da vida, ainda mais porque vai curtir a festa preferida ao lado da sua doce paixão, em um lugar do qual gosta muito, de gente boa e natureza belíssima. Seu amor pelo São João se revelou desde o primeiro licor roubado da mesa junina rica e farta da avó, na casa da Cidade Baixa, onde o fruto vinha do quintal e a bebida era servida em garrafas e cálices de cristal.


    Naquela mesa, forrada por toalha branca de linho, tinha bolo de milho, de aipim e carimã; milho cozido, amendoim e laranja de umbigo, que é a boa; frutas secas, canjica e pamonha de milho verde; e embora fosse um luxo, não faltava o queijo Palmyra, tipo reino, molhadinho, macio e bem amarelinho.


   Sempre choveu nesse período de festas juninas - Santo Antônio, São João e São Pedro. Foi nessa época que aprendeu a fazer bonecos de chuva recortados de jornal e pendurados no varal, para espantar o tempo feio. "Santa Clara, clareou/São Domingos alumiou/Vai a chuva, vem o sol/prá enxugar o meu lençol", cantava a criançada, pedindo que a noite fosse de céu aberto, estrelado, para refletir melhor a luz das fogueiras, a beleza dos balões e dos fogos coloridos.


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    Hal (Jack Black), personagem do filme O amor é cego, é hipnotizado e se apaixona por Rosemary (Gwynet Paltrow), uma obesa mórbida que aos seus olhos é quase uma deusa da beleza. Quando passa o efeito da hipnose, Hal, que toda a vida só se interessou por mulheres perfeitas, passa a valorizar a beleza interior em detrimento do físico - e decide ficar com a namorada gorda para sempre, casando-se com ela.


   Aos olhos de Jeffinho, sua namorada é tão bela que mais parece a mistura fina entre Angelina Jolie e Gisele Bundchen. Mas os amigos que já viram a moça garantem que Jeffinho também foi hipnotizado, assim como Hal.  


    Mas quem foi que disse que gordo só gosta de mulher magra? Bobo de paixão, Jeffinho anda prometendo se casar com a sua gordinha e viver feliz para sempre.

Não se sabe ainda se o efeito da hipnose já passou.





* Otto Freitas (otto.freitas@terra.com.br), 59 anos, é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há quase 40 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.