Cultura

CINEMA: O PORTO (LE HAVRE) E A IMIGRAÇÃO NA FRANÇA, POR DIOGO BERNI

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| 12/05/2012 às 09:23
Um europeu dá abrigo a um imigrante africano na Europa
Foto: DIV
   O Porto (Le Havre) do diretor Aki Kaurismäki protagonizado por André Wilms, 2012, França/ Alemanha/ Finlândia. A principal virtude do longa é a não-firulagem em seu roteiro, não perdendo a essência dos seus personagens por isso.

   Trata-se de um filme seco no que se diz respeito a puxar o tema da imigração à tona. Esse tema abordado através de um ex-mendigo e agora engraxate que resolve dar abrigo a um garoto africano que procura sua mãe em solo britânico, por isso ainda um pouco distante da sua genitora, já que a história se passa em uma cidade portuária em território gaulês.

   O filme é bom pelo simples e direto motivo de abordar a amizade não como um meio, mas sim como uma finalidade, uma escolha, e sem nenhum ato de troco pelo gesto, que passa além da situação do pouco dinheiro, a de uma grave doença de sua esposa.

   Pois bem, apesar disso tudo o tal ex-mendigo que já foi um ex-escritor também encontra "coração" para ajudar a um menino que é pego em um contêiner viajando ilegalmente e por isso tendo de fugir das autoridades policias e conseguir o dinheiro necessário para encontrar sua mãe em Londres.

   Isso tudo não seria possível se o ex-mendigo não o "adotasse" durante algumas semanas. Já vi alguns filmes franceses e particularmente gosto da escola francesa e o jeito que eles têm em elaborar os seus enredos. 

   Porém esse filme de certa maneira foi um dos contemporâneos mais essencialmente "franceses"  que assisti pelos três seguintes motivos: Primeiro: O ato de ajudar as pessoas, fato que queiramos admitir ou não, eles curtem fazer isso.

   Segundo: O prazer que eles têm em driblar regras preestabelecidas; e Terceiro: A forma singular e burocrática que eles conseguem fazer isso, até que com um certo glamour em ser rebelde.

   Em especial, O Porto tem a história da ajuda de pessoas pobres para imigrantes mais pobres ainda, dando-se a entender sobre um povo humano por esse aspecto. Aliás, para a França e para o mundo, pois é um país referência no quesito  de direitos humanos foi muito bom o partido socialista ter ganho as eleições por lá neste domingo. Acredito que o tema da imigração será discutido com mais carinho de agora em diante.   
  
   Medo e Delírio, dirigido por Terry Gilliam, com Johnny Depp, Benicio Del Toro, Tobey Maguire, EUA, 1988. Ser enviado para cobrir uma corrida automobilística em plenos anos 60 em Las Vegas já é por si só uma missão insana, agora junte essa missão a um jornalista e um advogado doidões adeptos a todos os tipos de drogas.

   Isso deu e só poderia dar mesmo em insanas cenas alucinógenas, onde roteiro, fotografia e atuação de personagens ficam em segundo plano. A ideia principal plantada do filme é a da transgressão. E isso com a ajuda do Wikipédia fica comprovado com as inúmeras entrevistas que o diretor concebe para explicar a sua obra.
 
    Explicar, pois realmente necessita por se tratar de uma película desnudada de valores morais e já por isso só de difícil compreensão, visto que o principal objetivo do filme é entender pessoas que estejam sob efeitos de drogas: como elas agem, pensam, interpretam os outros, situações, etc.

   Com a tutela de averiguar as percepções de uma pessoa quimicamente alterada a obra mergulha nesse tema de maneira literal mostrando e desmitificando certas teorias de que drogas ilícitas só fazem mal.

   O filme se propõe a averiguação dos sintomas e sensações em que uma pessoa psica e quimicamente alterada tende a ser mais perspicaz em relação a tudo e a todos mostrando um outro lado da moeda onde cada um reage de sua maneira em relação a cada tipo de droga que está sendo usada.

   Pode ser de uma forma boa ou uma ruim dependendo da situação e logicamente da pessoa ou seu estado de humor e espírito para a tal experiência. O filme não tem enredo mesmo além do qual já comentei que é uma cobertura jornalística que vira um final de semana de experiências em Vegas na era do sexo, drogas e Rock.  

   Experiências essas somente com drogas de todos os gêneros e graus de potência, ou em outras letras: eles mergulham e colocam o pé na jaca literal e engraçadamente. Uma obra com um olhar diferente do tema das drogas mostrando que percepção e rabo tem algo em comum: cada um tem o seu (a).    

   Réquiem para um sonho ou ''A Vida Não É um Sonho'‘, do Darren Aronofsky , EUA, 2000;foi uma das coisas mais humanas que vi. Não tem como amar e odiar esse filme.

   Este por sinal muito bem feito independentemente do tema escolhido (degradação humana) com ótimas passadas de cenas e viscerais imagens como o abrir de uma torneira ou o consumo de heroína com captação de imagens super focadas, ou seja: amplia-se e isola-se a determinada ação do consumo ou o abrir da torneira, de modo que só apareça à cena e de uma maneira que dá mais altivez a cena que é o recurso de mostrar a cena do final pro fim, de trás pra frente juntamente com o super zoom.

   Quando escrevo que foi uma das coisas mais chocantes que assisti é porque conta histórias de vidas comuns tomadas pela solidão ou perdas, sejam essas principalmente emocionais. Existem quatro personagens no filme que são: Uma Mãe solitária, viciada em TV e viúva, e o seu filho único: um viciado em heroína.
 
   Na história da mãe, temos um caso típico de mulher velha solitária, onde esta toma um trote via telefone para participar de um famoso programa de TV. Com isso ela se prepara para a ocasião querendo perder 23 quilos em um curto período de tempo e sem malhar. Ela acha a solução: Vai ao médico e começa a se entupir de pílulas para emagrecer.

   O resultado dela é o mais catastrófico de todos os quatro personagens do filme, por isso mesmo comecei com ela pra livrar-me de uma vez só: Ela acaba ficando louca de tanto remédio que toma. A cena dela tomando choque elétrico na cabeça acaba sendo a mais visceral de todas.
 
   Com a mãe louca, nesse percurso até que ela fique de fato insana seu filho conhece uma bela garota em que se apaixona e vão morar juntos.

   Ela viciada também em heroína acaba se prostituindo para sustentar o seu vicio pois o marido que inicialmente se dá bem como traficante no final perde a parada pros outros, a mina e o seu braço também de tanto injetar a droga em um único ponto. Outra cena fortíssima essa do braço do filho da mãe louca sendo amputado.

   O fato de ele insistir em se drogar no mesmo lugar mostra uma certa automutilação do personagem pelo fato de nunca ter tido pai ou não ter conseguido sustentar a sua namorada .

   O quarto personagem é um negro que desde garoto tem a pretensão de ter uma vida melhor, ou um tênis melhor, etc. Ele também viciado com a droga dos deuses e orgasmos, a Heroína, se joga no mundo a fim de ficar doidão e rico vendendo a mercadoria.

    Ver um filme de tamanho gabarito e escrever que em momento algum a heroína parecesse desinteressante realmente soaria como uma baita mentira de minha parte, também pelo fato da carga explosiva que a droga injeta nos personagens, porém essa vontade fica pronta e decididamente anulada tamanho os problemas que ela acarreta a posteriori, ou seja, depois de conversar com Deus e a ter orgasmos múltiplos.

   Trata-se de um filme super bem feito, muito forte e cativante, pois mostra o lado nú do ser humano desprovido de vaidades e aclamado por suas fraquezas, realmente um filmaço que pode até te deixar um bagaço, mas que no final das contas vale muito ser visto.